A jornalista e colunista, Marina Vergueiro, recebeu na edição desta segunda-feira (5), da coluna Senta Aqui, o historiador baiano: Marcos Tolentino. No encontro on-line transmitido pelo Instagram da Agência Aids, o historiador que se dedica aos estudos relativos a historicidade da ditadura militar na América Latina, especialmente na Argentina, relacionando-a com a memória e direitos humanos, dividiu que este interesse pelo período ditatorial surgiu desde a sua graduação. Posteriormente o educador passou a se interessar também por história testemunhal e história oral.

Ele, que é um defensor dos direitos humanos, sexuais e reprodutivos, e das pessoas vivendo com HIV/aids, também é alguém vivendo com HIV que fala abertamente sobre seu diagnóstico, compartilhou que a maior parte das pessoas se surpreendem quando ele conta que seu trabalho principal não tem relação com gênero e sexualidade.

‘‘As pessoas sempre me perguntam se trabalho com gênero e sexualidade, mas o meu trabalho é muito mais vinculado a uma história política recente’’, comentou.

‘‘Então como é quando você começou a se interessar pelo tema HIV/aids?’’, perguntou Marina.

‘‘O HIV, de alguma forma, sempre foi uma coisa que esteve ali na órbita. Enquanto uma pessoa que nunca se reconheceu dentro da lógica da heteronormatividade, mesmo que eu ainda não tivesse me assumido enquanto um homem gay, já existia ali essa curiosidade de consumir o mínimo de produtos culturais que tivessem relação com as pessoas que me identificasse’’, respondeu. 

Ele continuou falando que nasceu na década de 1986 e viveu sua juventude nos anos 2000, quando o tema HIV/aids era popular. Além disso, segundo o entrevistado, a questão da educação sexual era forte nas escolas, na virada dos anos 90.

‘‘Se falava muito sobre o uso camisinha, até para evitar uma gravidez precoce’’.

De acordo com ele, teve referências que chegaram de todos os lados, mas viveu sua sexualidade nas brechas com uma educação sexual voltada para as relações heterossexuais. Em 2016, Marcos descobriu seu diagnóstico positivo para o HIV.

‘‘A nossa dificuldade de falar de sexualidade e sobre as ISTs abertamente, faz com que casos como o meu se repitam’’.

Ele relembrou que a decisão de falar sobre sua sorologia e também da sua orientação sexual, aconteceu em um momento em que se sentia plenamente seguro. Marcos teve a sorte de poder contar com o apoio incondicional de sua família, isto somado ao fato de ser um educador, o motivou a se engajar na pauta.

‘‘Meu diagnóstico veio em março de 2016 após uma sequência de adoecimentos. Contei para os meus pais porque entendia que eles tinham e ainda hoje tem uma participação muito importante em minha vida. Eu entendi que a vida não seria só de infelicidades, apesar de que a violência existiria’’.

Hoje ele fortalece outras pessoas que dividem a mesma vivência se fortalecerem através da fala, mas afirma que cada um tem seu próprio processo e que o tempo de cada indivíduo deve ser respeitado.

‘‘Não gosto quando me adjetivam de corajoso por falar sobre meu diagnóstico, porque entendo que todo mundo que vive com o vírus e está fazendo seu tratamento corretamente, já é inteiramente corajoso (a)’’.

Atualmente, Marcos Tolentino é pesquisador e educador no Acervo Bajubá e coordenador da área de Formação da organização VoteLGBT e integrante do grupo de estudos MP + Diverso, do Ministério Público da Bahia. Também é um dos idealizadores do projeto de pesquisa continuada Memorial Incompleto da epidemia de aids, que articula narrativas históricas e memórias pessoais para abordar a epidemia de HIV/aids e o combate aos preconceitos e estigmas.

Assista a live na íntegra:

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)