Com uma equipe de 30 pesquisadores do Brasil e Argentina, estudo multicêntrico inclui levantamento de políticas públicas e pesquisas de campo em países da América do Sul para compreender as experiências com a PrEP na prevenção ao HIV
O levantamento mais recente do UNAIDS aponta que, na América Latina, o número de pessoas vivendo com HIV é de 2.2 milhões de pessoas. Em 2022, foram detectados um total de 110.000 novos casos região. Somente no Brasil, de acordo com dados do Boletim Epidemiológico, emitido pelo Ministério da Saúde (SM), neste mesmo ano, foram notificados 43.403 casos de infecção pelo HIV.
Na América Latina, o Brasil é o país com maior número de pessoas vivendo com o vírus da aids (960 mil), seguido pelo México (360 mil) e Colômbia (170 mil). A urgência de reverter esse cenário levou o UNAIDS a estabelecer uma meta: reduzir em 90%, o número de novas infecções e mortes relacionadas à aids na Agenda 2030.
A “Agenda 2023” é um conjunto de metas e objetivos estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), para serem alcançados até o ano de 2023. Ela abrange diversas áreas, como saúde, educação, meio ambiente e desenvolvimento social. No contexto do HIV, a Agenda pode estipula metas relacionadas à prevenção, tratamento e erradicação do estigma associado ao HIV/aids, visando acabar com a epidemia até 2030.
Nesse sentido, uma pesquisa inédita teve início em dezembro de 2023, na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) coordenada pelo professor, André Luiz Machado das Neves, pesquisador em saúde coletiva e por Kris Herik de Oliveira, doutor em Ciências Sociais pela Unicamp. O objetivo do estudo é desenvolver um levantamento etnográfico sobre o uso da Profilaxlia Pré-Exposição (PrEP), de modo a coletar dados sobre experiências de acesso, uso e gestão dessa abordagem preventiva.
Vale esclarecer que a PrEP é uma tecnologia preventiva que já apresenta bons resultados na redução do número de novas infecções ao HIV em países como a Austrália e Inglaterra. No Brasil, segundo dados do Painel PrEP, atualmente, 80.356 usuários estão em tratamento.
“O uso da PrEP é uma estratégia reconhecida pela OMS e por isso, fundamental no controle da epidemia HIV/Aids. Por isso, contamos com uma equipe que realizará entrevistas em várias regiões do Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia, de modo a coletar as seguintes informações: motivações, dificuldades e facilidade de acesso ao programa”, esclarece Neves.
Qual o papel da PrEP no combate ao HIV?
A PrEP é um tratamento preventivo contra o vírus HIV, com foco em públicos com risco aumentado de infecção, utilizando dois fármacos (tenofovir e emtricitabina). Combinados, os medicamentos ajudam a bloquear as entradas e instalação do vírus no organismo.
De acordo com o Ministério da Saúde, existem duas abordagens desse tratamento, a diária e sob demanda. No primeiro caso, a recomendação do Ministério é a tomada diária da medicação por pessoas maiores que 15 anos e peso corporal superior a 35kg e que seja de alguma população considerada chave para o controle da epidemia (gays e homens que fazem sexo com outros homens, pessoas trans e usuários de drogas injetáveis). Já a sob demanda é utilizada por essa mesma população, mas considerando um contexto programado de relação sexual sem o uso de camisinha.
Oliveira destaca a importância de aumentar a quantidade de dados sobre o uso do tratamento, por intermédio de pesquisas qualitativas. “Além do público-alvo, teremos informações qualificadas dos profissionais de saúde, por meio da vivência diária no atendimento de pacientes ou pessoas que procuram o exame. Do mesmo modo, será possível comparar as experiências entre diferentes regiões e grupos sociais, com a identificação dos marcadores com mais ou menos resultados”, observa o pesquisador.
Qual a metodologia de pesquisa utilizada?
O recorte de avaliação do projeto é investigar in loco, dois grupos de agentes: pessoas maiores de 18 anos que fazem uso de PrEP e são HIV negativas e profissionais de saúde envolvidos na prescrição e gestão do tratamento.
Para alcançar os propósitos apresentados, a pesquisa será dividida em três fases: revisão da literatura e levantamento de políticas públicas, pesquisas de campo com entrevistas semiestruturadas e observação participante e a análise interpretação de conteúdo sobre a temática dos dados.
Além disso, as atividades serão conduzidas em diferentes municípios das cinco macrorregiões do Brasil, bem como em cidades da Argentina, Bolívia e Paraguai. “Esperamos que os resultados preencham uma lacuna importante nos estudos qualitativos sobre PrEP, de modo a contribuir com uma abordagem mais humanizada na prevenção do HIV, no Sistema Único de Saúde (SUS) e ainda, nas iniciativas desenvolvidas em outros países da América do Sul”, conclui Neves.
O projeto “Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) para prevenção ao HIV na América do Sul: etnografia das experiências de acesso, uso e gestão”, sediado na Universidade do Estado do Amazonas UEA), conta com pesquisadores/as da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids.
Do mesmo modo, estão envolvidos/as pesquisadores/as das seguintes instituições de ensino: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), – Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Universidade de Brasília (UnB) e, na Argentina, da Universidad de Buenos Aires (UBA) e do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET).
A pesquisa é financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Ministério da Saúde do Brasil (Decit/SECTICS/MS).
Redação da Agência de Notícias de Aids com informações
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