Umuarama é a segunda cidade do Brasil a receber a Certificação de Eliminação da Transmissão Vertical do HIV, no dia 18 de junho. A primeira cidade certificada no país foi Curitiba, em 2017, que mantém a certificação em 2019. Por isso, a Agência de Notícias da Aids falou com ativistas e gestores para entender o que foi feito para eliminar a transmissão do HIV de mãe para filho. 

A coordenadora do ambulatório de infectologia de Umuarama, Maria de Lourdes Gianini afirma que o resultado foi obtido graças à uma forte atuação de uma equipe multidisciplinar. “Fazemos um trabalho de equipe, bem árduo. uma equipe multiprofissional que faz todo o acompanhamento da gestante. Monitoramos o tempo todo. Já tivemos situações de pessoas que eram dependentes químicos, então, o envolvimento de outros parceiros, como conselho tutelar é muito importante.”

Além disso, a coordenadora explica que a equipe realiza visitas domiciliares aos pacientes. “Vamos nas casas deles, fazemos busca ativa por telefone, tudo para ver se estão usando medicação, se precisam de algum outro acompanhamento. Esse processo continuar até após o nascimento da criança e vai até ela completar dois anos de idade. Na última etapa, também conferimos se não está amamentando, por exemplo.” 

Maria de Lourdes também explica que, após o encaminhamento da paciente, a partir de uma unidade básica de saúde, o ambulatório de infectologia inicia um trabalho de vínculo com mãe. Nas visitas que são feitas à casa dos pacientes, além da própria coordenadora, comparecem um infectologista, farmacêutica, nutricionista e psicólogos. Nas visitas mais simples, uma equipe de duas a três pessoas é suficiente. No entanto, nos nos casos mais complexos, monta-se uma equipe preparada e em maior número. “A frequência dessas visitas é determinada de acordo com a avaliação da necessidade da paciente, assim como a partir do resultado da avaliação social ou psicológica. Algumas pacientes, mais vulneráveis exigem mais cuidado. Mas se alguma pessoa falta à consulta, logo entramos em contato.” 

O desafio de manter a certificação 

Primeiro município brasileiro a ficar livre da transmissão vertical do HIV, Curitiba mantém, em 2019, sua certificação. O método é semelhante ao utilizado pelos profissionais de Umuarama. Da descoberta da gravidez até os dois anos da criança, cada passo é monitorado por uma equipe multidisciplinar. A mulher grávida que vive com o vírus, faz o pré-natal no posto de saúde onde tem cadastro e também no ambulatório do Hospital de Clínicas, o maior do Paraná.

O ginecologista e obstetra Edson Tristão, que acompanha as gestantes com HIV, diz que a primeira preocupação é adaptar um remédio para diminuir os níveis do vírus no sangue durante toda a gravidez.

Além disso, há um conjunto de ações integradas feitas pelos programas Rede Mãe Curitibana Vale a Vida, lançado em 1999, e o HIV/aids, que possui os comitês de prevenção à mortalidade infantil e de transmissão vertical HIV e sífilis. “O objetivo é oferecer justamente uma qualidade de vida para a mãe, redução da morte materno-infantil, e dentre as ações desenvolvidas nesse programa, há muito tempo, existe a preocupação com a transmissão vertical de HIV da mãe para o bebe durante a gestação. Como diz o nosso programa “Mãe Curitibana, Vale a Vida”, vale cuidar bem e preservar a vida, que é a nossa grande responsabilidade enquanto gestores públicos”, diz a secretária de saúde de Curitiba, Márcia Huçulak.

Para o ativista Toni Reis, que atua na luta contra aids no estado do Paraná, as certificações “são resultados da dedicação dos profissionais de saúde em parceria com a sociedade civil organizada. Controle social, acompanhamento, monitoramento e dedicação, além da seriedade mostrando que a aids deve ser tratada como uma política de estado são fundamentais. O método que foi implantado em Curitiba, através do Mãe Curitibana, cria uma sequência de um trabalho muito bem articulado e pensado. Além disso, trata-se de uma política de estado. Já se passaram vários prefeitos, secretários e o projeto continua lá. Não se vencerá a aids sem uma estratégia clara e com a participação das pessoas envolvidas.”

 

Certificação

São elegíveis à certificação municípios com mais de 100 mil habitantes que atendam a critérios estabelecidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como qualidade dos programas e serviços de saúde, vigilância epidemiológica, laboratórios, respeito aos direitos humanos, igualdade de gênero e a participação da comunidade.

Umuarama conta hoje com certa de 330 pessoas em tratamento de HIV/aids. Porém, há cerca de 8 anos não é registrado um caso de criança infectada pela mãe, durante a gestação.

“É uma grande conquista para Umuarama, que já é referência no tratamento a pessoas com HIV e poderá contribuir com outros municípios, repassando técnicas, conhecimentos e experiências”, disse a secretária municipal de Saúde de Umuarama, Cecília Cividini.

Para obter a certificação o município deve atingir os indicadores de impacto nos últimos três anos da análise, como a taxa de incidência de novas infecções de HIV em criança, por ano de nascimento (menor ou igual a 0,3) e a proporção anual de crianças infectadas pelo HIV entre as crianças expostas acompanhadas pela rede SUS (menor que 2%).

Outros critérios são os indicadores de metas e de processo, de acordo com os dois últimos anos, que incluem cobertura mínima de quatro consultas no pré-natal (maior ou igual a 95%), cobertura de gestantes com, pelo menos, uma testagem para o HIV no pré-natal (maior ou igual a 95%), cobertura de gestantes infectadas pelo HIV em uso de terapia antirretroviral (maior ou igual a 95%), cobertura de crianças exposta ao HIV em uso de profilaxia antirretroviral (maior ou igual a 95%).

 

Dica de entrevista

Ambulatório de Infectologia de Umuarama 

Telefone: (44) 3906 1033

 

Mãe Curitibana, Vale a Vida

(41) 3350 – 9451

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)