No dia 22, o Ministério da Saúde promoveu um webinar da série “Diálogos em Prevenção do HIV” com foco nas vulnerabilidades da população negra em relação ao HIV e à aids. O evento reuniu gestores, profissionais de saúde, e integrantes da sociedade civil para debater estratégias de inclusão da dimensão racial nas políticas de saúde pública voltadas à prevenção e tratamento dessas epidemias.

O diretor substituto do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi), Artur Kalichman, destacou a importância de considerar as desigualdades sociais que afetam a população negra no enfrentamento da epidemia. “O Brasil, pela sua formação social, é marcado pela interseccionalidade de desigualdades baseadas em raça e classe, o que reforça vulnerabilidades”, explicou Kalichman, reiterando a necessidade de políticas que abordem essas realidades para alcançar as metas de eliminação da aids.

Protagonismo negro no enfrentamento das desigualdades em saúde

Lucas Melo, professor da Universidade de São Paulo e secretário nacional da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids (RNP+ Brasil), apresentou a palestra “A transformação negra da epidemia de HIV e aids e as desigualdades de saúde: é possível superar?”. Ele destacou o papel histórico dos movimentos sociais negros na luta contra as iniquidades de saúde e alertou para a persistência de desigualdades raciais que afetam, de forma grave, grupos racializados no Brasil e em outras regiões, especialmente no sul global.

O professor também ressaltou a importância da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, afirmando que o racismo estrutural ainda dificulta sua implementação efetiva. Para ele, é fundamental que as respostas ao HIV sejam construídas coletivamente e com base nos Direitos Humanos. “É preciso pensar para além das questões biomédicas”, reforçou Melo.

Planejamento e monitoramento de políticas com perspectiva racial

Outro ponto abordado foi o planejamento e o monitoramento das políticas de HIV e aids para a população negra, tema da palestra de Marly Cruz, professora do Departamento de Endemias Samuel Pessoa. Ela enfatizou a importância de utilizar recursos de maneira estratégica e de alinhar o planejamento às necessidades da população alvo. “Precisamos aproximar o planejamento das necessidades das pessoas que irão se beneficiar das políticas”, afirmou.

A professora destacou o trabalho da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente na produção de boletins epidemiológicos específicos para a população negra, publicados em 2023. Segundo Cruz, iniciativas como essas fortalecem as ações antirracistas e facilitam o acompanhamento de indicadores de saúde para essa população, além de permitir uma abordagem mais interseccional no monitoramento das políticas.

Avaliação de impacto e inclusão da dimensão racial nas políticas de saúde

O professor Cristiano Rodrigues, da Universidade Federal de Minas Gerais, abordou a importância de avaliar o impacto das políticas de saúde com foco na população negra. Ele salientou que, ao desenhar políticas de saúde, é fundamental considerar como indicadores e vulnerabilidades sociais se interseccionam com raça e cor no acesso aos serviços de saúde. “Precisamos considerar esses aspectos para garantir que as políticas de HIV e aids atendam, de fato, as necessidades da população negra”, afirmou Rodrigues.

O webinar reforçou a necessidade de políticas públicas que compreendam as dimensões do racismo e as realidades da população negra no Brasil, com o objetivo de eliminar barreiras de acesso e promover ações inclusivas e interseccionais para o enfrentamento da epidemia de HIV e aids.

Redação da Agência Aids com informações do Dathi