Mais da metade dos paulistanos já viveu ou presenciou cenas de preconceito contra o público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) em espaços públicos na cidade de São Paulo, segundo a 1ª Pesquisa da Diversidade realizada pela Rede Nossa São Paulo.

O levantamento mostra que 51% dos entrevistados já foi ou viu outra pessoa sendo vítima de preconceito de gênero ou orientação sexual em espaços públicos. Outros 46% vivenciaram ou presenciaram as mesmas situações no transporte público da cidade.

“A cidade de São Paulo é uma cidade hostil à população LGBT. Por mais que a população LGBT represente 5% da população paulistana, chama a atenção o fato de 5 em cada 10 entrevistados já terem vivenciado ou presenciado situações de preconceito contra LGBTs em espaços ou transporte público da cidade”, afirmou Américo Sampaio, gestor de projetos da Rede Nossa São Paulo.

“Esses dois espaços são os mais violentos com essa população. Neste sentido, é fundamental que o poder público, principalmente o Executivo, invista em políticas públicas que tirem a invisibilidade das questões relativas à população LGBT.”

A pesquisa da Rede Nossa São Paulo incluiu no seu perfil amostral a pergunta de autodeclaração sobre a orientação sexual dos entrevistados. O resultado aponta que 90% dos paulistanos disseram ser heterossexuais, 3% homossexuais, 2% bissexuais e 5% não souberam ou não responderam.

Ao todo, foram ouvidas 800 pessoas, sendo 46% do sexo masculino e 54% do sexo feminino. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

A Zona Norte da cidade é a região em que as situações de preconceito de gênero ou orientação sexual ocorrem com mais frequência, segundo relato de 19% dos entrevistados.

Cerca de 3 a cada 10 paulistanos (28%) não tiveram contato com nenhuma das situações de preconceito investigadas. Desses, 37% estão localizados na região Sul.

Do total de entrevistados, 4 em cada 10 paulistanos já vivenciaram ou presenciaram situações de preconceito contra LGBTs em escolas, faculdades, shoppings, comércios, bares e restaurantes. E 3 em cada 10 paulistanos tiveram contato com esse tipo de violência no trabalho, na família e em banheiros públicos e de estabelecimentos privados.

A pesquisa apontou, ainda, que 13% dos entrevistados vivenciou todas as situações de violência citadas. A população de 25 a 34 anos, da classe B e com maiores rendas, é o perfil do grupo que já presenciou ou vivenciou todas as formas de violência citadas na pesquisa.

Quando são analisados os dados por região, a população da Zona Oeste é a que mais vivenciou ou presenciou situações de preconceito relativas ao gênero ou orientação sexual nos espaços públicos (57% dos entrevistados dessa região). Já a população da Zona Norte foi a que mais vivenciou ou presenciou a violência LGBT no transporte público (54% da região).

Cerca de 3/4 dos paulistanos avaliam que a administração municipal tem feito pouco ou nada para combater a violência contra a população LGBT. Para 46% dos entrevistados a Prefeitura de São Paulo tem feito muito pouco para combater esse tipo de violência e para 28% a Prefeitura não tem feito nada. Apenas 8% dos entrevistados afirmam que a Prefeitura tem feito muito para garantir a segurança da população LGBT. E 18% não souberam ou preferiram não responder a pergunta.

Américo Sampaio ressaltou a necessidade da administração municipal criar políticas públicas para diminuir o preconceito contra a população LGBT. “Algumas das possibilidades nesse caminho são: criar equipamentos públicos como Centros Municipais de Cidadania LGBT em todas as regiões da cidade; manter diálogo permanente com os movimentos LGBT para monitorar a atuação dos governos com relação ao tema; promover formação para a Guarda Civil Municipal (GCM) com temas relacionados aos direitos LGBT+; e desenvolver políticas municipais para a criação de certificados para estabelecimentos públicos e privados de espaços livres de preconceito”, disse.

Tolerância

Para 50% dos paulistanos a cidade é totalmente tolerante em relação à população LGBT, enquanto para 23% a cidade é indiferente ao tema, e para iguais 23% a cidade é intolerante com relação a esse segmento da sociedade. Outros 4% dos entrevistados não souberam ou preferiram não responder a essa questão.

A percepção de tolerância é maior entre o público com maior nível de instrução, idade e classe social. Segundo a pesquisa, a cidade é mais tolerante entre os moradores da Zona Leste (56%) é a maior.

