07/10/2014 – 20h

A Gilead Sciences, Inc., empresa biofarmacêutica norte-americana com operações no mundo todo, anunciou hoje, em coletiva de imprensa, a inauguração da filial Gilead Sciences Farmacêutica do Brasil Ltda, em São Paulo. O novo escritório será gerenciado por Norton Oliveira, executivo da área farmacêutica com atuação no Brasil e outros mercados latino-americanos. Oliveira apresentou o vice-presidente executivo da farmacêutica, Gregg Alton, que veio especialmente para o evento.

Alton elogiou o Sistema Único de Saúde (SUS), destacando que ele é modelo para outros países. “O Brasil é líder internacional em saúde. O trabalho que desenvolveu com HIV/aids é maravilhoso, sem precedentes no mundo”, disse o executivo.

O executivo fez um histórico da Gilead no mundo e contou que a empresa se dedica à pesquisa de HIV desde 1992 e de hepatite C desde 1997.

Inicialmente, a filial da Gilead em São Paulo terá como foco o fornecimento dos tratamentos para hepatites virais, HIV e câncer. A empresa anunciou que continuará fornecendo seus medicamentos em outras áreas, por meio de seus parceiros de distribuição regionais.

“Nossa presença em São Paulo nos permitirá entender as necessidades dos médicos e dos pacientes e atender melhor as suas necessidades”, disse Norton Oliveira. “Estamos especialmente ansiosos para iniciar o trabalho de ajuda no combate à epidemia de hepatite C no Brasil, por meio de opções novas de tratamento, potencialmente mais eficazes.”

O remédio ao qual Oliveira se refere, o Sofosbuvir, está sendo analisado para aprovação pelas autoridades regulatórias brasileiras há cerca de um mês. Segundo os dois executivos, o índice de cura proporcionado por ele é de mais de 90%, contra 50% do atual oferecido no Brasil, onde há cerca de três milhões de pessoas com o vírus da hepatite C.

O tratamento com o novo medicamento dura doze semanas, contra 24 a 48 do atual. Além disso, eles explicaram, para alguns pacientes, não será necessária a terapia combinada com o remédio interferon, considerado bastante tóxico.

Com relação ao custo, objeto de polêmicas por ser muito elevado, os executivos explicaram que querem formatar preços de acordo com Produto Interno Bruto (PIB) do país. “Existem preços diferentes para cada situação onde atuamos”, contou Alton.

Estima-se que cerca de três milhões de pessoas no Brasil estão cronicamente infectadas com o vírus da hepatite C (VHC).

Durante a coletiva, a Agência de Notícias da Aids fez as seguintes perguntas a Gregg Alton e Norton Oliveira:


Agência de Notícias da Aids:
O Brasil constituiu um Sistema Único de Saúde desde 1988. A Gilead existe há 27 anos. Por que demorou 2para chegar em nosso país, uma vez que somos referência no tratamento do HIV e temos um olhar mais humanizado para a saúde como um todo, se formos pensar em América Latina e no resto do mundo?

Gregg Alton: A Gilead veio para o Brasil, desde a primeira vez, em 2003, que foi logo após a aprovação do Viread aqui. Nós estamos trabalhando com o sistema de saúde há dez anos, fornecendo terapias para HIV e hepatite. Esta é a primeira vez que abrimos um escritório no Brasil, mas já estamos comprometidos com o país há um bom tempo. E a razão disso é que, à medida que crescemos como empresa, sentimos a necessidade de estar mais próximos daqueles que precisam do nosso apoio e de instituições com as quais temos parceria.

Agência de Notícias da Aids: A Gilead tem, ao menos, ideia de preço para o Sofosbuvir? Soubemos que vocês ofereceram para Portugal preço diferente do que ofereceram para outros países, levando em conta essa intenção de ampliar o tratamento. A impressão que temos da indústria é que ela sempre esteve preocupada com o lucro em detrimento das pessoas, independentemente da patologia. Vocês vêm com discurso novo, tentando fazer uma adaptação de preços de medicamentos de ponta para pacientes que precisam. Que lógica vêm discutir dentro de um olhar de que a indústria sempre visou lucro?

Gregg Alton: Nosso objetivo é fazer com que o paciente tenha acesso à ciência que nós desenvolvemos. Nosso primeiro objetivo é o paciente . Nós temos um bom negócio, realmente, mas focamos no paciente e deixamos o negócio andar sozinho. A nossa filosofia é fazer os preços irem de encontro às necessidades de cada país. Como disse antes, nós já estamos trabalhando no Brasil há algum tempo e temos uma ótima relação com o sistema de saúde, com os médicos. Então, a experiência que temos é a de um excelente diálogo com o Ministério da Saúde e o preço que queremos praticar é aquele que permita que o sistema de saúde possa atender os pacientes. E essa é a política que temos mundialmente, uma gama variada de preços, porque em cada país vai ser diferente, dependendo do fardo da doença, dos diferentes genótipos, nós temos seis genótipos diferentes. Nós queremos ir além de simplesmente fornecer o medicamento, queremos ser um parceiro no Brasil, fazendo testes clínicos, apoiando instituições, ajudando a construir um acesso melhor ao tratamento.

Norton Oliveira: Pensando na nossa situação, é a coisa certa a fazer. Eu estou bastante feliz e impressionado em poder trabalhar em um projeto que combina o que há de melhor, de ponta, de inovação, trazendo produtos fantásticos com tecnologias de simplificação adequadas às capacidades dos países. Todos vão poder consumir e pagar pelo tratamento. Isso realmente é novo. A gente ainda não fechou a negociação com o Ministério da Saúde. No momento em que o produto for aprovado, então teremos aí um registro, um novo protocolo clínico terapêutico, o que significará que o produto foi aprovado. Aí, sim, poderá ser estabelecido o preço do Brasil para o governo. O que eu posso dizer é que as nossas conversas têm sido em oferecer um custo bem mais baixo do que aquele que já está disponível para o tratamento atual aqui. Acho que a gente pode ter a chance de escrever uma história diferente no Brasil.

Dica de entrevista:
Ana Carolina Carbonieri
Consultant
Tel.: (11) 2667.8400

Redação da Agência de Notícias da Aids