A epidemia da aids pode chegar ao fim até 2030 se os países e lideranças fizerem uma escolha política e financeira. Esta é a conclusão do novo relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), divulgado na última semana.

O levantamento expõe dados e estudos de casos sobre a situação da doença no mundo atualmente. Também aponta quais os caminhos para acabar com a epidemia de aids nesse período. Segundo a entidade, essa meta ajudará o planeta a estar bem preparado para enfrentar futuras pandemias e a avançar no progresso em direção à conquista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

O relatório destaca ainda que as respostas ao HIV têm sucesso quando estão baseadas em uma forte liderança política. “O fim da Aids é uma oportunidade para as lideranças de hoje deixarem um legado extraordinariamente poderoso para o futuro”, defendeu Winnie Byanyima, Diretora Executiva do Unaids. “Essas lideranças podem ser lembradas pelas gerações futuras como aquelas que puseram fim à pandemia mais mortal do mundo”.

De acordo com o Unaids, isso significa respeitar a ciência, dados e evidências; enfrentar as desigualdades que impedem o progresso na resposta ao HIV e outras pandemias; fortalecer as comunidades e as organizações da sociedade civil em seu papel vital na resposta; e garantir financiamento suficiente e sustentável.

Metas 95-95-95

Países como Botsuana, Essuatíni, Ruanda, a República Unida da Tanzânia e Zimbábue já alcançaram as metas “95-95-95”, o que significa 95% das pessoas que vivem com HIV conhecem seu status sorológico; 95% das pessoas que sabem que vivem com HIV estão em tratamento antirretroviral, que salva vidas; e 95% das pessoas em tratamento estão com a carga viral suprimida.

Outros 16 países, oito dos quais na África subsaariana, região que representa 65% de todas as pessoas vivendo com HIV, também estão próximos de alcançar essas metas.

No Brasil

O Brasil, por sua vez, também está no caminho de atingir, respectivamente, 88-83-95. Mas o país ainda enfrenta obstáculos, causados especialmente pelas desigualdades sociais, que impedem que pessoas e grupos em situação de vulnerabilidade tenham acesso aos recursos de prevenção e tratamento do HIV que salvam vidas.

No lançamento do relatório, Winnie Byanyima falou sobre a resposta brasileira e as inequidades. “No Brasil, nos últimos dez, doze anos, as novas infecções têm diminuído. As mortes têm diminuído. Mas quando nos concentramos em diferentes grupos, descobrimos uma história chocante: nos últimos dez, doze anos, as novas infecções entre os brancos diminuíram 12%. Mas as novas infecções entre os negros brasileiros aumentaram 13%. Portanto, até olharmos para diferentes grupos de pessoas e fecharmos as lacunas para eles, as médias não nos dizem a verdade.”

No entanto, Winnie destacou que o país está no caminho para alcançar as metas. “Peço desculpas, faltou uma parte que tenho que dizer. Quando mencionei o exemplo chocante do Brasil, devia ter contado a boa notícia, de que o Brasil criou um Ministério para tratar das desigualdades raciais. O Brasil criou um Ministério para os Direitos Humanos e a democracia, com um ministro responsável pelos direitos LGBTQ. O Brasil declarou-se um porto seguro para aqueles que são perseguidos pela sua identidade sexual ou orientação sexual. As pessoas LGBTQ são bem-vindas a viver no Brasil como refugiados de onde quer que estejam a fugir. Sim. Portanto, queria mostrar que o Brasil está no caminho, mas reconhecendo as desigualdades e enfrentando-as.”

Números da aids no mundo

O número de novas infecções pelo HIV no mundo caiu 59% desde o pico, em 1995. Em 2022, foram registrados cerca de 1,3 milhão de casos, em comparação com 3,2 milhões naquele ano. Desde 2010, a infecção diminuiu 38%, passando de 2,1 milhões para 1,3 milhão, no ano passado. Os casos em crianças apresentaram queda de 58%, de 310 mil em 2010 para 130 mil em 2022.

Mesmo assim, no ano passado, a cada minuto, uma pessoa morreu em decorrência da Aids. Na América Latina, o número de mortes diminuiu 32% desde 2010, mas o indíce anual de novas infecções aumentou 8%. Ao menos dez países latino-americanos registraram aumento de casos nos últimos 12 anos.

Cerca de 9,2 milhões de pessoas ainda não têm acesso ao tratamento, incluindo 660 mil crianças vivendo com HIV. Mulheres e meninas ainda são desproporcionalmente afetadas, especialmente na África subsaariana.

Redação da Agência de Notícias da Aids