O diretor-executivo de emergências da Organização Mundial da Saúde, Mike Ryan, afirmou nesta sexta-feira 26 que o impacto da pandemia do novo coronavírus sobre o Brasil é uma “tragédia” e ponderou que, se não houver atenção redobrada, o sistema de saúde poderá não dar conta dos pacientes.

Questionado se o fato de o Brasil viver o pior momento desde o início da pandemia se deve à disseminação das novas variantes, Ryan disse que o peso delas “ainda não é totalmente conhecido” e que diversos países demonstraram que, com as medidas corretas, é possível enfrentá-las.

“Infelizmente, é uma tragédia que o Brasil esteja enfrentando isso de novo e é difícil. Esta deve ser a quarta onda que o País volta a enfrentar, eu acho”, afirmou o diretor-executivo da OMS. “Não houve um ponto do País que não tenha sido afetado de forma grave pela pandemia.”

“Tem sido muito duro para os brasileiros e para o Brasil, em geral”, afirmou o representante da entidade. “É muito difícil, num país com grande população e onde pessoas vivem em casas com muitas famílias ou membros de família, em áreas de pobreza”, afirmou.

Na sexta-feira 26, o Brasil registrou 1.337 mortes por Covid-19, o que levou o total de vítimas fatais da doença no País a 252.835, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde. O Conass também contabilizou 65.169 novos casos em 24 horas. Com isso ,já são 10.455.630 infectadas, de acordo com os dados oficiais. A média móvel de óbitos pela doença nos últimos sete dias é de 1.153; a de casos, 53.422.

Segundo Mike Ryan, não basta o Brasil se limitar a abrir novos leitos para tratar pacientes com Covid-19. “Aumentar o número de leitos é importante e necessário, mas não será suficiente se os casos continuarem subindo. Já vimos isso no passado. Se o sistema não está dando conta agora, não vai dar conta depois se a pressão continuar subindo, sem ser contida.”

De acordo com um estudo da Fiocruz, 11 estados e o Distrito Federal estão na zona de alerta crítica em relação à disponibilidade de leitos, e 13 na zona intermediária. Somente um, o Mato Grosso, aparece fora da zona de alerta.

Os dados foram coletados e analisados entre 31 de janeiro e 20 de fevereiro, da quinta à sétima semana epidemiológica.

São considerados em situação crítica os estados que possuem mais de 80% dos leitos de UTI-Covid ocupados. Estão nessa lista, segundo a Fiocruz, Roraima (82%), Amazonas (95%), Acre (89%), Rondônia (97%), Ceará (92%), Rio Grande do Norte (81%), Pernambuco (85%), Bahia (80%), Goiás (89%), Distrito Federal (87%), Paraná (92%), Santa Catarina (93%) e Rio Grande do Sul (84%).

Ryan também fez questão, nesta sexta-feira, de criticar o discurso dos que se manifestam contra a adoção de medidas contra a Covid-19 para, supostamente, evitar danos econômicos. Ele não citou especificamente o presidente Jair Bolsonaro, que frequentemente ataca governadores e prefeitos que articulam ações locais para lidar com o avanço da pandemia.

“É fácil estar aqui sentado e dizer o que deveria fazer um país grande como o Brasil, com várias gerações convivendo numa mesma casa, com regiões pobres e carência. Mas a Nigéria, que também é um país muito populoso, com enormes cidades, precisou tomar decisões difíceis. E, sem deixar de reconhecer os impactos sociais e econômicos, conseguiu o equilíbrio entre os custos econômicos e de saúde e adotou medidas persistentes e coerentes”, afirmou.

“Infelizmente, e é uma tragédia para o Brasil, que o país esteja sofrendo isso de novo. É duro”, lamentou. Segundo ele, trata-se da quarta vez que uma onda de crescimento ocorra no surto no país.

Ryan ainda fala de um aumento persistente no Brasil nos últimos dias. Mas lembra que, no último ano, sempre houve pelo menos uma região do país que foi “profundamente afetada”. “Isso é muito duro e precisamos mostrar solidariedade com o Brasil, fornecendo ajuda onde precisarem”, disse.

 

Agência de Notícias da Aids com informações