Instituto nunca havia identificado os dois pontos de forma conjunta. Inovação aparece na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde. Levantamento de 2022 mapeou população bi e homossexual, mas não buscou pessoas transgênero

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciou nesta segunda-feira (9) que vai perguntar pela primeira vez a orientação sexual e a identidade de gênero dos entrevistados em uma pesquisa. Trata-se da PNDS (Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde) 2023. Até agora, o instituto nunca havia identificado os dois pontos de forma conjunta.

A PNDS tem perguntas sobre a avaliação do estado de saúde, a satisfação com os serviços públicos, o planejamento reprodutivo e o uso de métodos contraceptivos, entre outros. De 1986 a 2006, teve três edições realizadas pelo Ministério da Saúde. O IBGE diz que a inclusão de questões sobre gênero e sexualidade é uma demanda da sociedade civil e “ratifica a importância de sua captação”:

“Estamos em um processo de construção de questionário em um tema que é muito novo para o IBGE. É sensível, é delicado, tem uma questão política muito forte por trás dele”

Maria Lucia França Pontes Vieira

pesquisadora do instituto, em declaração nesta segunda-feira (9) reproduzida pelo jornal Folha de S.Paulo

A coleta dos dados da pesquisa começa nesta segunda (9). Agentes vão visitar nos próximos quatro meses cerca de 133 mil domicílios, distribuídos em mais de 2.500 municípios em todo o país. O levantamento é amostral, ou seja, os domicílios foram selecionados por métodos estatísticos para representar o país, segundo a Agência de Notícias do IBGE.

As perguntas sobre orientação sexual e identidade de gênero vão valer para pessoas com 18 anos ou mais. O IBGE ouviu militantes da causa LGBTI+ para elaborar o questionário. Para se sentirem mais confortáveis, mulheres vão ser entrevistadas por mulheres e homens vão ser entrevistados por homens, informou o jornal Folha de S.Paulo.

Em 2022, durante a coleta de dados da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), o IBGE mapeou a orientação sexual dos entrevistados, mas não aplicou questões sobre identidade de gênero. O levantamento mostrou que 2,9 milhões de brasileiros se declaravam homossexuais ou bissexuais, como registrou o Nexo. A pesquisa, porém, foi considerada frágil por ignorar a sexualidade de pessoas transgênero, entre outras críticas.

O Nexo mostra num Explicado os conceitos e a visão científica em torno dos estudos de gênero. Mostra também quais são os desafios para a população trans. O Brasil é um dos países mais violentos para as pessoas LGBTI+, segundo dados levantados por organizações da sociedade civil.

Fonte: Nexo