Travesti baiana, presidente da Antra, é barrada de entrar no México

“A prostituição nunca saiu de mim, eu deixei de me prostituir quando a pandemia começou, mas eu tenho uma veia muito grande de prostituta. Qualquer hora eu vou para a esquina, porque eu gosto de peitar esse sistema cisheteronormativo”, disse a ativista pelos direitos humanos, Keila Simpson, presidente da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Ela participou, na última segunda-feira (3), da coluna ‘Senta Aqui com Marina Vergueiro’, no Instagram oficial da Agência Aids.

Keila contou a quão difícil era a vida das pessoas transexuais e travestis na prostituição no final dos anos 1980. Ela saiu de casa aos 13 anos de idade e, em Recife, descobriu a prostituição como profissão.

“O campo da prostituição não era tão desenvolvido naquela época, não tinha tanta procura, o mercado era bastante escasso, passei por algumas experiências difíceis. Trabalhei em Teresina, São Luiz, Recife e Salvador. Em Recife houve muitos assassinatos em série, aquilo me assustou e eu vim para Salvador, me apaixonei pela cidade, e fui ficando, fiz daqui a minha vida e meu mundo”, contou.

Regulamentação da prostituição 

Questionada sobre o pensa e relação ao reconhecimento da prostituição como uma profissão, Keila disse que esse assunto deve ser discutido pela própria população que está na rua.

“Um patamar importante para discutir essa possibilidade é conversar com as prostitutas, elas sabem o que é bom para elas. As pessoas que não se prostituem, não devem discutir a prostituição, como eu também defendo que as pessoas que não abortam não devem discutir sobre aborto, as coisas devem ficar cada uma no seu lugar, precisamos trabalhar nessa regularização como algo muito sério”, defendeu Keila.

Ativismo

Keila Simpson falou ainda sobre sua luta no ativismo, que teve início na década de 1990, no auge da epidemia de HIV/aids.

“A minha entrada no ativismo teve a ver com a epidemia de aids, eu trabalhava na rua e o professor Luiz Mott, que na época era o presidente do Grupo Gay da Bahia, queria encontrar uma travesti que tivesse disponibilidade para distribuir preservativos para as outras trans/travestis. Era um trabalho completamente voluntário e eu aceitei. ”

Ela continua: “Nesse mesmo período, na década de 90, existia uma outra epidemia que perdura até hoje, a violência. Não tinha barreiras de proteção para a violência, as travestis que estavam na rua sofriam quase todos os dias e aquilo me incomodava, eu procurava meios para fugir, era muito difícil, o braço estatal não compreendia que nós podíamos estar nas ruas nos prostituindo por direito. Então, pensamos em criar grupos institucionais, em junho de 1995 foi fundada a Associação de Travestis de Salvador (ATRAS), e através dela, percebemos que podíamos ampliar as nossas vozes e protestar para erradicar a violência que estava em nosso meio”, descreveu a ativista.

Hoje, à frente da Antra, Keila contou na live como são desenvolvidas as ações com a população trans. “A Antra tem estado muito atuante na alçada jurídica, fazendo muitas representações judiciais por conta dos ataques que temos tido. O último deles é uma batalha com o Supremo Tribunal Federal, queremos que o STF delibere de vez onde nós vamos fazer xixi, a discussão do banheiro é fisiológica e não sexual. Outra ação que estamos fazendo agora, em parceria com a Doritos, é uma campanha de retificação de nomes. Durante esse ano vamos ajudar 700 pessoas trans a retificar seu nome com todas as garantias de gratuidade necessárias para essa certidão”, contou Keila Simpson.

 Confira a live na íntegra:

Dica de entrevista

 

Keila Simpson

 

E-mail: presidencia.antra@gmail.com

 

Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)