O Papa Francisco afirmou, em um filme que entra em cartaz nesta quarta-feira (21) na Itália, que os homossexuais precisam ser protegidos por leis de união civil. Foi a forma mais clara que Francisco já usou para falar de direitos dos LGBTIs.

Apesar da necessidade de avanços no reconhecimento das uniões homoafetivas, essa declaração impactou de forma positiva o movimento social LGBT que afirmou que a fala “soa como uma benção” e é um passo importante para garantia de direitos dessa população bem como no combate ao estigma e preconceito.

Confira como ativistas LGBTs brasileiros receberam essa notícia:

 

Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI+: Uma instituição que nos queimou na fogueira há 500 anos e depois uma autoridade máxima falar que reconhece a união entre pessoas do mesmo sexo é uma evolução muito grande. Se o Papa mudou a gente tem que crer que a humanidade pode mudar. Eu vejo como alvissareira essa declaração do Papa por ele ser autoridade máxima de uma grande população de cristãos e mesmo que setores conservadores pensem o contrário, ele é a liderança. Então, eu estou muito feliz. Nasci e me criei na cultura católica e me sinto mais humano. Isso é muito importante pra nossa autoestima. Já tinha recebido uma carta de parabéns do Vaticano por ter batizado meu três filhos, fico feliz e radiante. Temos que acreditar na humanidade.”

 

Heloisa Alves , lésbica, militante LGBTI e coordenadora estadual da representação da Aliança Nacional LGBT no Estado de São Paulo: “A declaração do Papa Francisco a favor da união civil homoafetiva enche meu coração católico de alegria, pois soa como uma benção. Mas temos que considerar que ainda não podemos nos casar na Igreja Católica, ainda não houve o reconhecimento de que nosso amor, nossa união merece também ser abençoada por meio da cerimônia religiosa. Mas é um sinal de esperança de que esse dia ainda poderá chegar.”

 

Cássio Rodrigo, militante LGBTI+ e Diretor de Educação em Direitos Humanos da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo: “O posicionamento do Papa Francisco, reconhecendo as novas famílias homoafetivas e o direito ao casamento civil é extremamente importante na nossa luta por direitos civis, pois mostra que religião e cidadania podem caminhar juntos. Sem abandonar seus dogmas e princípios ele pôde reconhecer um direito da população LGBTI+. Parabéns ao Papa.”

 

Maite Schneider consultora de empresas para inclusão e diversidade e cofundadora da Transempregos: “Para as pessoas que são católicas é uma super abertura. Acho que a gente não tem que ficar sendo tutelados por fatores externos. A gente condicionar a aceitação e respeito à nossa pessoa por conta de migalhas, faz tempo que eu abri mão disso. Mas entendo que para outras pessoas isso pode ser importante. E para várias pessoas essas migalhas servem de almoço. A gente vive de migalhas de leis, migalhas legislativas, de apoio, migalhas pra conseguir doar sangue. São sempre migalhas de um direito que deveria ser universal. E principalmente quando a gente fala de religião, para quem acredita em Deus e que Deus é amor, e formas inclusivas, coisa que não acontecem em praticamente nenhuma religião. Então, fico feliz pelas pessoas que profeçam essa fé e que acreditam que isso seja extremamente importante. Na minha vida, verdadeiramente, nada muda porque eu estou um passo distante disso tudo, apesar da minha formação católica, e foi um dos momentos mais violentos da minha vida, onde eu me culpava e tentei por duas vezes suicídio ainda quando criança, por não me enquadrar no que as pessoas falavam que Deus pensava, desejava e suas interpretações. Porque sabemos que a origem de Deus e Jesus, em sua passagem por aqui, foi de amor na plenitude, não dessas discriminações e preconceitos cheio de viezes.”

 

Renato Viterbo vice-presidente da APOGLBTSP: “A Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo “compartilha, reafirma e concorda com o Papa Francisco e ratifica que o Direito de formar família por pessoas LGBT+ deve ser respeitado pois é uma questão de Direitos Humanos.”

 

 

Beto de Jesus, diretor da Aids Healthcare Foundation no Brasil: “A declaração do Papa Francisco no documentário “Francesco” é surpreendente, num momento onde o mundo está cada vez mais conservador. Ele afirma que pessoas do mesmo sexo precisam ser protegidas por leis de união civil. Apesar disso é bom ter claro que quem legisla sobre isso é o Estado e a igreja joga e jogou muito pesado contra os direitos dos LGBTs. No Brasil, conseguimos esse direito apenas por uma ação do STF e depois validada pelo Conselho Nacional de Justiça. Não aprovamos isso como lei, no congresso, luta que travávamos desde 1995 com o primeiro projeto da então Deputada Feral Marta Suplicy e foi travada uma guerra santa conta nossa cidadania. Viramos moeda de troca e os deputados da bancada da Bíblia nunca referendaram nada pelos nossos direitos. Espero de fato que Bergoglio lute pela sua declaração: ‘As pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deverá ser descartado ou ser infeliz por isso’, pois quando era cardeal em Buenos Aires fez de tudo para que o casamento não fosse aprovado na Argentina. Seguimos de olho!”

 

Dica de entrevista 

Aliança Nacional LGBTI+

E-mail: aliancalgbti@gmail.com

 

Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo

E-mail: paradasp@paradasp.org.br

 

Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo

Telefone: (11) 3113-8000

 

Aids Healthcare Foundation – AHF Brasil

E-mail:ahfbrasil@aidshealth.org

 

Redação da Agência de Notícias da Aids