A novidade foi anunciada durante coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira (5), no Teatro Vivo

Não é de hoje que a maior parada do orgulho LGBT+ do mundo para a Avenida Paulista para festejar a diversidade e cobrar por direitos políticos-sociais aos mais vulneráveis, mas depois de 27 anos, pela primeira vez na história, o movimento social organizado de luta contra a aids, ganha um trio oficial na festa. A novidade foi anunciada durante coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira (5), no Teatro Vivo.

Neste ano, a 27 edição da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, que acontece no próximo domingo (11), com expectativa de mais de 4 milhões de pessoas de todos os cantos do país passando pela avenida, traz como tema central: “Queremos políticas sociais para LGBT+, por inteiro e não pela metade”.

O trio HIV/aids fará uma homenagem ao falecido ativista argentino Jorge Adrian Beloqui, que morreu em março deste ano. Mais de de 10 ONGs e instituições que lutam em prol dos direitos das pessoas vivendo com HIV/aids compõem este trio que irá levar à parada mensagens de conscientização, prevenção e de desconstrução de preconceitos e estigmas, como também irá reforçar a estratégia I=I (Indetectável = Intransmissível).

Além de entusiasta e pioneiro da luta contra a aids, Beloqui foi também um dos grandes nomes da militância pelos direitos das pessoas LGBTs. Sua militância teve início ainda nos primeiros anos da epidemia de HIV, após receber seu diagnóstico na década de 1989.

A homenagem inédita ao ativista foi anunciada na manhã desta segunda-feira (5), durante coletiva de imprensa que reuniu jornalistas, influenciadores digitais, outros profissionais da comunicação e os patrocinadores oficiais da parada do orgulho.

No encontro da APOLGBT-SP, seus patrocinadores, gestores públicos e com os comunicadores, foi destacado pela presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, Claúdia Garcia, que ‘‘milhares de pessoas pertencentes à comunidade LGBTQIAPN+, sobretudo as mais carentes, têm acesso falho a educação e ao direito à saúde, sofrem da LGBTfobia, da miséria, da fome, do preconceito dentro e fora de casa, seja nas ruas ou até mesmo nos serviços de saúde’’.

A mensagem passada pela presidente foi complementada no vídeo manifesto oficial exibido na ocasião, em primeira mão.

“Muito falamos do SUS (Sistema Único de Saúde), mas pouco ou quase nada falamos do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), que deveria garantir a proteção social aos cidadãos prestando apoio no enfrentamento de dificuldades. […] Não existe um olhar específico para quem sobrevive num país que viola nossas vidas, chegou a hora de iluminar os diversos dilemas vividos pela população LGBT+que se encontra em situação de rua, faltam moradias e empregos, e sobram pobreza e exclusão social, é necessário discutir temas que possam gerar respostas e soluções para os problemas que enfrentamos, o momento é agora. Políticas públicas serão debatidas, definidas e executadas, queremos reivindicar o modelo de gestão participativa onde o SUAS articule esforços para execução de políticas nacionais de assistência social LGBT+, a parada do orgulho tem um enorme poder de jogar luz sobre temas esquecidos ou ignorados pelo poder público”, diz um dos trechos.

A discussão sobre saúde continuou e contou com o questionamento feito pelo criador de conteúdo digital sobre HIV/aids, Lucas Raniel, acerca da necessidade de uma linguagem inclusiva e afetiva na comunicação sobre o vírus.

“Eu acredito que nós que entendemos um pouco da história LGBT+, sabemos que a violência contra a nossa comunidade ocorre há décadas e precisamos trazer como pauta principal a saúde LGBT”, falou.

Ele continuou: “Eu sou uma pessoa que vive com HIV há 10 anos, que falo abertamente nos meus canais sobre isso, e a parada está tendo pela primeira vez um trio específico para a pauta, então fica a minha reflexão para as mídias e para as marcas, que é o seguinte: precisamos falar de saúde LGBT, e mudar a nossa comunicação para uma comunicação mais acolhedora, porque para se ter emprego, educação e qualidade de vida, a gente precisa primeiramente de saúde. Não podemos mais tratar as nossas existências como pessoas vivendo com HIV de forma bélica, isso não funciona mais. O segredo está na prevenção, na informação, na promoção de qualidade de vida. Precisamos de falar de vida, de ferramentas de construção e não de armas e luta. A luta a gente deixa pra ser contra a homofobia, contra o racismo e contra todas as desigualdades que vivemos”, declarou o influencer.

