O Sesc Ideias transmitiu nesta quarta-feira, 23, o 1º de quatro encontros que serão realizados dentro do projeto Contato, que tem a proposta de debater questões ligadas à saúde sexual, incluindo as IST/HIV/aids. O tema foi 40 anos de HIV/aids: estigmas, diversidade, arte e marcos de enfrentamento.

Logo de início, o mediador Leandro Noronha, jornalista e integrante do coletivo Contágio, Leandro Noronha, disse que nesse processo de quatro décadas de HIV, muita coisa mudou – “e outras nem tanto”.

O médico infectologista, mestrando em saúde coletiva na Santa Casa de São Paulo, Dyemison Pinheiro, traçou um histórico da pandemia, a evolução do tratamento, ressaltando a abordagem errônea do início, associada a ‘grupos de risco’, em decorrência das populações mais afetadas. “Com o tempo foi se notando que a doença afetava a todos não somente os homossexuais e estava relacionada sobretudo à transmissão sexual. “O panorama das pessoas vivendo com HIV/aids foi se modificando com a chegada da terapia antirretroviral de uma forma mais efetiva, que de fato mudou a qualidade de vida das pessoas. O que não muda muitas vezes é esse estigma que permanece em relação aos ‘grupos de risco’, em relação a quem pega ou não o HIV. Tecnologicamente, biologicamente, a gente tem avançado, mas o imaginário de como essa doença se comporta, como ela afeta, ainda continua semelhante.”

A ativista Vanessa Campos, secretária de Comunicação da RNP+ Brasil, confirmou que as PVHA vivem em um “contexto terrível de estigmatização. A nossa questão da autoestima é sempre algo que precisa ser trabalhado. É preciso se enxergar, se amar, para levar adiante um diagnóstico que, mesmo após 40 anos de pandemia, ainda é tão estigmatizado, vive aquela morte civil que a gente vê até hoje.

Vanessa ressaltou que o tratamento antirretroviral é muito eficaz e não é à toa que ela vive com o vírus há 31 anos. Hoje ela toma apenas cinco comprimidos de uma vez só, à noite, mas já passou por diversos esquemas, chegando a tomar até 20 comprimidos por dia. “Hoje em dia, a pessoa recém diagnosticada pode ter um tratamento de apenas dois comprimidos, o 2 em 1 mais o dolutegravir. Isso facilita muito a adesão”, acrescentou.

“É possível viver com HIV/aids e ter qualidade de vida, mas é preciso evoluir enquanto sociedade, é preciso sair daquela questão do pânico moral, do julgamento social, tudo isso afeta muito e atrapalha desde o primeiro tratamento e também muitas pessoas que não fazem o teste por isso”, criticou.

Ainda na conversa, foram discutidos os obstáculos à adesão ao tratamento, o sigilo de sorologia e as novas formas de prevenção que surgiram, como a camisinha feminina e as profilaxia pós e pré exposição.

Assista abaixo o bate-papo na íntegra.

Maurício Barreira