Dados epidemiológicos do Ministério da Saúde destacam alta da doença, que atingiu o pico em 2023
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde destacam que 65,2% dos casos de tuberculose no Brasil foram registrados na população negra em 2023. Além disso, o país registrou 84,6 mil infecções no ano passado, o maior número da série histórica da pasta, que teve início em 2003.
A idade média dos pacientes foi de 41 anos. O grupo que teve a taxa mais alta foram homens de 40 a 59 anos, em que a proporção chegou a 66,3 novos casos a cada 100 mil pessoas. Ao todo, 68% de todas as infecções ocorreram no sexo masculino. As taxas mais baixas foram observadas entre crianças e adolescentes de até 14 anos, com menos de 10 casos a cada 100 mil.
Os dados da pasta da Saúde também revelam que pretos e pardos responderam por 66,2% das 5.984 mortes por tuberculose registradas no Brasil.
Sobre a desigualdade racial na incidência da doença, o Ministério da Saúde diz que a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, de 2009, “estabelece orientações, metas e diretrizes para garantir que as especificidades em saúde desse grupo sejam atendidas pelo SUS, englobando ações em cuidados de saúde, vigilância, prevenção de doenças e combate ao racismo institucional nos serviços de saúde”.
No primeiro semestre de 2024, números provisórios do ministério, baseados em atendimentos ambulatoriais e hospitalares, mostram que já foram registrados 36.456 casos.
A tuberculose é uma doença causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis. Os pulmões são os órgãos mais afetados, embora não sejam os únicos. O microrganismo é transmitido pela via respiratória, por meio da eliminação de partículas durante a tosse, fala ou espirro por pacientes na fase ativa da infecção, sem tratamento.
Os principais sintomas são a tosse por mais de três semanas, febre ao longo do dia, sudorese noturna, cansaço e emagrecimento. O tratamento é feito com antibióticos e dura pelo menos seis meses – mesmo com a melhora inicial dos sintomas, o paciente precisa concluir o ciclo para garantir a cura e evitar o desenvolvimento de uma versão da doença resistente aos medicamentos.
A vacina BCG, aplicada em dose única no bebê após o nascimento, protege os mais novos contra as formas mais graves da tuberculose. No entanto, a proteção não dura até a fase adulta, e um estudo recente de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constatou que a revacinação tardia é também ineficaz.
No mundo, de acordo com a OMS, um total de 10,8 milhões de pessoas foram contaminadas com tuberculose em 2023, e 1,25 milhão morreram pela bactéria. A doença voltou a ser a principal causa de óbito devido a um único agente infeccioso, após ter sido substituída pela Covid-19 entre 2020 e 2022.
A evolução mais grave da tuberculose costuma ocorrer em pessoas que vivem com HIV, especialmente entre aquelas que têm um comprometimento maior do sistema imunológico, como as que não aderem corretamente ao tratamento antirretroviral.
Segundo informações do Ministério da Saúde, o Brasil responde por 1 a cada 3 casos de tuberculose nas Américas. Com o total registrado em 2023, o país chegou a uma taxa de 39,7 novos diagnósticos a cada 100 mil habitantes. O coeficiente é o mais alto desde 2005 e significativamente acima da meta de menos de 10 casos por 100 mil habitantes até 2030.
Além disso, o objetivo de reduzir o número de mortes para menos de 230, em linha com a com a Estratégia Global pelo Fim da Tuberculose da OMS, também está longe do cenário atual, em que quase seis mil pessoas perderam a vida para a doença no ano passado. O número de óbitos também é o mais alto da série histórica, e a taxa, de 2,81 mortes a cada 100 mil habitantes, é a mais elevada desde 2002.
Fonte: O Globo