Dia mundial de luta contra a Sida

Na infecção pelo HIV, o vírus produz inúmeras cópias no organismo humano. Quanto mais cópias produzidas, maior é a quantidade de vírus presente no sangue, a chamada carga viral. Os medicamentos antirretrovirais, utilizados no tratamento, impedem o processo de replicação viral e reduzem a carga viral.

Apesar dos benefícios, pesquisadores apontam que a infecção pode acelerar o envelhecimento de ossos e de músculos. O assunto foi destaque nesta semana no Simpósio “Integrando Ciência e Ação para acelerar a resposta ao HIV na América Latina”, realizado pela Fiocruz.

A conferência contou com pesquisadores e especialistas em HIV da América Latina, sediado no Rio de Janeiro. 

O pesquisador Estevão Portela, vice-diretor de serviços clínicos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), participou da discussão e explicou que o número de casos de HIV tem diminuído, mas que está longe de ser um problema dado como encerrado, pois as ocorrências continuam acontecendo. “O número das infecções tem caído, mas ainda temos um número elevado de pessoas se infectando todos os anos. Ou seja, ainda é um problema que está longe de acabar, não conseguiremos erradicar a aids, mas podemos contê-la.” 

Contudo, as pessoas vivendo com HIV têm chegado a uma expectativa de vida nunca vista antes por conta da possibilidade de tratamentos para o vírus. “As pessoas com HIV estão vivendo mais tempo, o número está aumentando porque o acesso ao tratamento foi umas das coisas mais espetaculares das últimas décadas, poucas doenças tiveram uma ação terapêutica tão exitosa como a questão do acesso à terapia antirretroviral, mesmo em países de pouca rendas.”

Na mesma linha, Sandra Wagner Cardoso,  pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Clínica de DST e Aids do INI, afirmou que o envelhecimento é um processo natural das pessoas, tanto das pessoas com HIV como das pessoas que vivem sem o v[irus. “Nós perdemos com o passar do tempo nossa capacidade física, nossa capacidade de reter memória, nossa capacidade de aprender coisas novas […] esse é o processo natural que quem estiver vivo vai experimentar.” 

Ela relata que a perspectiva de vida pouco se altera entre os indivíduos com e sem HIV.

Segundo a especialista, os diagnósticos de doenças renais crônicas, por exemplo, estão relacionados ao envelhecimento de uma pessoa HIV+. “Um diagnóstico de doença renal crônica a partir dos 40 anos em pessoas vivendo com HIV está associado com processo acelerado de envelhecimento, demonstrando total importância que a doença renal crônica tem no envelhecimento em pessoas vivendo com HIV”, afirma. 

“Nós não queremos apenas anos adicionais de vida, nós queremos anos adicionais de vida com qualidade”, finaliza. 

A ativista e defensora dos direitos humanos e da população trans latina e caribenha, Marcela Romero, esclarece que é necessário chamar atenção para aplicações de investimento em remédios, pois somente assim a população com HIV poderá viver por mais tempo. “O HIV não discrimina. O HIV vai continuar afetando as pessoas, crianças, adolescentes, as mulheres em suas diversidades, as populações indígenas e as populações afro. Acredito que devemos repensar a nossa resposta para acelerar o fim da aids, temos que falar mais de investimento e medicamento. Está na hora de falarmos da cura, devemos falar mais de vacina, está na hora de cura para o HIV.”

Marcela encerra a discussão chamando atenção para que a luta a favor da saúde e da longevidade seja de forma justa, sem preconceitos e positiva. “Devemos integrar a ciência e a ação, no entanto, precisa ser de uma forma conjunta, construtiva, igualitária, sem estigmas e sem violência.” 

Lygia Cavalcante 

 

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