Você já se perguntou por que a vacina contra a covid-19 ficou pronta tão rapidamente enquanto para o HIV estamos há 43 anos tentando o mesmo sem sucesso?
A resposta para essa pergunta está principalmente na capacidade que o HIV tem e o coronavírus não de escapar da resposta imune produzida pelo corpo humano.
Enquanto para o coronavírus o surgimento de variantes virais mutantes pode levar meses para acontecer, em um único dia uma pessoa com HIV pode produzir milhares de vírus com mutações genéticas que podem torná-los resistentes a medicamentos e anticorpos.
Pelo mesmo motivo, depois de um episódio de covid-19 é esperado que as pessoas se curem espontaneamente, ao passo que, para o HIV, apenas duas mulheres até hoje conseguiram fazer o mesmo.
Idealmente, portanto, uma vacina realmente eficaz para a prevenção do HIV, assim como uma cura para essa infecção, teria que eliminar todas as diferentes variações genéticas virais circulantes. No entanto, até hoje, apesar de todos os esforços e pesquisas, falhamos miseravelmente.
Em uma linha paralela de pesquisa científica que passou a ser desenvolvida recentemente, pesquisadores estão identificando e replicando em laboratório alguns tipos de anticorpos diferentes, chamados de bnAbs (do inglês Broadly Neutralizing Antibodies ou Anticorpos Amplamente Neutralizantes). Eles são muito especiais pois têm a capacidade de eliminar uma grande variedade de diferentes tipos mutantes de HIV, o que pode resolver o problema da variação genética viral.
Nos últimos anos, os bnAbs têm sido amplamente estudados tanto de forma isolada quanto em associação em diversas pesquisas para tratamento ou prevenção do HIV. Mas até agora eles sempre eram administrados nos participantes por via endovenosa ou subcutânea, da mesma forma que um medicamento injetável.
No entanto, na última semana um estudo publicado na respeitada revista norte-americana Cell demonstrou que é possível ensinar um indivíduo a produzir ele próprio os bnAbs por meio de vacinação.
No estudo de fase 1 realizado por pesquisadores da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, participantes não infectados por HIV foram sorteados aleatoriamente para receberem duas ou três doses de uma vacina experimental. Quando comparados com aqueles que tinham recebido placebo, os participantes que receberam doses verdadeiras da vacina começaram a produzir em níveis detectáveis os bnAbs desejados.
Considerado como uma prova de conceito bem-sucedida, o estudo é um marco importante na pesquisa do HIV e abre agora a possibilidade de desenvolvimento de uma grande quantidade de novos estudos visando melhorar e amplificar a produção desses super-anticorpos, renovando a esperança de um dia chegarmos a uma vacina eficaz para a prevenção do HIV ou mesmo da sua cura.
Tal notícia deve ser motivo de comemoração para a comunidade científica internacional por ser um importante passo na pesquisa de bnAbs, mas precisamos ter calma e os pés no chão.
O sucesso de um estudo de fase 1 é apenas um dos muitos passos para chegarmos a uma tecnologia de sucesso segura e eficaz. Assim, até que tenhamos ela disponível para uso populacional, se tudo der certo ainda precisamos de alguns anos de pesquisas.
Depois de tantas pesquisas frustradas em busca de uma vacina preventiva e de uma cura para o HIV, o resultado promissor desse estudo reforça a ideia de que apenas com a ajuda da ciência teremos um dia a epidemia de o HIV/Aids controlada como a da covid-19.
Fonte: UOL / Rico Vasconcelos