De acordo com a Rede Nossa SP, uma hipótese para um valor tão alto de entrevistados que entendem que a cidade de São Paulo é tolerante é o desconhecimento do tema ou o desinteresse (e até desinformação) com relação ao tema da violência e LGBTfobia.

Nível de aceitação

Mais da metade dos entrevistados é favorável à criação de leis de incentivo à inclusão dos LGBT no mercado de trabalho (54% de favorabilidade), a pessoas transexuais e travestis adotarem o nome social, ou seja, o nome pelo qual preferem ser chamados (53% de favorabilidade) e à adoção de crianças por casais homossexuais (51% de favorabilidade).

Quanto ao casamento entre homossexuais, 45% dos paulistanos são favoráveis ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. No entanto, apenas 23% dos entrevistados são favoráveis a pessoas do mesmo sexo demonstrarem afeto, como beijos e abraços, na frente dos seus familiares, enquanto 38% são contra.

A maior rejeição pelo paulistano refere-se a criação de banheiros unissex, ou seja, sem demarcação de gênero. Somente 20% dos entrevistados são favoráveis à ideia, enquanto 52% são contrários.

O perfil do grupo mais favorável a questões relacionadas à população LGBT é composto por mulheres, mais escolarizadas, da região oeste da cidade, de religiões diversas, com renda familiar de mais de 5 salários mínimos e com idade entre 25 e 34 anos.

Já o perfil do grupo mais contrário a questões relacionadas à população LGBT+ é composto por homens, menos escolarizados, da região leste da cidade, evangélicos ou protestantes, com renda familiar de menos de 2 salários mínimos e com mais de 55 anos.

O prefeito Bruno Covas afirmou durante agenda nesta terça que a Prefeitura tem interesse em ampliar as políticas afirmativas.

“Acho que são ações que vão se incrementando ao longo do tempo, não é à toa que nós tivemos na semana passada a assinatura de dois decretos, um deles aperfeiçoando o programa Transcidadania, o outro garantindo e ampliando a utilização do nome social. A Prefeitura está a disposição para que cada vez a gente possa ter mais políticas afirmativas de todos o segmentos da população que sofrem preconceito, que sofrem discriminação, que sofrem com a dificuldade de condições de igualdades”, disse Covas.

 

Veja a nota da Prefeitura de São Paulo na íntegra:

“A Prefeitura de São Paulo informa que investe em várias ações para combater a violência contra a população LGBTI. Na manhã desta terça-feira, o prefeito Bruno Covas reafirmou a disposição da administração municipal em “promover políticas afirmativas para todos os segmentos da população que sofrem com preconceito e discriminação”.

Uma das iniciativas, comandada pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos, é o aperfeiçoamento e ampliação do programa Transcidadania, de formação educacional e profissional. Ele passou a ser oferecido em todos os Centros de Cidadania, facilitando o acesso da população LGBTI em todas as regiões da cidade. O projeto disponibiliza, entre muitos outros, cursos de auxiliar de cozinha, fotografia, panificação, audiovisual, apoiando ainda o encaminhamento dos profissionais para diversas áreas (inclusive dentro do setor público), bem como a contratação em diversas empresas.

Além disso, a Prefeitura ampliou o Centro de Cidadania LGBTI Luiz Carlos Ruas (na região central de São Paulo), promoveu o Mutirão Nome Social, regulamentou o respeito ao nome social em órgãos públicos e lançou o edital para desenvolvimento de um aplicativo de defesa da cidadania LGBTI.

Há ainda uma parceria com a Defensoria Pública do Estado de São Paulo: a cada 15 dias, um Defensor Público fica à disposição do público, no Centro de Cidadania LGBTI Luiz Carlos Ruas, para atender a demandas diversas na área jurídica. Há a expectativa de expansão deste atendimento também para os outros Centros de Cidadania.

Vale destacar também os projetos SP com ReSPeito, a realização do primeiro Casamento Coletivo Igualitário, a primeira edição da Caminhada da AIDS e a campanha “Carnaval é alegria, diga não à LGBTfobia”.

A SP Trans repudia qualquer manifestação de desrespeito ao público LGBTI no transporte público e informa que os operadores dos veículos estão preparados para agir em caso de ocorrências. O Jornal do Ônibus, que circula nos coletivos, traz conteúdos que reforçam a importância da valorização da diversidade.”

Fonte: G1