Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a Agência de Notícias da Aids abriu espaço para que os ativistas do movimento negro e de luta contra aids compartilhassem suas histórias, vivências e a arte. Por meio de vídeos e poesias Flip Couto, do Coletivo Amem, Lázaro Silva, da Rede de Jovens Vivendo com HIV/Aids no Rio de Janeiro e Priscila Obaci, poetisa e arte-educadora, compartilham suas lutas, mensagens e desabafos. Eles fazem ações de prevenção e conscientização sobre saúde sexual para a população de pretos e pardos.

Embora comemorada há mais de 30 anos por ativistas do movimento negro, o Dia da Consciência Negra só foi oficializado em 2011, pela Lei 12.519, como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. O 20 de novembro marca a importância das discussões e ações para combater o racismo e a desigualdade social no país. Fala também sobre avanços na luta do povo negro e a celebração da cultura afro-brasileira.

A história dos negros no Brasil é marcada por lutas constantes contra a discriminação que coloca essa população em vulnerabilidade social e econômica. No caso do HIV/aids, os negros respondem por estatísticas preocupantes, por exemplo, em relação a mortes em consequência da doença.

Segundo dados do boletim epidemiológico de aids de 2020, a taxa de mortalidade por aids, no geral, registrou queda: índice de 17,1% nos últimos cinco anos. Apesar disso, chegou a 10.565 o número de pessoas que morreram em decorrência da doença ano passado, no Brasil (12.667 óbitos em 2015). No recorte racial, as mortes notificadas no ano de 2019 atingem majoritariamente pessoas negras: 61,7%, (47,2% pardos e 14,5% pretos), com 37,7% de mortes entre brancos, 0,3% entre amarelos e 0,3% entre indígenas.

As mais afetadas, entretanto, são as mulheres negras: 62,1% morreram, ao passo que, entre homens negros, o índice ficou em 61,4%. Na comparação entre os anos de 2009 e 2019, por sinal, verificou-se queda de 21% na proporção de óbitos de pessoas brancas e crescimento de 19,3% na proporção de óbitos de pessoas negras, conclui o boletim.

Conheça a seguir o perfil dos ativistas:

 

Priscila Obaci

Priscila é artista e educadora. Mãe de Melik Rudá e Bakari Mairê. Transita entre teatro, dança e poesia. Formada em Comunicação das Artes do Corpo e pós-graduanda em musicalização infantil. Professora da Dança Materna. Criadora de KISÂNSI – Consciência corporal para Mães – Bebês – Pais. Integrante do núcleo Black Babywearing Brasil – Carregar Preto. Autora de Poesias Pós-Parto (2020 – Oralituras) e a Calimba e Flauta em coautoria com Allan da Rosa. (2012 – Edições Toró).

Foi em 2017, na primeira consulta do pré-natal, que Priscila Obaci descobriu o seu diagnóstico positivo para o HIV. À época, ainda amamentava o primogênito, que tinha um ano e meio. “Foi um susto, mas comecei a tomar a medicação no dia seguinte. Três meses depois eu já estava com a carga viral indetectável. O parto foi normal, da forma eu queria. Meu filho nasceu lindo e saudável e é espoleta demais”, diz ela.

Ela conta ter sido vítima de racismo em um serviço de assistência a soropositivos na região onde mora, em M’Boi Mirim (bairro da zona sul na periferia da capital paulista), mas que, ao ser atendida em um centro de referência no bairro de Santa Cruz (também na zona sul mas mais central), teve tratamento humanizado e interdisciplinar.

“Enquanto a gente aguardava a obstetra, ficava numa sala com uma psicóloga, uma doula, uma assistente social, uma enfermeira. Foi muito importante ouvir outras mulheres, falar sem tabu, receber apoio.”

Priscila diz ter sido um alívio revelar para as pessoas a sua condição de soropositiva indetectável. “Eu não queria me sentir um rato no porão, ter que ficar me escondendo.”

Leia a seguir uma das poesias publicadas no livro Poesia Pós Parto

Meu Fruto

É pesado

Mas toda Mãe é um avião que voa além mar

Furando céu e nuvens todos os dias

Cada dia mais amor

Mais cansaço

Mais paz

Mas alegria…

…e sempre aprendizado…

Meu renascimento

Minha chance de caminhar com destino

Minha poesia mais imperfeita e por isso a que mais me orgulho

Assim me faço a Mãe possível

 Lázaro Silva

Bixa Preta, vivendo com HIV, coordenador de eventos da Rede Jovem Rio+, graduando em Gestão Pública, ativista em HIV/Aids e População Negra. Lázaro entrou no movimento social com 21 anos. “Tudo que eu sei, tudo o que eu sou e todos os lugares que eu consegui ocupar foi por ter me inserido no movimento social e na Rede+ aqui no Rio”, disse. Ele conta que receber o diagnóstico foi muito difícil, porque era muto jovem e não tinha conhecimento nenhum. “Eu primeiro conheci a aids para depois conhecer o HIV. Tudo o que eu sabia era totalmente ligado à morte e quando eu me descobri vivendo com HIV a primeira coisa que me veio foi a morte”. Ele observou que as pessoas não têm o hábito de se testar, de tratar a saúde como uma questão preventiva. A gente só chega para tratar. Eu lembro que eu só fiz teste de HIV uma vez e deu não reagente, mas uma coisa que não tinham me falado foi sobre a janela imunológica. Eu fiquei anos depois disso sem fazer o teste. Aí a segunda vez que fiz, deu reagente. A minha inserção no movimento social se deu por tantas coisas que me foram negadas quando me vi vivendo com HIV,” relatou.

 

Neste vídeo ele fala sobre racismo e HIV. Confira

Flip Couto

Flip Couto é idealizador do Coletivo AMEM, intérprete na Cia. Sansacroma, membro da House Of Zion e co-fundador da Aliança pró saúde da população negra, tem sua formação em dança e atua como performer, curador, produtor de eventos e palestras. Bixa preta vivendo abertamente com HIV, traz em seus trabalhos discussões sobre negritudes, sexualidades e saúde da população negra e HIV/Aids a partir de estéticas negras contemporânea com enfoque na Cultura Hip Hop e Cultura Ballroom. Recebeu o prêmio APCA 2018 na categoria “Difusão e memória” pelo Festival Vozes do Corpo e ‘Prêmio Denilto Gomes de Dança 2019 – Olhares para Estéticas Negras e de Gênero na Dança”.

Minha relação com HIV vem desde 2009, quando eu descobri. Estava num cenário, começando um relacionamento e a gente queria tirar a camisinha do sexo. Fomos no posto fazer o teste rápido, sem ficar enrolado. E é isso, o dele deu negativo e o meu positivo. E aí, já veio toda uma ressignificação do corpo.

Neste vídeo ele com sua família ele traz um bate-papo bem descontraído sobre racismo, HIV e saúde:

 

#vidasnegrasimportam

 

Redação da Agência de Notícias da Aids

 

Dica de entrevista

 

Priscila Obaci

Instagram: @priscilaobaci

Flip Couto

Instagram: @flip.couto

Lázaro Silva

Instagram: @meninolaz