“O HIV não define as minhas prioridades e meus desejos”, a frase é do ator, professor e criador de conteúdo digital: Evandro Manchini, 34, que participou na última segunda-feira (15), da coluna Senta Aqui, comandada pela jornalista Marina Vergueiro, no Instagram da Agência Aids. Mas, nem sempre foi assim que ele, que hoje fala abertamente e sem receios sobre HIV, encarou sua vivência positiva para o vírus.

O comunicador descobriu seu diagnóstico durante seu aniversário, no ano de 2015, mesmo período em que ingressou no seu mestrado em comunicação pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ). 

Evandro decidiu fazer de sua vivência com o HIV, o tema de defesa da sua tese de conclusão de curso, quando entendeu que esta seria uma forma de se auto-potencializar, e potencializar também a comunicação correta sobre a doença, que ele considera, mesmo na modernidade, ser escassa.

“Queria dar conta das minhas inquietações todas pós diagnóstico”, falou.

O convidado comentou que fazia exames regularmente, pois na época, estava sob investigação de outra doença. Segundo ele, teve a sorte de descobrir sua sorologia e aderir à terapia antirretroviral em tempo oportuno.

“Assim que descobri meu diagnóstico, iniciei o tratamento, que é o que hoje mais recomendo aqui nas redes, mas também em outros espaços para quem descobriu ter o vírus”. Ainda de acordo com ele, sempre teve responsabilidade em fazer o tratamento corretamente.

A ansiedade e o medo foram sensações sempre muito presentes no período de recém descoberta. “Depois que o diagnóstico chegou, tudo chacoalhou aqui dentro. Acho bem difícil encontrar alguém que tenha lidado tranquilamente quando essa parada chegou”.

“No dia do meu diagnóstico, foram duas horas de choro sem parar, tentando entender quem eu era, tentando entender que precisava me reinventar, já lidando com o peso da morte social, e lidando com todos os meus preconceitos, porque eu era muito preconceituoso e ignorante com relação ao HIV”, recordou e continuou: “eu elaborei durante três anos todas essas questões, até que transformei num projeto de mestrado”.

Além da defesa teórica, Evandro teve que desenvolver sua tese a partir de um trabalho prático, conforme exigia o programa de pós-graduação. O comunicador optou por documentar sua pesquisa em um curta-metragem.

A obra ‘‘Poder Falar’’, que permeia sua vida e sua infância, chega como uma contra-proposta a forma como a aids é abordada socialmente: carregada de estigmas e tabus.

“O filme tem justamente o objetivo de poder falar sobre o HIV e sobre a aids de uma forma mais afetiva, no sentido de trazer coisas que não vemos ou vemos pouco, que são as nossas identidades, as nossas subjetividades, o que existe por trás dos antirretrovirais… no audiovisual, nós quando somos vistos, geralmente é na contraluz e com a voz alterada”, disse o educador.

A colunista Marina Vergueiro, aproveitou o gancho e quis saber mais detalhes de como foi a infância de Evandro.

O convidado definiu como uma fase conturbada, repleta de bullying na escola, mas também de muito afeto dentro de casa. Essa rede de apoio familiar se estendeu ao grupo de arte na qual Evandro fazia parte.

“Criamos uma rede de apoio e pertencimento, nos unindo pela via da arte para lutar contra todas as opressões”.

“Na época, não entendia o que era bullying, mas eu sentia que o mundo estava sendo hostil comigo”, relembrou.

“Eu era uma criança viada e gorda no interior do Paraná”, disse o influenciador ao relembrar o atravessamento da gordofobia com a LGBTfobia que viveu diariamente.

Assista a live na íntegra:

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

Evandro Manchini

Instagram: @evandromanchini

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