A coluna “Senta Aqui com Marina Vergueiro” dessa segunda (4) recebeu a escritora Janaína Leslão. Autora de alguns dos primeiros contos de fadas a abordarem direitos sexuais e direitos reprodutivos, ela teve seu primeiro livro, A Princesa e a Costureira, adaptado para o teatro infanto-juvenil. O livro conta a história da princesa Cíntia, que quando nasceu foi prometida em casamento para Febo, o príncipe do reino vizinho. Quando chegou a época da cerimônia, a princesa foi encomendar seu vestido e, então, conheceu a costureira Isthar, por quem se apaixonou.

Janaína também é autora dos livros Joana Princesa e A Rainha e os Panos Mágicos. Joana Princesa é o primeiro conto de fadas brasileiro que narra a história de uma princesa transgênero. A obra traz a história de uma princesa que, ao nascer, recebeu o nome de João. Algum tempo depois, a criança pediu para que seus pais a chamassem de Joana, pois, assim como ela, seu nome também tinha crescido; queria ser menina para sempre. O rei e a rainha não sabiam o que fazer para reverter a situação e até consultaram a bruxa do reino. Para realizar seu sonho, Joana parte em uma grande aventura em busca do Arco-Íris Mágico que, segundo a lenda, pode transformar rapazes em garotas.

“O referencial de final feliz que os adolescentes tinham ainda era o dos contos de fadas. Quando conversávamos sobre questões de sexualidade e gênero de pessoas trans ou do amor entre dois homens ou duas mulheres, não tinham nenhum referencial na literatura, muito menos nos contos de fadas. Só pelo noticiário de jornal, que mostra uma lâmpada na cara, uma travesti esfaqueada. Isso me despertou a vontade de escrever. Fui pesquisar e não tinha nada nesse gênero de literatura, com essas temáticas trabalhadas em uma linguagem mais leve e acessível”, afirma a autora, que é psicóloga e trabalhou questões ligadas à sexualidade, gênero e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis com adolescentes.

Literatura e política

Ao ser questionada sobre a falta de vontade política de debater saúde sexual e reprodutiva nas escolas, Janaína disse que agora, em ano de eleição, é preciso falar ainda mais sobre essa temática. “Quando eu comecei a escrever os contos recebi várias mensagens de pessoas contrárias ao meu trabalho. No primeiro livro, vi muitas manifestações racistas, a princesa é negra. Teve muitos comentários de ódio. Mas estávamos no momento em que podíamos falar um pouco mais sobre a temática, penso que a oposição a livro veio porque a conseguimos um espacinho e é assim que se faz história”, mencionou a escritora.

Janaína contou que hoje as pessoas consideram os seus contos como literatura de resistência. “Acho que devemos vislumbrar possibilidades e projetos de felicidade para as pessoas Independente da sua condição… se é positiva ou negativa para qualquer IST, enfim se a família tem papai e mamãe ou só a vovó, eu sempre penso que isso impacta”, comunicou.

Educação sexual na infância

Sobre o debate da educação sexual na infância, Janaína disse que é preciso que a criança e o adolescente se sintam confortáveis e em um ambiente seguro.  “A proposta não é falar sobre sexo, é falar sobre corpo, sobre partes que podem tocar e partes que não podem, você ter uma noção de quem você é no mundo, tudo isso é educação sexual”, reafirmou a psicóloga.

“Existem muitos casos em que as crianças que são abusadas em casa, elas encontram na escola um ambiente seguro para relatar, ainda que ela não entenda direito o que acontece, temos vários relatos de quando chega o mês de maio, dia 18, que trabalhamos o dia do Combate à violência sexual, quando educadores trazem essas temáticas nas escolas, algumas crianças reconhecem, e depois vem contar, e percebem que são vítimas de violência sexual”, descreveu Leslão.

Assista a live na íntegra:

 

Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)