Era início de noite em Miami Beach, nos EUA, e a Parada Anual do Orgulho LGBT mal havia terminado quando Rene Chalarca e seu namorado, Dmitry Logunov, andavam de mãos ao sair de um banheiro público. Acidentalmente, Logunov esbarrou em um estranho, Juan Carlos Lopez, de 21 anos. E, segundo a polícia, foi aí que o repentino ataque começou: Lopez e três outros homens que estavam com ele espancaram o casal de forma “brutal”, enquanto gritavam insultos em espanhol como “maricones” (algo como “maricas”).

Os quatro foram, inicialmente, acusados de agressão, mas, na última quinta-feira, a acusação foi atualizada para crime de ódio. Lopez e seus co-réus — Luis Alonso Piovet, de 20 anos; Adonis Diaz, de 21; e Pablo Reinaldo Romo-Figueroa, de 21 — podem pegar até 30 anos de prisão se forem condenados. Todos eles se declararam inocentes.

“Essas acusações enviam uma mensagem forte de que o crime de ódio NUNCA será tolerado”, disse o policial Paul Acosta, de Miami Beach, no Twitter.

A surra, que aconteceu no dia 8 de abril, foi capturada em um vídeo de vigilância, que, de acordo com a polícia, mostra Lopez e os outros dando socos repetidamente no casal. Chalarca e Logunov foram tão fortemente atingidos no rosto que eles caíram no chão. Logunov chegou a ficar temporariamente inconsciente.

No dia seguinte ao incidente, a polícia de Miami Beach divulgou o vídeo do ataque, pedindo ajuda do público para encontrar os homens. Os quatro se entregaram um dia depois. Eles foram acompanhados de um advogado, Dennis Gonzalez, que contestou a ideia de que seus clientes atacaram Chalarca e Logunov com base em sua orientação sexual, alegando que os quatro homens sequer saberiam, naquele momento, que eles eram gays. Segundo Gonzalez, o vídeo de vigilância foi retirado do contexto.

“Todos os meus quatro clientes condenam atos de violência motivados pelo ódio contra a comunidade gay, pela nacionalidade ou qualquer outra coisa dessa natureza”, disse ele ao jornal americano “Washington Post”. “Não acreditamos que tenha havido algum tipo de animosidade em relação à comunidade gay.”

Um ‘bom samaritano’ no caminho

Chalarca e Logunov não foram os únicos feridos no ataque naquele dia. Outro homem, Helmut Muller Estrada, foi espancado quando tentou impedir a agressão.

Conforme relatado pelo jornal local “Miami Herald”, Muller Estrada estava de pé perto do banheiro quando viu Chalarca e Logunov serem espancados, um ataque “completamente não provocado”, disse ele.

“Eles quase mataram esses caras, literalmente”, contou Muller Estrada. “Tudo aconteceu tão rápido. Eu estava com muita raiva e só queria defender esses caras, independentemente de sua orientação sexual. Não importa.”

Ele gritou para os quatro homens pararem, mas acabou sendo derrubado no chão e agredido também. Muller Estrada bateu a cabeça com tanta força no concreto que sua lesão exigiu quatro pontos, informou o “Herald”. O corte deixou uma poça de sangue no chão.

O advogado Gonzalez disse acreditar que a história completa ainda será esclarecida e que ele não poderia comentar sobre as razões do conflito ou o motivo pelo qual Muller Estrada também foi agredido.

No dia 25 de abril, a cidade de Miami Beach concedeu a Muller Estrada uma medalha dedicada a quem realiza atos de heroísmo.

“Hoje, temos um residente da nossa cidade que foi um bom samaritano e que mostrou verdadeiros atos de bravura e heroísmo naquele dia”, discursou o comissário da cidade, Michael Góngora, durante uma cerimônia na qual tanto Chalarca quanto Logunov participaram. “Este homem é alguém que viu dois indivíduos sendo atacados e sentiu a necessidade de fazer a coisa certa, e ao fazê-lo, ele se feriu.”

Após a cerimônia, Chalarca disse ao “Herald” que acreditava que Muller Estrada salvou sua vida. E Logunov disse acreditar, sem sombra de dúvida, que eles foram atacados por causa de sua orientação sexual.

Fonte: O Globo