A jornalista Marina Vergueiro recebeu no Senta Aqui desta semana o cineasta trans e militante Rosa Caldeira. Grande entusiasta da cultura TLGB e periférica, ele busca junto aos seus um novo olhar sobre a imagem de experiências ‘transviadas faveladas’. É formado em sociologia e atualmente estuda Cinema em Cuba. “Fiz ciência sociais para entender o mundo, depois descobri que cursar o ensino superior foi um rompimento de toda a minha trajetória. O cinema na minha vida foi a mesma coisa, comecei a trabalhar por conta de uns amigos, descobri que podia ganhar 100 reais por dia com os vídeos. Brincávamos com a câmera. São processos, acho que meu corpo trans e periférico é feito de retalhos, esse é um caminho bonito também. Não acho que você precisa nascer cineasta. Estou aqui contrariando as estatísticas.”

Co-idealizador da Maloka Filmes, uma produtora criativa com foco no audiovisual comunitário, Rosa foi o primeiro na família a cursar o ensino superior. “Trabalho com cinema há muitos anos, comecei com o audiovisual comunitário porque a minha arte vem da comunidade. Fui entendendo que todo trabalho artístico que eu fazia tinha relação com a comunidade. Se a gente fala de cinema comunitário, estamos falando em construção de base. A militância e movimentos culturais da periferia precisam caminhar juntos.”

Para ele, o cinema periférico precisa dialogar com a comunidade. “Não adianta o Rosa representar a comunidade trans e periférico sem ter uma base com os movimentos sociais locais. Eu não quero representar essas pessoas sem construir a militância na base. Eu represento a periferia porque eu vivo a periferia, estou lá todos os dias. A gente constrói esse audiovisual junto com as pessoas do território. Isso é uma forma potente de construir cinema, a partir da coletividade. O audiovisual comunitário se preocupa com o processo de fazer o filme, é um fazer coletivo e colaborativo. A Maloka filmes é sobre possibilidades de existências para além de uma simples sobrevivência, essa é a poesia do cotidiano que a gente traz para as nossas obras.”

Marina quis saber de Rosa como é adentar nesta indústria o cinema que é majoritariamente construída por homens cis.

“Me identifico enquanto pessoa trans masculina não-binária. A identidade de homem não me representa. Vejo muita potência na minha existência, mas é uma identidade muito sofrida. Estamos em um lugar de extrema invisibilidade. O meu lugar neste mercado do cinema não existe, está sendo construído agora. Geralmente quando as pessoas do cinema me conhecem dizem que é a primeira vez que trabalham com um profissional trans masculino, isso é muito ruim. Há muitos outros profissionais, mas são invisibilizados o tempo todo.”

O Senta Aqui com Marina Vergueiro, no Instagram da Agência Aids, durou quase uma hora. Veja o vídeo na íntegra a seguir:

Dica de entrevista

Rosa Caldeira

Instagram: @orosacaldeira