Quem é diagnosticado com HIV deve se testar para tuberculose o quanto antes.  E, em caso de resultado negativo, a pessoa soropositiva precisa fazer o teste anualmente. “Essa é a regra”, enfatiza Vera Galesi, coordenadora do Programa Estadual de Controle da Tuberculose de São Paulo. Para ela, há uma descrença no meio médico sobre a prevenção da tuberculose, o que tem causado o aumento dos números da coinfecção.

O evento Roda Viva Coinfecção Tuberculose/HIV, que aconteceu no dia 25 de maio, teve como objetivo enfatizar a cooperação, divulgação e implementação das ações colaborativas para controle da coinfecção. Além de Vera, estiveram presentes, Aglaé Neri Gambirasio, Diretora Instituto Clemente Ferreira, Leda Jamal, do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo, o coordenador-adjunto do Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo, Robinson Camargo e Mariângela Brito, do Programa Municipal de Controle da Tuberculose de São Paulo.

Em 2006, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou Atividades Colaborativas sobre Tuberculose – HIV com o objetivo de diminuir a carga das doenças em populações vulneráveis. O Brasil tem 34% das coinfecções por HIV e tuberculose do mundo. São 70 mil casos por ano.

Sobre as outras formas de tuberculose, 82% dos casos diagnosticados na cidade de São Paulo foram do tipo pulmonar, mas Vera reforça que a doença pode atingir qualquer órgão. Apesar de os números da tuberculose extrapulmonar estarem estacionados, os índices da forma pulmonar da infecção continuam a subir no estado.

Mariângela afirma que o Programa Municipal de Tuberculose está alinhando as diretrizes. Para ela, um dos entraves é que muito diagnóstico ainda é feito a nível de urgência e emergência e, “por isso, é importante que se intensifique a busca ativa, para que as pessoas infectadas possam iniciar o tratamento o quanto antes.”

Além disso, a adesão ao tratamento é um gargalo. Pois, como o processo dura seis meses, o abandono é muito frequente. “A pessoa sente uma melhora e acredita que não precisa mais fazer uso do medicamento”, explica Mariângela. Outro fator observado pelos especialistas, é o de que tratamentos diretamente observados por um profissional de saúde surtem mais efeito.

Como prevenir

As pessoas mais vulneráveis ainda são aquelas que estão em situação de rua. Por isso, Mariângela reforça que a cidade de São Paulo tem investido em consultórios na rua.

Vera afirma que 14% das pessoas infectadas por HIV tinham indicação para realizar a profilaxia para a tuberculose, mas apenas 45% voltaram para se proteger.

O desafio fica ainda maior quando se percebeu que a taxa de abandono de pessoas HIV positivo é maior do que a de soronegativos. “A pessoas vão parar no hospital com caso grave de tuberculose e lá se descobrem com HIV”, esclarece Vera. A taxa de reincidência na infecção também é alta. 14% dos soropositivos se infectaram mais de uma vez.

“O sucateamento do SUS não é só material”

Robinson ressaltou que as unidades de saúde têm perdido profissionais capacitados a fazer o teste tuberculínico (PPD). “Eles estão se aposentando e o quadro não está sendo reposto. O sucateamento do SUS não é só material”, afirma . O PPD se trata de um exame de triagem padrão para identificar a presença de infecção pela Mycobacterium tuberculosis. É um procedimento delicado por onde uma pequena injeção contendo proteínas derivadas da bactéria é colocada debaixo da pele, devendo ser avaliado e interpretado preferencialmente por um pneumologista para que possa ser feito o diagnóstico correto.

Para Robinson, a falta de PPD que assolou o sistema de saúde em 2014 foi extremamente prejudicial. “Criou-se a crença entre os próprios profissionais de saúde, de que o teste está sempre em falta.” Mariângela defende que o insumo está disponível e que outros profissionais começaram a ser capacitados para realizar o teste.

Leda ressalta, ainda, a ausência de projetos voltados à coinfecção. E aproveitou para solicitar ao estado e município que incluam esta pauta nos editais. Nesse sentindo, Veloso também enfatizou a importância de encontros como este, uma vez que se tratam de “espaços legítimos de debate e tomadas de ideias”.