No encontro foram abordadas também outras pautas relativas aos direitos da população LGBT. O vice-presidente da associação da parada, Renato Viterbo, disse que o objetivo principal do tema escolhido para a 27 edição, “é tentar dentro das suas possibilidades fazer com que todos, todas e todes possam ter o conhecimento que existe o SUAS, que pesquisem sobre o sistema e que dentro deste conhecimento busquem seus direitos”. 

Leonora Áquilla, coordenadora da coordenadoria  municipal de Diversidade, frisou que as ações de promoção e seguridade dos direitos LGBTs precisam transcender o mês de junho.

“Eu sou uma mulher trans que nasci e cresci no Capão Redondo. Eu senti a violência muito próxima a mim e neste mesmo Capão Redondo fui apedrejada e saí com uma mão na frente e outra atrás”, dividiu. 

“Nós precisamos de trabalho e não somente no mês de junho, eu durmo e acordo uma mulher transexual, eu milito desde que saio de casa sem saber se  voltarei viva. Precisamos trabalhar de maneira muito intensa a empregabilidade e durante o ano inteiro. A mídia quer noticiar uma mulher trans na política com possibilidade de subir de cargo ou apenas pessoas trans mortas?”, acrescentou questionando.

Sonia Francine, secretária municipal de Direitos Humanos, afirmou que a gestão de Ricardo Nunes tem dado a devida atenção à população LGBT+ paulistana por meio de ampliação de programas, como o Transcidadania, que oferece bolsas de estudo para pessoas trans e travestis, e a Casa Florescer, que acolhe pessoas transexuais em situação de vulnerabilidade social. 

“O apoio da Prefeitura para o evento está estimado em R $2,5 milhões, o problema é que não há uma diretriz federal específica para políticas de assistência social às pessoas LGBT+ no SUAS, como existe no SUS”, explicou a responsável pela pasta. 

Ainda na reunião, a associação da parada informou que no próximo dia 11, a pauta PCD estará presente com diferentes artistas que vivem com deficiência. Garantiu também que recursos de acessibilidade estarão disponíveis para pessoas com algum tipo de deficiência física ou mobilidade reduzida. Rampas e locais de descanso foram exemplos citados.

Confira a programação completa:

  • Trio 1 – Abertura – Organizações de Paradas do Orgulho LGBT+ do Brasil: Juan Guiã, Paulo Pringles
  • Trio 2 – Famílias LGBT+
  • Trio 3 – Prefeitura I – Artistas: Aristela
  • Trio 4 – Prefeitura II – Artista: Megam Scott
  • Trio 5 – Prefeitura III – Artista: Márcia Pantera
  • Trio 6 – HIV/AIDS – Artistas: Xênia Star, Luh Marinatti, Lorran Ciriaco
  • Trio 7 – Pessoas Aliadas – Artista: Filipe Catto
  • Trio 8 – Rede de Orgulho – Artista: Kauan Russell
  • Trio 9 – Patrocinadores: Burger King, Philip Morris, 3M, Kellogg, Accor, Microsoft – Artistas: Brunelli, Juan Nym, Dj Zuba
  • Trio 10 – Lésbicas – Artistas: Ana Dutra e Laura Finochiaro
  • Trio 11 – Patrocinador Amstel – Artistas: Pabllo Vittar, Salete Campari, DJ Transälien
  • Trio 12 – Gays – Artistas: Fiakra, Tiago Cardoso, Gustavo Vianna e Douglas Penido
  • Trio 13 – Patrocinador VIVO – Artistas: Daniela Mercury, Agrada Gregos e Paulette Pink
  • Trio 14 – Bi+ – Artistas: PC e Litta
  • Trio 15 – Patrocinador Mercado Livre e L’Oreal Groupe – Artistas: Majur, Thiago Pantaleão e Cris Negrini
  • Trio 16 – Travesti/Trans – Artistas: Boombeat, Lorenzo Zimon e Nick Cruz
  • Trio 17 – Patrocinador: TERRA – Artistas: Urias, Grag Queen, Minhoqueens e Mama Darling
  • Trio 18 – Patrocinador: Sminorff – Artistas: Pocah, WD, DJ Heey Cat e Batekoo
  • Trio 19 – Encerramento Diretoria APOLGBT-SP- Artista: Bixarte, Luana Hansen e Tico Malagueta

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

APOLGBT-SP – Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo

Site oficial: https://paradasp.org.br/ 

E-mail: paradasp@paradasp.org.br

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