30/12/2020 - 12h15
RETROSPECTIVA 2020: Coronavírus provoca mudanças nos serviços de HIV em todo o mundo

Os profissionais de saúde que cuidam de pessoas que vivem com HIV estão expressando preocupação com aqueles que não têm carga viral suprimida e com o gerenciamento novos diagnósticos de HIV durante a pandemia global da Covid-19. Também existem preocupações sobre o acesso a medicamentos e o aumento de vulnerabilidades das principais populações.

Os principais clínicos de HIV de todo o mundo deram informações sobre a prestação de serviços de HIV durante a pandemia para a International Aids Society (IAS) na semana passada, durante um encontro virutal. Apesar dos variados contextos e restrições, a pandemia destacou muitas semelhanças entre os países em relação aos desafios e sucessos na prestação de serviços de HIV.

Embora atualmente haja um conhecimento limitado sobre os efeitos potenciais do COVID-19 em pessoas com HIV, os profissionais de saúde reconheceram que pacientes HIV positivos em terapia antirretroviral bem sucedida com HIV provavelmente se sairiam melhor contra o COVID-19.

No entanto, existem preocupações em relação àqueles que não estão atualmente em tratamento, que não estão indetectáveis e aqueles diagnosticados em estágio avançado de infecção. O Dr. Estevão Nunes destacou o fato de que pouco menos de 30% das pessoas que se submetem ao tratamento para o HIV no Brasil ainda apresentam uma fase tardia com sistemas imunológicos gravemente comprometidos. Isso levanta preocupações com infecções oportunistas, como pneumonia e tuberculose.

O professor Graeme Meintjes, da África do Sul, disse que apenas 54% dos que estão atualmente em tratamento na África do Sul estão indetectáveis. Devido às altas taxas de infecção por tuberculose no país, muitos ficam com danos e doenças pulmonares, o que pode exacerbar os efeitos do COVID-19.

A preocupação com a supressão viral também foi ecoada pelo Dr. Roberto Paulino-Ramirez, da República Dominicana, onde a supressão viral para aqueles em terapia também está em torno de 50%. Segundo ele, como em muitos outros ambientes com recursos limitados, o teste de carga viral do HIV não é atualmente uma prioridade no país, já que o laboratório que o fornecia anteriormente agora dedicado ao novo coronavírus.

A pandemia também levanta desafios em relação aos serviços de testagem para HIV e ao atendimento daqueles recém-diagnosticados, que exigem um maior grau de monitoramento clínico para a saúde física e psicológica. Muitos médicos expressaram preocupação com os bloqueios nacionais, desencorajando as pessoas a procurarem serviços de acompanhamento e teste de HIV, com menos ou nenhuma consulta presencial sobre saúde sexual em muitos locais. Houve uma mudança na provisão de serviços virtuais e telefônicos, com sugestões da necessidade de ampliar os programas de autoteste de HIV.

A Dra. Marta Boffito compartilhou a experiência de reorganizar rapidamente os serviços de HIV em Londres em uma semana, com a maioria das clínicas se tornando virtuais oferecendo consultas por telefone, deixando apenas uma clínica central de Londres aberta para aqueles que precisavam ser vistos com urgência.

Com muitos clínicos anteriormente dedicados a fornecer serviços de saúde sexual e HIV remanejados para responder ao COVID-19, a Dra. Monica Gandhi disse que os serviços de HIV em San Francisco também passaram a fazer consultas telefônicas. Ela observou que foi a primeira vez que indivíduos com uma doença crônica foram desencorajados ativamente a procurar assistência médica e expressou preocupações sobre como as pessoas com HIV seriam afetadas pelos sistemas de saúde que são sobrecarregados pelo COVID-19.

Apesar dos desafios atuais, os profissionais de saúde mencionados acreditam que a pandemia de COVID-19 também pode contribuir para encontrar soluções inovadoras em relação a testes, prestação de serviços e gerenciamento do HIV. O Dr. Herdoiza, do Equador, disse que era importante aproveitar as lições aprendidas com a resposta ao HIV e aplicá-las à atual pandemia. “Uma é que os profissionais de saúde precisam trabalhar em estreita colaboração com organizações da sociedade civil e comunidades, a fim de garantir que as soluções sejam adaptadas para atender às necessidades das pessoas afetadas pelo HIV e COVID-19.”

A pandemia também abriu novos caminhos para o atendimento daqueles que são estáveis e requerem menos interações clínicas, liberando os médicos para dedicar mais tempo àqueles com maiores necessidades. A Dra. Boffito, do Reino Unido, encerrou sua palestra dizendo que, após reflexão, a atual pandemia pode fornecer respostas importantes para perguntas sobre o que virá a seguir para quem vive com HIV e o que pode ser feito melhor no futuro. Mas isso só será possível após uma avaliação cuidadosa do que foi esquecido durante esta crise.

Redação da Agência de Notícias da Aids com infomações

* Texto publicado no dia 30 de abril de 2020.

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