Quando a arte fala de Aids - Sesc São Paulo : Sesc São Paulo

Segundo o boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, 16,7 mil casos de infecção por HIV foram registrados no Brasil durante o ano de 2022. Para impedir o aumento do número de pessoas infectadas, pesquisadores e profissionais de saúde buscam aperfeiçoar as técnicas de prevenção, testagem, assistência e tratamento.

Esta pesquisa analisou como políticas de prevenção ao vírus podem estar ligadas aos momentos de lazer e cultura. O estudo teve como foco principal a população jovem, negra, LGBTI+ e periférica.

Qual pergunta a pesquisa responde?

Quais são os limites e possibilidades da prevenção combinada ao HIV junto a jovens em fluxos, festas e bailes funks?

Por que isso é relevante?

A prevenção combinada é uma política pública que procura ofertar um pacote amplo de prevenção para além da camisinha externa ou interna, conjugando a redução de danos, o tratamento como prevenção, a testagem rápida extramuro de HIV, sífilis e hepatites virais, a PEP (profilaxia pós-exposição) e a PrEP (pré-exposição), que consistem em estratégias farmacológicas para barrar a infecção como respostas programáticas para redução da vulnerabilidade. A prevenção combinada permite singularizar intervenções de saúde que tenham como base as dinâmicas culturais de populações que caracteristicamente não acessam com frequência e facilidade os serviços de saúde.

Resumo da pesquisa

A partir de uma etnografia em festas, fluxos e bailes funks e também de uma atuação profissional na gestão da política municipal de prevenção combinada ao HIV, a pesquisa procurou responder como elaborar, planejar, monitorar e avaliar ações de prevenção junto à população jovem negra LGBTI+ periférica. O estudo partiu da constatação de que as relações entre saúde, arte e cultura precisam caminhar intersetorialmente para acessar populações que não estão nos serviços de saúde, mas organizadas e mobilizando ações culturais nas periferias, a fim de reinventar o que chamamos de “prevenção do HIV”.

Cartelas de Comprimidos

Há uma linguagem que jovens negros mobilizam para falar de saúde que deve ser antirracista. Há uma linguagem que jovens trans mobilizam para falar de saúde que deve ser transcentrada. Há uma linguagem própria dessa juventude periférica que se dá pelo funk e por ritmos musicais negros, ou seja, as práticas de prevenção devem ser planejadas a partir dessa perspectiva, do quanto coletivos e movimentos artísticos, culturais e políticos invertem a lógica da saúde pautada no “risco” e na “vulnerabilidade” para formular a política pública, por exemplo.

Trata-se de uma nova narrativa sobre a prevenção do HIV, dando vez e voz à população jovem negra LGBTI+ periférica como protagonista das ações de prevenção, ampliando o cenário para práticas de promoção de saúde em espaços culturais onde o serviço de saúde, muitas vezes, parece distante. A grande potência da prevenção combinada é de dar a possibilidade de a pessoa jovem escolher o melhor método de prevenção para a sua saúde.

Quais foram as conclusões?

Em um contexto em que a prevenção é combinada, precisamos primeiro combinar com jovens negros LGBTI+ periféricos como elus querem se prevenir. Essas estratégias de prevenção combinada devem estar à disposição da juventude periférica, rompendo barreiras entre serviços de saúde e cultura, produzindo acesso e equidade para quem mais precisa, “racializando” a prevenção do HIV, enfrentando o problema do racismo nas práticas de prevenção combinada.

Quem deveria conhecer os resultados?

Jovens negros LGBTI+ periféricos, coletivos e movimentos culturais que produzem saúde nas quebradas, gestores de políticas públicas, gerentes de serviços, profissionais de saúde, conselhos de saúde, pesquisadores e acadêmicos interessados no tema.

Allan Gomes de Lorena é graduado em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo); tem mestrado em saúde coletiva pela Faculdade de Medicina da USP, com formação pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ) e residência artística pela Casa da Escada. É especialista em Gestão de Redes de Atenção à Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz. Autor dos livros “Passagens” (2023, no prelo), pela editora Aboio, “Sem perreco: a prevenção do HIV em fluxos, festas e bailes funks” (2022) e “Uma ou várias? IdentidadeS para o sanitarista!” (2016), ambos publicados pela editora Hucitec. Trabalha na gestão do SUS desde 2017 junto às periferias da cidade de São Paulo. É também Consultor Técnico em Prevenção Combinada no Projeto ColocAÇÃO/CHEMSEX, do Instituto Multiverso, e Coordenador do Projeto ResPire, do Centro de Convivência É de Lei.

Fonte: Nexo Jornal