Durante o Seminário Internacional sobre Hepatite C – Estratégias em Contexto de Pandemia para Eliminação em 2030, que começou nessa segunda-feira (24), as representações dos Programas Estaduais de Hepatites Virais dos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul, mostraram dados a respeito da luta contra as hepatites e as dificuldades de enfrentar a doença e atingir as metas propostas no contexto da pandemia.

Sirlene Caminada, do Programa Estadual de Hepatites Virais e da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria Estadual de Saúde do Estado de São Paulo falou sobre o panorama das infecções no estado. Com mais de 5 mil unidades de saúde, o estado de São Paulo tem uma rede com 200 serviços que atendem as hepatites e cerca de 230 mil casos na população de 40 a 46 anos.  “Essa especificidade precisa ser levada em consideração e mostra que precisamos focar em alguns grupos etários.”

“Desde o ano de 2015, o estado vem trabalhando na qualificação da rede que atende HIV e as hepatites virais”, disse Sirlene. “É um trabalho em conjunto com os municípios e os serviços que compõem a rede não só na atenção especializada, como também a atenção básica e serviços na atenção terceirizada para organizar e qualificar essa rede para que todas as etapas sejam discutidas e os problemas sejam equalizados.”

Pandemia e as Hepatites

“Estávamos crescendo a intensificação da testagem envolvendo especialmente a atenção básica, que tem um nicho importante em relação à pessoa que já é usuária do serviço. Nos últimos dois anos nos envolvemos cada vez mais, até mesmo politicamente, para que os municípios entendessem a importância da testagem”, afirmou Sirlene.

Em 2019, 453 municípios foram envolvidos em função da campanha Julho Amarelo. “Temos trabalhado como prioridade o aumento da cobertura vacinal para hepatite b, também.”

No entanto, “tivemos o processo de qualificação da rede afetado pela pandemia. Temos tentado retomar principalmente nas região em que já existem planos de ações. Ficamos impedidos de fazer os processos de oficinas na regiões onde essas atividades ainda não haviam começado. Então, as regiões que não têm plano de ação são as mais afetadas pela pandemia. Infelizmente a pandemia e seus efeitos duraram muito mais do que imaginávamos e estamos tentando entender quando será possível envolver os municípios, porque eles estão com todos os profissionais que trabalham com vigilância epistemológica e na assistência atuando na questão da Covid-19.”

Hepatites no Rio Grande do Sul

Do Programa Estadual de Hepatites Virais do Rio Grande do Sul, Adriana Zanon falou sobre o plano de eliminação da hepatite C na região. Ela explicou que no estado, a maioria dos diagnósticos são feitos ao acaso, a partir de alterações esporádicas de exames de avaliação de rotina ou na triagem de bancos de sangue.

“A gente observa que existe um lapso entre diagnóstico e acompanhamento desse paciente. É necessário criar um fluxo onde a gente precisa testar, diagnosticar e dar acesso à medicação”, disse Adriana.

Segundo dados do Programa, estima-se que a população em terapia renal substitutiva apresente cinco vezes mais casos de hepatite C do que a população em geral, fazendo com que essas pessoas sejam prioritárias. No Rio Grande do Sul, foram notificados 84 casos, no ano de 2019, em hemodiálise, com uma média de idade de 58 anos.

No estado, houve uma redução de quase 50% na realização de testes a partir do mês de março de 2020, mostrando que a pandemia impactou de forma incisiva nos diagnósticos da doença, com uma consequente diminuição, também em 50%, no número de notificações em relação ao mesmo período no ano anterior.

“Isso nos diz que quando a situação melhorar, vamos ter um limbo nos casos de pacientes que deram positivo, mas não buscaram seus testes. A ideia agora é fazer, nesse pós-pandemia, ações que incentivem os pacientes a buscarem seus testes.”

 

Mais informações

 

O primeiro dia do Seminário Internacional sobre Hepatite C pode ser visto aqui ou no canal do FOAESP no YouTube, de onde será transmitido até quinta-feira, 27 de agosto, sempre às 9h.

 

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)