Diante da necessidade de isolamento frente à crise do coronavírus, profissionais de psicologia se reuniram em uma live para debater a psicoterapia durante a quarentena, nessa terça-feira (24).

A atual gestora do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP), Suely Castaldi esclareceu o papel dos atendimentos online por meio de plataformas como o skype ou até mesmo o whatsapp e ressaltou a importância da ética, principalmente neste contexto. “Levando em consideração que o exercício da profissão do terapeuta se pauta em um compromisso ético, com uma ação comprometida a uma emancipação da condição humana, é por isso que defendemos os direitos humanos e a democracia, nos pautando pelo exercício da dignidade, contemplando a diversidade de todos os seres humanos. E é por isso que devemos tomar cuidado com o que transmitimos via redes sociais.” 

Emiliano Davida psicólogo d do Instituto AMMA Psique e Negritude disse que a sociedade já vem em um processo de distanciamento de indivíduos, “no entanto, o Covid-19 nos coloca em uma outra esfera de isolamento. Isso faz com que os profissionais de saúde também tenham que se adaptar e reformular suas maneiras de trabalhar.”

“Há um risco de cairmos na crença de que esse isolamento traz uma perspectiva voltada para o individualismo. Porque na verdade, as pessoas continuam buscando o comum, e própria psicoterapia precisa buscar referências do que acontece no meio social”, complementa. 

Nesse aspecto, Suely explica que o código de ética continua sendo fundamental na prática terapêutica, ainda que por meio virtual. Há orientações inclusive para o trabalho relacionado ao coronavírus e pode ser acessado clicando aqui.

Além disso, o CRP-SP já solicitou posicionamento para a Agência Nacional de Saúde autorização clara a respeito da cobertura dos planos de saúde para atendimento psicoterápico virtual.

Suely ressalta que a publicidade em torno do trabalho do psicólogo não é autorizada, mesmo nos casos do voluntariado, uma vez que o código de ética pede que a divulgação do trabalho não seja feita em razão do preço, uma vez que falar de valores induz à concorrência desleal entre profissionais. A gratuidade não fica fora disso, segundo ela. 

Emiliano lembra que o voluntarismo não pode ser confundido com o voluntariado, “já que o primeiro tende a se aproximar do assistencialismo e da valorização do profissional em detrimento daqueles que buscam tratamento. A população negra, pobre vive em constante situação de emergência e de desastres. Então precisamos enxergar isso não como algo factual, mas que é algo recorrente e muito presente na vida de muitas pessoas.”

Aumento da violência doméstica

Após dados que mostram aumento expressivo das denúncias de violência doméstica durante a quarentena, Suely coloca que, dentro de contextos em que se identifica violações de direitos, deveria haver um atendimento presencial, já que é um tipo de serviço que demanda uma equipe especializada.

Por outro lado, Emiliano defende que dificilmente haverá atendimento a mulheres que não foram violentadas. “Acredito que se houver um cuidado do profissional, um atendimento que leve em consideração que a violência patriarcal é estrutural. Qualquer psicólogo precisa ter em mente que vai lidar com aspectos de violência. Na prática a gente sabe que esse acolhimento será ofertado. Inclusive para não violentar essa pessoa duas vezes.  Lidaremos com violência de gênero em qualquer uma das formas de atendimento.”

Assim, durante o debate, Sueli concorda que essa é uma resolução que precisa ser revista em breve. como estabelecer condições de atendimento, garantindo sigilo, de pessoas que estão isolamento e que estão sofrendo violência.

Nesse sentido, Emiliano chama atenção para a reformulação de modelos antigos e que, agora com a epidemia, não funciona mais. “Correr-se um risco de uma discussão antagônica porque a gente acaba reduzindo nossa atuação que faz crer que tudo deve ser em segredo, no espaço privado, levando os profissionais a voltarem a uma perspectiva muito tradicional do trabalho, restrito a salas fechadas.” afirma ao defender que sigilo pode ser ressignificado bem como a profissão. A intimidade precisa e pode ganhar o público, desde que com a autorização de quem protagoniza ela.”

 

Dica de entrevista 

CRP – SP

Telefone: (11) 3065-9494

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)