Cotado para assumir as pastas, Robert Kennedy Jr., um conhecido antivacina, traz riscos a pesquisas, tratamentos e à alimentação no país
O presidente eleito dos EUA Donald Trump prometeu “uma nova era” para as agências federais e das políticas de saúde. Deverá ser mesmo nova, e com impacto para a saúde global. A nova era de Trump pode ter menos regulações de medicamentos e alimentos, fim do financiamento de pesquisas de doenças infecciosas e restrições a vacinas.
Um dos nomes mais cotados para o comando dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) é o de Robert Kennedy Jr., abertamente antivacina. O orçamento de US$ 47 bilhões (R$ 267,52 bilhões) faz do NIH a mais bem financiada instituição de saúde do mundo.
O NIH é responsável por cerca de metade de todo o investimento federal em ciência básica. Mas republicanos já propuseram reduzir o número de institutos que compõem o NIH de 27 para 15 e diminuir o valor de bolsas de pesquisa.
Kennedy apoiou Trump após desistir de sua candidatura presidencial. E, eleito, o republicano afirmou para Kennedy “ir em frente” e “ser audaz” em temas de saúde, medicina e política alimentar.
Em seu discurso de vitória, Trump reiterou a promessa de reformas na saúde. Disse a seus apoiadores que Kennedy “vai ajudar a tornar a América saudável novamente… Ele é um grande cara e realmente quer fazer algumas coisas, e vamos deixá-lo fazer isso.”
Kennedy, por exemplo, já sugeriu acabar com a necessidade de acrescentar flúor à água potável. “Parece bom para mim”, foi a resposta de Trump à proposta de remover o flúor, comprovadamente seguro e eficaz na prevenção de cáries.
Essa é só uma das muitas ideias de Kennedy. Dentre outras coisas, propõe uma “pausa” de oito anos no financiamento de pesquisas de doenças infecciosas, como Aids, Covid-19 e dengue, diz a revista americana Science. Kennedy quer direcionar as verbas para doenças crônicas, como o câncer e males cardíacos.
Vacinas e alimentos
Embora não haja ainda confirmação sobre um cargo, ele já participa da escolha de candidatos para comandar as agências de saúde como o NIH e a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA). A política de imunização também pode sofrer mudanças, alerta o site especializado Stat.
Kennedy já se declarou favorável ao fim de taxas que os laboratórios pagam à FDA e ajudam a financiar o trabalho da agência responsável pela segurança dos remédios e da comida nos EUA.
Quer avaliar ele mesmo a segurança de vacinas, embora seja advogado e não médico ou profissional de qualquer outra área biomédica.
Dentre os planos está ainda relaxar a regulação sanitária do leite cru. Também já disse que gostaria de remover restrições a alimentos ultraprocessados e aditivos alimentares.
O presidente eleito não exagerou quando prometeu muitas mudanças. Trump declarou que bloqueará o financiamento federal para procedimentos de afirmação de gênero e proibirá esses cuidados para menores de idade.
E, se seguir o Projeto 2025, da Heritage Foundation, considerada a agenda conservadora de seu governo ,Trump poderá restringir a pesquisa com tecido fetal e acabar com a necessidade de estudos submetidos ao NIH serem aprovados por avaliações técnicas.
Com maioria republicana no Senado, deverá ter apoio para avançar nessas pautas.
O ex-diretor do NIH, Harold Varmus, disse à Science ver “riscos enormes” à ciência e à saúde, sobretudo diante da possibilidade de alguém com as posições e falta de qualificação de Kennedy assumir um cargo tão importante.
— Minha primeira reação é que a administração Trump pode ser a mais anti-saúde pública e anticiência da história — resumiu ao jornal britânico Guardian Lawrence Gostin, do Instituto O’Neill de Direito Nacional e Global de Saúde da Escola de Direito de Georgetown
Fonte: O Globo