Nesse domingo (22), o seminário do Programa Brasil Saudável abriu as atividades paralelas ao 59º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), que acontece até o dia 25 de setembro, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo. O evento contou com a presença de mais de 150 participantes, entre gestores, pesquisadores e membros da sociedade civil, discutindo os rumos e as novas etapas do programa.

Na abertura, o dr. Draurio Barreira, diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi), destacou o impacto e a abrangência do Brasil Saudável. O programa envolve 14 ministérios e contará com uma verba de 45 milhões de reais a partir de 2024, com o objetivo de eliminar onze doenças como problema de saúde pública. Segundo Barreira, o planejamento macro do projeto, que mapeou 200 desafios e propôs 901 estratégias de enfrentamento, está sendo concluído. “Agora vamos iniciar visitas às cidades piloto, como Boa Vista, Fortaleza, São Paulo, Cuiabá e Porto Alegre, para compreender as realidades locais e ajustar as ações”, explicou.

Alinhado às metas e diretrizes da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e à iniciativa da Organização Pan-Americana da Saúda (Opas), o Programa apresenta linhas de atuação como o enfrentamento da fome e da pobreza para mitigar vulnerabilidades; a redução das iniquidades e ampliação dos direitos humanos e proteção social em populações e territórios prioritários; e o incentivo à ciência, tecnologia e inovação.

O cronograma do Brasil Saudável prevê a continuidade do planejamento até 2025 e a execução das ações até 2030, envolvendo 175 municípios prioritários. Barreira reforçou que o programa visa fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS), com foco na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças.

Diálogo com a sociedade civil

Durante o seminário, questões relevantes foram levantadas pela plateia. Carla Almeida, do Grupo de Apoio à Prevenção da Aids do Rio Grande do Sul (Gapa/RS), enfatizou a importância de ampliar o debate além do campo biomédico, destacando a intersecção entre questões de gênero e saúde.

Já João Victor Kersu, do Movimento Nacional de Doenças Negligenciadas (MNDN), apontou a necessidade de abordar os determinantes sociais das doenças. “Cerca de 15% da população mundial sofre de alguma dessas enfermidades. É preciso mais recursos e vontade política para enfrentá-las”, disse.

Proteção social e combate à pobreza

Um dos destaques do seminário foi a mesa sobre empobrecimento e a integração entre o SUS e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A professora Joilda Nery, da Universidade Federal da Bahia, ressaltou a importância das políticas intersetoriais no combate à pobreza e suas consequências na saúde. Luciano Oliveira, representante do Ministério do Desenvolvimento Social, reforçou a necessidade de ações colaborativas entre SUS e SUAS para enfrentar esses desafios. Além disso, foram apresentadas experiências de integração de políticas públicas pela Secretaria Municipal de Saúde de Itaboraí (RJ), Cedaps, Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+), e o Movimento Brasileiro de Luta contra as Hepatites Virais.

Capacitação de pesquisadores

Ainda durante a manhã, cerca de 40 pesquisadores participaram do curso de “Redação de propostas para editais internacionais de fomento”, uma atividade prévia ao Medtrop. Coordenado por Miranda Brouwer, da consultoria holandesa PHTBConsult, o curso orientou os participantes na elaboração de sumários executivos para projetos. A proposta elaborada pelas ativistas Linda Maia e Marcela Bessil, do CCAP TB BR, foi premiada como a melhor do curso.

O Congresso Brasileiro de Medicina Tropical segue até o dia 25 de setembro, com uma ampla programação científica. Outras informações podem ser encontradas no site oficial: (https://medtrop2024.com.br).

Liandro Lindner, especial para Agência Aids