Nos últimos 10 anos, houve um aumento de 168% de casos de HIV entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.

Como uma vida sexual sem cuidados pode facilitar a transmissão das infecções sexualmente transmissíveis — Foto: Reprodução/TV Globo

O Profissão Repórter desta terça-feira (26) revelou como a vida sexual sem cuidados pode facilitar a transmissão das infecções sexualmente transmissíveis.

Avanços e desafios

A equipe acompanhou o atendimento no Hospital Emílio Ribas. Em 2011, o Profissão Repórter também esteve no hospital para gravar um programa sobre HIV. O programa voltou à unidade de saúde 13 anos depois para entender o que mudou nas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

O infectologista Bernardo Porto Maia, hoje chefe do atendimento no hospital, afirma que muitas coisas mudaram nesses mais de dez anos, incluindo as novas formas de tratamento.

“Em 2011, a gente não tinha avançado tanto assim em prevenção, como a gente avançou hoje. A realidade que a gente enfrenta13 anos depois, ela é um pouco melhor, sem dúvidas, com muitos avanços diagnósticos e terapêuticos”, afirma Bernardo.

Por outro lado, Bernardo destaca a incidência de ISTs na população mais jovem. No último boletim do Ministério da Saúde, jovens de 15 a 29 anos representaram quase metade dos casos de HIV notificados. Os dados são de 2022.

“Hoje, apesar da gente ter globalmente, um menor número de casos de infecções por HIV, a gente vê um crescimento em uma faixa etária, já com a vida sexual ativa”, afirma Bernardo.

A sífilis também cresce entre jovens. Na faixa etária entre 13 e 29 anos, a infecção aumentou mais de 800% em 10 anos.

“A gente consegue ver uma falha em saúde pública. A gente não conseguiu conscientizar esse jovem a acessar as estratégias de prevenção combinadas que a gente tem hoje disponíveis no SUS”, completa o infectologista.

Como uma vida sexual sem cuidados pode facilitar a transmissão das infecções sexualmente transmissíveis — Foto: Reprodução/TV Globo

O “chemsex” ou sexo químico

A equipe conheceu adeptos de uma nova prática: o “chemsex” ou sexo químico, uma prática sexual com uso de substâncias.

Augustto Purezza é médico em uma unidade de saúde particular de São Paulo. Ele menciona que, sob efeito das drogas, há o risco de descuido com a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). “Muitas vezes, o sexo é desprotegido e muitas vezes quando você está envolvido com a situação, no meio de um ‘chemsex’, você não vai pensar em redução de danos”, afirma.

A equipe também conversou com um homem que pratica o “chemsex”. Ele estava acompanhado de um outro rapaz, que teria passado mal após o uso de uma substância para esse tipo de relação. “Eu vou ter que levar ele o hospital. Meu Deus do céu […] ele está gemendo aqui, sexo com drogas, ele passou mal”, relata.

Ele admite que, durante o sexo químico, muita gente deixa de lado a proteção contra ISTs e se contamina:

“A metanfetamina deixa as pessoas muito tempo acordadas. Eu já fiquei cinco dias acordado. Então, as pessoas acabam relaxando. Eu tenho amigos que contraíram HIV nessa relaxada de três, quatro dias.“

A importância da prevenção

O Profissão Repórter mostrou também o trabalho de voluntários que, cientes dessa realidade, circulam por São Paulo para fazer testes de ISTs, explicar a importância da prevenção e alertar para os riscos de misturas de drogas.

Voluntários circulam por São Paulo para fazer testes de ISTs e explicar a importância da prevenção — Foto: Reprodução/TV Globo

Lucas Raniel, do coletivo Multiverso, lidera essa iniciativa e defende a testagem como método de prevenção de ISTs. “Vivenciei a metanfetamina durante 2 anos. Eu vivo com HIV há 10 anos e trabalho com a pauta de prevenção, saúde sexual e, após algumas vivências com o sexo químico, utilizando substâncias, vivendo isso tudo, levando para terapia, eu decidi falar um pouco sobre esse assunto”, relata Lucas.

O médico Fábio Mesquita, fundador da Associação Internacional de Redução de Danos, tem 35 anos de experiência e atua em parceria com a ONG Multiverso. Ele alerta que não são apenas as novas drogas que aumentam o risco de transmissão de infecções.

“Qualquer tipo de substância que altere a consciência da pessoa é considerado para gente sexo químico”, destaca o especialista.

‘Tem cliente que paga a mais para você não usar a camisinha’

Durante a ação de testagem de ISTs no Centro de São Paulo, a equipe conheceu Vinicius Farias, de 25 anos, que trabalha como garoto de programa, mas nunca havia realizado esse tipo de teste antes.

“Nunca fiz. Eu tenho medo de fazer e dá tipo, sei lá, positivo. Não sei porque eu trabalho com sexo, então é meio complicado”, conta o jovem.

Ele revela como se protege e relata que alguns clientes pagam mais para ter relações sexuais sem preservativo.

Voluntários circulam por São Paulo para fazer testes de ISTs e explicar a importância da prevenção — Foto: Reprodução/TV Globo

“Olha, é com a camisinha, mas é porque tem casos que tem cliente que paga a mais para você não usar a camisinha. Aí você acaba não usando e fazendo, aí você não sabe o que pode acontecer”, relata.

Clique aqui para assistir o programa na íntegra

Fonte: Profissão Repórter