Nessa quarta-feira (30), véspera do Dia Mundial de Luta Contra a Aids, aconteceu o terceiro debate do Webinário ‘‘2023: Os desafios do Brasil no Combate ao HIV’’, promovido pela Agência Aids. Convidados ativistas da causa da aids: Valdiléa Veloso; Marta Mc Britton; e Robinson Camargo, refletiram sobre como o país vem se posicionamento quando o tema é prevenção ao HIV e discutiram as novas tecnologias que estão surgindo, com destaque para a PrEP de longa duração.

A mediadora da conversa foi a jornalista e produtora do PodH da Agência Aids, Filomena Salemme.

A infectologista Valdiléa Veloso, doutora em saúde pública e pesquisadora titular da Fiocruz, celebrou a extensa gama de opções que temos hoje de prevenção e destacou que avançamos, especialmente, em PrEP.

A pesquisadora defende a PrEP enquanto política pública e chamou atenção para o fato de populações específicas ainda enfrentarem inúmeras dificuldades para acessá-la. Valdiléa afirma que estas populações precisam manter a adesão ao tratamento.

‘‘Precisamos encontrar formas aproximar essas populações e traçar atividades que facilitem a adesão e aumentem a vinculação das pessoas à PrEP’’, propôs.

Em seguida, ela falou acerca das novas formulações farmacológicas de PrEP que estão surgindo, e com muito otimismo afirmou que as novas versões chegam como prováveis inibidoras de impactos nas populações mais vulnerabilizados e expostas ao vírus.

“Se tem muita esperança que estas tecnologias de longa duração possam preencher essa lacuna para as pessoas mais vulneráveis, que tem mais dificuldades de adesão, para que elas possam ter opções, e com isso utilizem a tecnologia de PrEP mais apropriadas para elas. A maior parte das pessoas usam muito bem a PrEP oral, mas outras esquecem, se desinteressam… então acreditamos que a PrEP de longa duração possa ajudar nesse sentido e contribuir para o controle da epidemia no país”, disse.

Testagem na rua

A jornalista Filomena Salemme questionou se Marta Mc Britton, gestora de projetos sociais, presidente e coordenadora de projetos do Instituto Cultural Barong, já observou nas ações da ONG, (como o trabalho itinerante que oferta atendimento em van automotiva) receio por parte das pessoas em testar, por temer o resultado, bem medo de ingressar à terapia antirretroviral.

Marta explicou que os agentes de saúde do Barong utilizam-se de algumas estratégias para atrair o público alvo, uma delas é a própria caraterização da van.

“A nossa van é muito colorida, em nenhum momento parece uma ambulância ou um serviço de saúde; a gente procura trabalhar fora dos horários convencionais dos serviços de saúde; fazemos mapeamento de campo”, explicou

Ela complementou dizendo que a abordagem dinâmica, humanizada e com linguagem de pares realizada pela equipe também é tática de sucesso e quebra barreiras.

Pandemias cruzadas

Os convidados também debateram a questão da pandemia de covid-19 e como potencialmente ela pode retardado ainda mais a discussão sobre sexualidade que sofreu retrocessos nos últimos quatro anos.  Compreendem que a pandemia contribuiu para o esquecimento da pauta da aids na grande mídia e, segundo eles, atravessamos um momento ultraconservador e marcado por retrocessos na agenda da saúde sexual e reprodutiva.

Marta Mc Britton aproveitou o gancho para criticar a falta de conhecimento acerca do HIV/aids por parte inclusive de profissionais e gestores de saúde, e a reprodução de termos que já caíram em desuso.

“Recentemente fui para a região norte e ouvi de secretário saúde a palavra aidético”, comentou em tom de indignação.

“Estamos vivendo um Brasil dicotômico, precisamos retomar o trabalho de base. E não ter mais o movimentou de aids fortalecido, significa um grande risco”, completou.

Desmonte da educação

Robinson Camargo, coordenador-adjunto da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo, entende que isso é reflexo do desmonte e sucateamento da educação brasileira. “Não acho que é descaso, existe um projeto de desmonte da educação”, disse.

Marta concordou e complementou: “A mão de obra barata interessa muita gente”.

Na live, Robinson compartilhou um pouco do que é ofertado na cidade de São Paulo no que se refere a comunicação da doença, bem como os insumos de prevenção ao HIV/aids.

De acordo com o coordenador, hoje a capital paulistana conta com um serviço robusto. PEP; PrEP; preservativos, entre outros insumos estão à disposição. Para além, o programa é parceiro de diferentes ONGs e coletivos.

A população paulistana pode acessá-lo de forma gratuita, pois todos estes serviços são contemplados pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Entretanto, ele relembrou a necessidade de estar diariamente reforçando a comunicação acerca dos métodos de prevenção e tratamento do HIV e aids.

As demais debatedoras concordam e apontam que, apesar de muitos avanços após 40 anos de epidemia da aids, enquanto sociedade, ainda temos muitos desafios pelo caminho para galgar.

Os convidados entendem que no Brasil falta vontade política em solucionar as principais demandas da epidemia e sobra negligência por parte das gestões, mas enxergam que é possível reverter o cenário, pois está surgindo um momento divisor de águas e novas oportunidades de mudar os rumos da resposta brasileira ao HIV e à aids.

O Webinário é uma iniciativa da Agência Aids e contou com o apoio do Senac São Paulo e das farmacêuticas GSK e da Janssen.

 Assista o debate completo:

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)