O discurso de Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, aconteceu no último dia da 22ª Conferência de Aids e teve como destaque o não abandono da causa e a preocupação com o número de mortes de pessoas vivendo com HIV causadas pela tuberculose.
Assim que começou a falar, Bill Clinton foi interrompido por um grupo de manifestantes de profissionais do sexo. Elas entraram no auditório lotado exclamando “trabalho sexual é trabalho”, “parem de nos matar”. No protesto, elas reivindicaram a descriminalização do trabalho sexual. Um dos fortes argumentos para sua legalizar a atividade é a possível redução do número de novas infeções por HIV.
Em abril deste ano, o presidente Trump assinou a lei FOSTA/SESTA, que tem como alvo plataformas online utilizadas por trabalhadoras sexuais se conectarem com clientes em potencial. Mesmo antes de a lei entrar em vigor, muitas dessas plataformas fecharam ou alteraram regras para expulsar pessoas que anteriormente dependiam delas para seu sustento. Por esse motivo, os manifestantes seguraram placas com os dizeres: “Sesta = Morte”.
Em resposta, o ex-presidente parabenizou a conferência por permitir as manifestações. Enquanto o grupo protestava, nos telões era exibida a mensagem “nós apoiamos a liberdade de expressão”.
No entanto, Clinton mal havia retomado sua fala, quando os manifestantes o interromperam novamente. Dessa vez, exigindo que ele desse respostas. Ele exclamou: “mas eu não eu sei quais são as perguntas.”
Ao ser interrompido pela terceira vez, o ex-presidente afirmou que acredita ser necessário dar atenção também para as outras vítimas do HIV/aids. “Estou disposto a ajudar, mas preciso que me expliquem o que eu posso fazer.” Após repressão e vaias da plateia, os manifestantes saíram do auditório.
Em continuação a seu discurso, o Clinton agradeceu aos parceiros que o acompanharam durante os 17 anos de luta contra aids e chamou atenção para a tuberculose, doença que mais mata pessoas com HIV. “Espero que, em alguns meses, no primeiro encontro sobre tuberculose na ONU, possamos avançar nessa questão.”
A expressão mais usada pelo ex-presidente em seu discurso foi “não há Brexit na luta contra aids”, fazendo referência à saída do Reino Unido da União Europeia. Ele defende que, na disputa contra a epidemia, as pessoas precisam estar unidas e que desistir ou se separar não é uma opção para quem quer salvar vidas. “O que mais me preocupa é que há pessoas que se conformaram que a batalha acabou. Não há Brexit para pessoas reais.”
“Há sempre uma razão para abandonar uma causa onde não obtemos sucesso total. Não deixem as pessoas ficarem complacentes. Não pensem que não precisamos aumentar nossos esforços. Isso é algo que nós simplesmente precisamos encarar. Não temos motivos para desacreditar. Além disso, se você acredita em democracia, precisa saber argumentar.”
Por fim, Clinton ressaltou que a cada três minutos, alguém no mundo é infectado pelo vírus da aids e que o aumento do número de novas infecções no leste europeu e na Ásia Central precisa de atenção. “Ainda há 15 milhões de pessoas sem tratamento e 25% do total daqueles que vivem com HIV, desconhecem seus status. Para mudar esse cenário, precisamos testar mais, tratar mais e continuar os esforços para aumentar as supressões de carga viral. Além disso, precisamos brigar por mais PrEP e pela promessa da PrEP injetável.”
“A única resposta à favor da vida é salvar o maior número de vidas que pudermos. As pessoas que fazem esse trabalho fazem sacrifícios extraordinários pelo desejo de salvar vidas. Não é só sobre dinheiro e emprego. É sobre vidas e mortes. Não desistam e façam algo bom acontecer!”
Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)
A Agência de Notícias da Aids cobre a Conferência em Amsterdã com o apoio do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, do Condomínio Conjunto Nacional e da Associação Paulista Viva.