Na manhã desta terça-feira (22), um grupo de profissionais de saúde e manifestantes bloqueou o trânsito em frente ao Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na capital paulista, em protesto contra o fechamento de leitos e o desmonte da saúde pública. Médicos, residentes, assistentes sociais, técnicos de enfermagem, ativistas e outros profissionais participaram da manifestação, levantando bandeiras e faixas com mensagens como “Em defesa do SUS” e “Emílio Ribas pede socorro”.

Os manifestantes denunciaram o abandono de obras no hospital, que há 10 anos impede a expansão de leitos. Segundo eles, atualmente apenas 20% da capacidade de internação está em funcionamento. “Há uma década prometeram 300 leitos, mas hoje operamos com menos de 100, e agora mais 38 leitos estão ameaçados de fechamento”, relatou o residente de infectologia Bernardo.

A situação do hospital, referência no tratamento de doenças infecciosas como HIV e covid-19, se agravou com o fim de contratos com organizações sociais que prestavam serviços ao Emílio Ribas. A falta de reposição de profissionais é outro ponto de destaque, já que muitos médicos e funcionários se aposentaram ou foram desligados, sem a convocação de novos concursados.

Luta pela saúde pública

A dra. Marta Ramalho, infectologista do Emílio Ribas, liderou o protesto e criticou as condições precárias de trabalho e o descaso do governo estadual. Ela lembrou que o prazo para reabertura dos leitos por 60 dias está prestes a acabar, o que deixaria o hospital ainda mais desfalcado às vésperas do Natal. “Essa reabertura temporária não é motivo de celebração. Precisamos de soluções definitivas”, enfatizou Marta.

Outras vozes presentes, como a médica Cláudia Mello, reforçaram a importância de lutar pela valorização do Emílio Ribas e pela conclusão das obras. “Esse hospital é fundamental para o tratamento de doenças infectocontagiosas e precisa de gestão eficiente e comprometida com a saúde pública”, declarou.

Representando a enfermagem, Carla destacou a falta de reposição de profissionais. “Estamos perdendo colegas que se aposentam ou falecem, e ninguém é chamado para repor essas vagas. A enfermagem é a base do hospital, e precisamos estar completos para oferecer atendimento de qualidade”, afirmou.

Impacto na saúde pública

O protesto também chamou a atenção para o impacto na formação de novos profissionais e na continuidade das pesquisas. Maria Lúcia, psicóloga do Emílio Ribas, alertou para as consequências da falta de reposição de equipes, o que compromete a transmissão de conhecimento e a qualidade do atendimento. “O Emílio Ribas é uma referência internacional, mas sem novos profissionais e sem investimentos, corremos o risco de perder tudo o que foi construído ao longo dos anos”, disse.

Os manifestantes prometeram continuar a luta pela reabertura dos leitos e pela valorização do hospital, que é um símbolo da resistência do SUS e da saúde pública em São Paulo.

Outras vozes

O ato contou com a presença de Carol Iara, co-deputada estadual pela Bancada Feminista do Psol e ativista que vive com HIV. A parlamentar reforçou a importância do Emílio Ribas para o enfrentamento de doenças infecciosas, como HIV/aids e covid-19. “O meu plano de saúde é o SUS! O Emílio Ribas é um patrimônio que está sendo atacado sistematicamente, principalmente pelo atual governo, mas os ataques já vêm de longa data”, disse Carol. Ela também criticou o fechamento da enfermaria do sexto andar, que considera parte de uma política de privatização sem reposição adequada de serviços. “Querem um apagão no Emílio Ribas, mas a gente não vai deixar!”, afirmou.

Os manifestantes trouxeram elementos simbólicos ao protesto, incluindo um “bolo de desaniversário”, em referência ao atraso nas obras e à falta de investimento no hospital. Eles cantaram “parabéns” em tom de crítica, enquanto seguravam cartazes denunciando a precarização dos serviços de saúde.

A manifestação também teve uma intervenção artística protagonizada por Jon Diegues, bailarino e pessoa vivendo com HIV, que encenou uma performance representando o sofrimento de um paciente agonizando, simbolizando o impacto do descaso com a saúde pública. A apresentação foi seguida por um momento em que o personagem do paciente se transformava em um político, criticando o ataque ao hospital.

Marcha até a Secretaria de Saúde

Após o ato no Emílio Ribas, os manifestantes seguiram até a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Com faixas, apitos e gritos de ordem, eles protestaram contra o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário de saúde, Eleuses Paiva, pedindo diálogo para solucionar a crise. Mesmo sem serem atendidos, os manifestantes mantiveram a manifestação pacífica, enquanto as portas da secretaria foram fechadas e protegidas com pedaços de madeira.

O residente Bernardo destacou que, embora a notícia do fechamento de 38 leitos tenha sido revertida temporariamente, a solução é insatisfatória. “Ninguém aqui está satisfeito com leitos que abrem e fecham a cada 60 dias. Isso não resolve o problema de saúde da população”, afirmou.

A manifestação, que durou pouco mais de duas horas, foi encerrada com um pedido de atenção urgente à crise na saúde pública e uma promessa de continuidade na luta por melhores condições no Instituto Emílio Ribas.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

Instituto de Infectologia Emílio Ribas

Tel.: (11) 3896-1200