Ativistas se manifestaram contrários à proposta de mudança no Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo (CRT). Como mostrou a reportagem da Agência de Notícias da Aids, a equipe do CRT foi informada que há uma discussão na Secretária Estadual de Saúde de São Paulo (SES-SP) sobre mudanças institucionais na coordenação do Programa Estadual de DST/Aids do Estado. Segundo a proposta, o Programa sairia do CRT para fazer parte da coordenadoria de Controle de Doenças do Estado, separando, assim, seria a coordenação do Programa dos serviços de assistência.

Usuários do serviço e ativistas falaram sobre o impacto que essa mudança pode trazer para a política de aids do estado de São Paulo e do país. Confira:

 

Fabiana Oliveira, Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Essa mudança não é benéfica, pois sabemos que a junção Programa Estadual de ISTs/Aids e CRT tem alcançado resultados positivos na assistência e prevenção do HIV/Aids ao longo destes 40 anos de epidemia, tornando-se uma referência para o país, além de ampliar a participação dos usuários. É preocupante os rumos que a Política de Aids está tomando e, principalmente a forma que vem acontecendo, sem consultar e respeitar as instâncias de controle social.”

José Roberto Pereira, projeto Bem-me-Quer: “É um profundo retrocesso. Um prejuízo imensurável inclusive para a resposta nacional à epidemia porque o estado de São Paulo que puxa os dados epidemiológico pra baixo. O Programa Estadual de DST/Aids e o CRT já estão amalgamados há trinta anos. Eles coabitam, agem em sinergia. Então a separação desses dois espaços significa o risco eminente de reduzir a capacidade de gestão do próprio programa, considerando que o estado de São Paulo tem mais de 180 municípios prioritários que precisam de um Program capaz de monitorar e lançar novas tecnologias de prevenção, ajudar no abastecimento dos antirretrovirais, realizar capacitação, dentre outras ações. Outro fator é que o CRT é um centro importantíssimo, sendo referência nacional e internacional, tanto que muitas pesquisas são feitas ali. Qual é o ambulatório de aids que tem um laboratório específico para a população trans?, por exemplo. E muito desse resultado se deve ao fato de o Programa Estadual estar lá dentro monitorando todo esse trabalho. Sou veementemente contra e vamos mover e fazer todos os esforços para que isso não ocorra. Isso demonstra um risco iminente para a epidemia da aids em São Paulo voltar a subir de forma importante.”

 

Silvia Almeida, ativista e consultora do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids): “Em um momento que acaba de ser lançada um relatório sobre os impactos da discriminação e do estigma no tratamento efetivo das pessoas que vivem com HIV e a gente entende que o CRT é um lugar acolhedor, um espaço onde nós nos sentimos protegidos, respeitados, inteirados na construção da política pública. Dividir esse espaço agora é enfraquecer tudo o que a gente vem entendendo como respostas positivas não só ao tratamento, mas também ao trabalho para o fim da epidemia. Estamos vendo o lançamento de dois relatórios importantes: um sobre os índices de discriminação e outro sobre o que é um serviço de saúde zero discriminação. Temos dois parâmetros sobre como é importante ter espaços como o CRT, onde a gente pode fazer o tratamento de saúde, psicológico e estar interagindo na construção dessas políticas públicas. É inadmissível que esse retrocesso venha com essa separação.”

 

Redação da Agência de Notícias da Aids