Na noite dessa segunda-feira (15), Marina Vergueiro recebeu a transvereadora Filipa Brunelli para um bate-papo sobre o início de sua trajetória política, a importância de uma política representativa e a tensão deste ano de eleições. Filippa tem 29 anos, é graduanda em sociologia, foi à primeira mulher trans a ocupar uma vaga no legislativo municipal de Araraquara, com 1.119 votos em seu primeiro mandato, sendo a segunda pessoa mais votada pelo PT na cidade.

Ela começou cedo na política, sua trajetória se deu de forma imperceptível, antes mesmo de compreender de fato o que é política. “Quando assumimos a nossa sexualidade, a nossa identidade de gênero, já estamos fazendo política, pois somos um corpo político”, explicou.

Mas foi em meados de 2010 que começou a atuar de maneira mais direta e afetiva na defesa dos direitos humanos. “Iniciei aos 15 anos nos movimentos secundaristas, estudantis, Me candidatei e fui presidente do grêmio estudantil’’, contou.

Ela relembrou que sempre teve uma essência questionadora e que as aulas de filosofia e sociologia expandiram seu olhar. A partir dali passou a se aprofundar a respeito das diversas questões sociais, especialmente acerca das demandas da educação pública brasileira. “Minha primeira passeata foi ir as ruas reivindicar melhores condições aos professores.” Esse período coincidiu com o momento que houve corte de verbas e falta de merenda escolar nas escolas da rede pública.

A vereadora acredita que a transformação social só acontecerá de fato com a ocupação das instituições e demais espaços de poder. “Eu vim da ala mais radical do movimento LGBTQIA+, mas percebi que a transformação social vai ser pelas instituições, a ocupação das instituições é fundamental, é preciso ocupar  os espaços para implodimos este sistema. É por isso que a gente precisa existir”, completou.

Perguntada sobre como se deu a sua transformação pessoal concomitante com a transformação política, relacionando com as questões de gênero, ela disse que toda a sua vivência serviu de combustível. “Tudo aconteceu sem eu anunciar a minha sexualidade, até esse momento eu ainda compactuava com a ideia que foi embutida em mim sobre a heteronormatividade compulsória”, confessou.

Nesse meio tempo ela disse que seus horizontes foram ampliados e automaticamente passou a ter contato com outros LGBTs que na época também estavam passando pelo processo difícil de reconhecimento. “Foi aí que eu me libertei, quando me desconstruí, comecei a adentrar o movimento LGBTQIA+, era lá que meu corpo se fazia necessário.”

Gestão participativa

Filipa Brunelli ajudou a construir o plano de governo do atual prefeito de Araraquara, e em seguida foi convidada por ele para ser a gestora de políticas públicas na sua cidade.

Segundo ela, o que garantiu êxito na sua gestão foi: “antes de ser gestora, ser uma travesti. Sempre olhei primeiramente para os meus e as minhas, para depois olhar para este sistema e a forma como ele é consolidado”, falou.

Filipa é defende de que é preciso se apropriar dos rótulos e então resignificá-los. “Se não fosse a coletividade, não estaríamos hoje somando dentro da câmera dos vereadores.”

Compartilhando alguns dos seus feitos enquanto gestora, ela lembra que quando assumiu a assessoria de políticas LGBT de Araraquara, tinha um orçamento anual de cerca de quinze mil reais, mas com a articulação do seu trabalho conseguiu conquistar e deixar na pasta um orçamento de quase um milhão de reais por ano.

Ela ainda destacou que 80% dos nomes de pessoas trans da cidade foram retificados. Ela considera que o ponto alto de seu trabalho, na época, foi iniciar o mapeamento da população LGBT de Araraquara, em 2017. “Esse mapeamento robusto foi fundamental para compreender o contexto social, as necessidades especificas de cada cidadão, e chegar nos problemas comuns entre a comunidade”, afirmou.

Segundo ela, as travestis, transexuais, principalmente negras, eram as maiores necessitadas de assistência.

E contou que depois do sucesso do seu trabalho como gestora, a população LGBT local passou a cobrar que ela fosse candidata na última eleição. Com um abaixo-assinado realizada pela própria população solicitando a candidatura, Filipa se tornou vereadora com uma grade quantidade de votos.

Voto consciente

Marina Vergueiro quis saber como é possível filtrar melhor os candidatos e votar de forma certeira, considerando que existe uma aula de pessoas aliadas de movimentos que militam contra a garantia de direitos?

Para Filipa, existe um ‘oportunismo identitário’, onde muitos apoiam a agenda LGBT a fim de galgar cargos governamentais. Para não cair nas armadilhas, indica que a sociedade investigue por completo a vida política e o posicionamento destas pessoas nos anos anteriores.

A estética e a linguagem da campanha também podem apontar quem de fato é a figura política em questão, e denunciar falsas narrativas de pluralidade.

A vereadora encerrou afirmando que “este ano o foco das eleições é combater o neofascismo, é momento de restabelecimento da democracia. Não é só um projeto político, temos que combater um projeto nefasto de Brasil”, finalizou.

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Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

@filipabrunelli

Tel.: (16) 99962-5700