Neste mês de outubro, o mundo todo se une na conscientização e na luta contra o câncer de mama. A campanha internacional Outubro Rosa visa aumentar a conscientização sobre a importância da detecção precoce, prevenção e tratamento deste tipo de câncer, além de arrecadar fundos para pesquisas e apoio às pessoas afetadas pela doença ao redor do planeta.

Entretanto, na data, vale direcionar o olhar também para uma comunidade em particular: as pessoas vivendo com HIV/aids. E pensando justamente em discutir a correlação pouco explorada entre o HIV e o câncer de mama, conversamos com a médica infectologista Elna Jeolane, de Teresina, Piauí.

Segundo a especialista, as pessoas vivendo com HIV enfrentam um risco acrescido para o câncer de mama, já que estão em alerta constante, pois o sistema imunológico desses indivíduos enfrenta desafios contínuos devido à presença do vírus, tornando-os mais suscetíveis a várias doenças, incluindo o câncer. “Mesmo com carga viral indetectável, o vírus pode circular, mantendo o organismo em estado de alerta e tornando essas pessoas mais suscetíveis a certos tipos de câncer”, explica.

Embora o câncer de mama seja menos comum em pessoas vivendo com HIV/aids do que em outros grupos, ele ainda é uma preocupação legítima. Dra. Elna destaca que alguns tipos de câncer são mais específicos e aumentam significativamente na população HIV+, como o Sarcoma de Kaposi. No entanto, para cânceres comuns à população em geral, como o câncer de mama, a preocupação persiste nas pessoas com mamas, “o que inclui as mulheres cis e homens trans, que mesmo que tenham retirado a mama precisam continuar monitorando, pois existem algumas glândulas que ainda ficam e que podem dar origem a um câncer de mama.”

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‘‘São poucos os estudos correlacionando, mas o que sabemos é que realmente pode aumentar a possibilidade em relação à população geral, e que tem que ficar atento, monitorar, diagnosticar no tempo oportuno e tratar’’, afirma.

Rastreio

Ela também esclarece que os exames de rastreio e a idade de início são os mesmos que para a população em geral, começando aos 40 anos, especialmente se houver histórico familiar. Ainda segundo a especialista, a mamografia é o exame indicado, mas em alguns casos, a ultrassonografia da mama pode ser recomendada.

Tratamento

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Apesar de frisar que quando uma pessoa vivendo com HIV é diagnosticada com câncer de mama, o tratamento segue os mesmos protocolos que para os demais pacientes, enfatiza a importância de não interromper o tratamento antirretroviral durante o tratamento do câncer, justamente para evitar complicações maiores.

Além disso, a colaboração próxima entre oncologistas e infectologistas é vital, de acordo com a médica. “O oncologista e o infectologista devem monitorar as mudanças no sistema imunológico e garantir a prevenção de infecções oportunista.”

‘‘Dependendo, pode haver alteração de imunidades porque geralmente os quimioterápicos já fazem isso naturalmente, e dependendo do nível de CD4 do paciente no início do tratamento, a gente tem que vigiar mais de perto todas as infecções oportunistas. É algo que o oncologista e o infectologista têm que acompanhar lado a lado para assistir às alterações e ir fazendo as profilaxias.”

A médica continua: ‘‘Eventualmente a gente tenta conferir junto ao oncologista quais são os esquemas que a pessoa vai utilizar e verificar se haverá alguma interação; são pouquíssimos os casos, geralmente acontece com [medicamentos antirretrovirais] mais antigos, mas o infectologista pode verificar e mudar o antirretroviral se for o caso. É melhor mudar o antirretroviral do que o quimioterápico, porque a gente sabe que a mudança do quimioterápico é mais complicada, a chance de resposta dele pode ser muito menor. E para quem vive com HIV e tem o vírus controlado, ajustar o antirretroviral nesse período pode ter um impacto menor’’.

Saúde mental

A especialista não deixa de reconhecer para além dos aspectos físicos, os desafios emocionais que as pessoas vivendo com HIV/aids enfrentam quando diagnosticadas com o tumor. Segundo ela, ‘‘este é um duplo desafio, que requer não apenas tratamento médico adequado, mas também uma rede de apoio sólida para enfrentar o medo e a incerteza’’.

Dra. Elna compreende que neste Outubro Rosa, é de suma importância lembrar a todos, especialmente às pessoas vivendo com HIV/aids, que a detecção precoce e o tratamento adequado do câncer de mama, somado também a hábitos saudáveis, são cruciais para aumentar as possibilidades de alcance de cura, uma vida saudável e longeva. A conscientização e a educação, ao seu ver, se mostram ferramentas valiosas para combater essa doença e proporcionar apoio àqueles que enfrentam desafios únicos.

Autoexame

Câncer de mama: 63% acreditam que apenas autoexame é necessário para diagnóstico - Minha Vida

A profissional chama atenção ainda para a importância do autoexame de toque. De acordo com a doutora, o profissional ginecologista ou mastologista realiza exames periódicos a cada 6 meses ou 1 ano, dependendo da rotina de cada pessoa, incluindo eventualmente o exame do toque. No entanto, “a pessoa pode fazer sua própria avaliação, o que pode ser facilmente realizado durante o banho, onde poderá identificar qualquer anomalia’’.

‘‘Ao conhecer seu próprio corpo, ela pode procurar um profissional antecipadamente, em vez de esperar pela próxima consulta. Identificar algo anormal permitirá um diagnóstico precoce e, quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de tratamento e cura’’, acrescenta.

Como realizar o autoexame?

Como fazer o autoexame de mama (e sinais de alerta) - Tua Saúde

Passo 1: Escolha um local adequado

Encontre um local tranquilo e relaxante para fazer o autoexame, como o seu banheiro [durante o banho] ou quarto.

Passo 2: Observe-se no espelho

Comece por observar seus seios diante de um espelho. Levante os braços e observe as mamas na frente, nos lados e também com os braços abaixados. Procure por mudanças na forma, tamanho, cor da pele, inchaços, retrações ou qualquer anormalidade.

Passo 3: Examine-se deitada

Deite-se de costas em uma superfície plana, como uma cama. Coloque um travesseiro sob o ombro direito e dobre o braço direito atrás da cabeça. Use a mão esquerda para examinar a mama direita.

Passo 4: Toque as mamas

Usando os três dedos do meio da mão esquerda (indicador, médio e anelar), faça movimentos circulares suaves na mama direita. Comece na parte externa da mama, movendo-se em direção ao mamilo. Certifique-se de cobrir toda a mama.

Passo 5: Examine o mamilo

Com os dedos, delicadamente aperte o mamilo e observe se há alguma secreção incomum, como sangue ou líquido claro.

Passo 6: Repita para o outro lado

Mude para o lado esquerdo e repita o processo, usando a mão direita para explorar a mama esquerda.

Passo 7: Examine as axilas

Não se esqueça de verificar as áreas das axilas em busca de inchaços, nódulos ou qualquer anomalia.

Passo 8: Procure por deitado de lado

Deite-se de lado com o braço sob sua cabeça e examine a mama correspondente com a mão oposta, usando a mesma técnica de movimentos circulares.

Passo 9: Consulte um profissional

Se você notar qualquer alteração, como caroços, inchaços, retrações, mudanças na pele ou secreção mamária anormal, consulte imediatamente um médico para uma avaliação mais detalhada.

Lembre-se que o autoexame é complementar, ou seja, não substitui a mamografia. Portanto, siga as orientações de seu médico!

 

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

Dra. Elna Joelane

E-mail: elnajoelane@gmail.com

Instagram @dra.elna_amaral_