Cerca de 80% da população indígena brasileira vive em aldeias e tem dificuldades em acessar os centros de saúde com a frequência necessária. Segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) “é preciso entender melhor quais são os obstáculos e os desafios dessa população, para que possamos avançar na gestão da saúde indígena”.

Estima-se que existam 370 milhões de pessoas indígenas no mundo. Quase 900 mil delas estão no Brasil, onde há o maior número de comunidades da América Latina – 305, segundo o relatório Povos Indígenas na América Latina. No Brasil o número de indivíduos nessa população é de aproximadamente 897 mil indivíduos.

Dados da Sesai mostraram que o número de casos diagnosticados de aids dobrou do ano de 2015 para o ano de 2016. Eram 6 casos em 2015 e no ano seguinte foram diagnosticadas 12 infecções. No entanto, estima-se que há uma grande subnotificação devido a dificuldade de acessar os povos que vivem em áreas mais isoladas.

Segundo a Sesai, uma das razões para o aumento de doenças nessa população acontece devido ao desconhecimento sobre as doenças, abuso de álcool, viagem de indígenas a centros urbanos, além de fatores externos, como a ocupação ilegal de não-indígenas, o trabalho de missões religiosas e a presença das Forças Armadas em áreas remotas.

Novos indígenas no Brasil

A crise venezuelana fez com que centenas de indígenas procurassem o Brasil para que pudessem ter acesso à saúde. “Se todo o país está em risco, as comunidades indígenas estão ainda mais, porque vivem em condições sanitárias extremamente precárias”, comentou Marianella Herrara, diretora do Observatório Venezuelano da Saúde (OVS).

A prevalência do HIV chega a 10% em algumas comunidades. “Nas pequenas, quase todos os homens entre 16 e 23 anos têm o vírus”, afirmou o médico holandês Jacobus de Waard, do Instituto de Biomedicina da Universidade Central da Venezuela, que trata dos warao, etnia que mais procurou por refúgio no Brasil e que, hoje, conta com um acampamento na cidade de Boa Vista, em Roraima. “Em algumas comunidades, 35% da população adulta masculina está infectada. Em relação às mulheres, os casos chegam a 2%”.

A porcentagem de infecção nessa população é significativa, já vez que a prevalência do vírus do HIV na Venezuela é de 0,6%, de acordo com números da Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/Aids (Unaids).

“A maioria das infecções por HIV começam como um tipo viral chamado R5 e, à medida que a doença avança, o vírus se transforma em X4. Essa variante é muito mais agressiva, porque leva a um estado de deficiência imunológica mais rapidamente”, explica Héctor Rangel, biólogo, do IVI, que também participou da pesquisa. Segundo ele, 90% dos warao têm o vírus X4 e isso não é comum nem na América Latina nem no resto do mundo.

Orçamento 

Nos últimos três anos, os cuidados com a saúde indígena têm sofrido cortes nos orçamentos. Em 2017, o Ministério da Saúde empenhou R$ 1,8 bilhão para promoção, proteção e recuperação da saúde desses povos. No ano passado, o valor aplicado para essas mesmas atividades foi de R$ 1,54 bilhão. Para 2019, está previsto um número ainda menor, de R$ 1,4 bilhão.

O portal da Sesai garante que todas as comunidades indígenas são atendidas. “Atualmente, contamos com 13.989 profissionais para garantir a assistência primária à saúde e ao saneamento ambiental nos territórios indígenas. São 360 polos base e 68 Casas de Saúde Indígenas (Casai), que atendem a 305 etnias, de povos de 274 línguas e 597 terras indígenas”, detalha.

Dados da Sesai mostram que os atendimentos indígenas aumentaram 400% nos últimos quatro anos. Entre 2014 e 2018, a secretaria específica para essa população contabilizou 16,2 milhões de assistências (vacinação, saúde bucal, vigilância alimentar e nutricional, consultas de pré-natal, de desenvolvimento infantil e de promoção da saúde). Em 2014, foram 1,1 milhão de atendimentos. Até novembro do ano passado, dado mais recente, 5,6 milhões.