A 9ª Semana Paulistana de Mobilização contra a Sífilis incluiu um painel dedicado a discutir o perfil epidemiológico da sífilis e da sífilis congênita, bem como os avanços e desafios na prevenção e tratamento da doença no Estado de São Paulo. A apresentação das estatísticas mais recentes e o resgate histórico da sífilis em São Paulo foram conduzidos pela Dra. Mariza Vono Tancredi, diretora de epidemiologia do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids. Enfermeira, doutora em saúde pública e epidemiologia, Dra. Mariza ofereceu um panorama detalhado sobre o perfil epidemiológico da sífilis no estado, além de abordar diagnósticos de infecção pelo HIV, com ênfase na transmissão vertical.

A transmissão vertical do HIV, como destacou a especialista, é uma forma de transmissão em que o vírus passa de mãe ou pessoa gestante para o bebê durante a gravidez, o parto ou a amamentação. Dra. Mariza lembrou que o Estado de São Paulo começou a notificar e monitorar de forma sistemática casos de HIV/aids e sífilis a partir de 2000. “A notificação da transmissão vertical do HIV passou a ser monitorada no ano 2000, e as gestantes HIV positivas precisam ser notificadas em cada evento gestacional”, explicou.

Ela ainda apresentou uma análise dos dados desde o início das notificações. De 2000 a 2003, São Paulo registrou mais notificações de gestantes HIV positivas do que de crianças expostas. Entre 2004 e 2009, os dados entre mães e crianças expostas se equilibraram, mas de 2010 a 2016, as notificações de crianças expostas superaram as de gestantes. Segundo Dra. Mariza, “entre 2017 e 2023, os números voltaram a se equilibrar. Contudo, em 2024, as notificações de crianças expostas voltaram a superar as de gestantes, com uma diferença de cerca de 100 casos, o que é um ponto de atenção importante.”

“A taxa de detecção de gestantes HIV positivas, que era de 1,6 por mil nascidos vivos no início do período de 2000, atingiu 2,1 em 2023”, frisou, complementando que, por outro lado, a taxa de detecção de crianças expostas passou de 1,2 para 2 casos por mil nascidos vivos no mesmo período. 

De forma geral, essa evolução das taxas reflete um controle crescente, com um equilíbrio nas taxas ao longo do tempo.

Trazendo um olhar aprofundado sobre os dados mais atuais, durante sua participação, Tancredi também compartilhou que em 2023, o Estado de São Paulo registrou 2,2 casos de gestantes HIV positivas por mil nascidos vivos, com destaques para as regiões de São José do Rio Preto e Baixada Santista, com taxas de 2,5 e 2,8 casos por mil nascidos vivos, respectivamente. A especialista fez uma observação importante sobre a variação regional, dizendo que “em São João da Boa Vista, observou-se a menor taxa do Estado, com apenas 1,1 por mil nascidos vivos.”

A painelista também compartilhou alguns dos principais avanços no diagnóstico e no uso da terapia antirretroviral. De acordo com ela, em 2023, 70% de todas as mulheres gestantes com HIV sabiam de sua condição sorológica antes de iniciar o pré-natal. Além disso, a taxa de adesão ao uso da TARV para garantir a carga viral indetectável alcançou 93% entre as gestantes nos anos de 2022 e 2023. Tancredi disse que “é importante destacar que a medicação antirretroviral tem um papel crucial na prevenção da transmissão do HIV para o bebê”.

“Para eliminar a transmissão vertical do HIV, é necessário que a taxa de transmissão seja inferior a 2%, e atualmente estamos com 1,4%.”

Cenário epidemiológico da sífilis

No que se refere à sífilis e sífilis congênita, o painel se concentrou em elencar os dados e destacar os fatores que fazem parte da evolução da doença. De acordo com Tancredi, “entre 2013 e 2016, observamos uma tendência crescente nos casos de sífilis adquirida, seguida de uma estabilização até 2019, quando a taxa chegou a 85 casos por 100 mil habitantes”, relatou. No entanto, chamou atenção para o fato de que a pandemia de Covid-19 teve um impacto negativo nos números de 2020, com uma queda nas notificações. “Os casos de sífilis têm apresentado variações, mas é essencial destacar o tratamento adequado para a doença, que em São Paulo atingiu 93%”, afirmou a especialista.

Quando se trata do tratamento de sífilis, a prescrição de penicilina, que é o tratamento de escolha, também foi elevada. “Em 2023, 95% das gestantes diagnosticadas com sífilis receberam ao menos uma dose de penicilina”, afirmou. No entanto, a questão do tratamento das parcerias sexuais ainda é uma preocupação. A especialista observou que “nos últimos três anos, menos da metade das parcerias sexuais foi tratada, com uma taxa de 43%, o que é insuficiente para romper a cadeia de transmissão.”

Desafios no pré-natal 

No que diz respeito à sífilis congênita, até este ano de 2023, 85% das gestantes diagnosticadas com sífilis realizaram o pré-natal, mas o diagnóstico de sífilis materna durante o pré-natal ainda não é universal, com 66% das gestantes diagnosticadas nesse momento e 29% diagnosticadas durante o parto. Para ela, o desafio agora é entender por que ainda estamos registrando casos de sífilis congênita em mães que realizaram o pré-natal.

“Continuamos com a pergunta que não quer calar: por que estão acontecendo novos casos com o pré-natal sendo realizado?”, questionou e finalizou Dra Mariza Tancredi.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

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