O protagonismo feminino está cada vez mais em evidência. Assuntos que antes poderiam ser considerados “tabu”, hoje fazem parte da rotina delas de maneira natural. Assim, as mulheres se sentem mais à vontade para debater sobre assuntos relacionados à sexualidade e relacionamentos, conhecer melhor o próprio corpo, tirar dúvidas, sentir mais prazer e serem livres e mais felizes.

Com o objetivo de estimular ainda mais o empoderamento feminino e o autocuidado, o Centro de Referência e Treinamento em IST/Aids de São Paulo (CRT), realizou neste 8 março, Dia Internacional da Mulher, uma roda de conversa para debater as especificidades de mulheres cis e trans quando o assunto é sexualidade, educação sexual, prevenção e prazer.

O bate-papo, sob mediação da Gerente de Prevenção do CRT, Ivone de Paula, teve a participação da jornalista Roseli Tardelli, diretora desta Agência, das médicas Rosa Alencar e Maria Felipe de Medeiros, Deborah Malheiros, gestora em políticas públicas para LGBTI, e da ativista Kika Medina, presidenta da Associação LGBTQIA.

“Infelizmente nós mulheres ainda sofremos preconceitos de raça, cor, orientação sexual e identidade de gênero. Essa live é simples, mas é profunda. Espero que outras mulheres, ao entrarem em contato com esse conteúdo, saibam que o corpo é nosso, e que não é não”, disse Ivone.

Roseli Tardelli aproveitou a live para ressaltar a importância das mulheres no combate ao HIV/aids. “As profissionais de saúde, principalmente as do CRT/Aids, têm a nossa reverência e respeito, elas têm uma dedicação diária, com muita alegria e verdade, devemos agradecer a todos os profissionais de saúde. O CRT é referência em tanta coisa, e é referência também nesse cuidado feminino para com as mulheres vivendo com HIV/aids.”

Roseli chamou atenção para as violências que as mulheres sofrem por ser quem são. “Infelizmente a sociedade ainda é muito excludente, heteronormativa e descuidada com nós mulheres. Aos poucos vamos conquistando nosso espaço e quebrando barreiras. Hoje, temos uma mulher no Ministério de Saúde, Nísia Trindade, depois de 70 anos de Ministério da Saúde do Brasil conseguimos essa vitória, temos a Dra. Maria Clara, como coordenadora-adjunta, do Departamento de IST/aids, Hepatites Virais e Tuberculose. Todas essas conquistas e esse caminhar das mulheres foram acontecendo porque alguém abriu portas e nós batemos nelas para se abrirem para nós.”

A infectologista Rosa Alencar, coordenadora-adjunta do CRT, falou sobre a luta que as mulheres ainda enfrentam no dia a dia. “Esse dia traz a nossa memória muita luta, temos conquistas? Sim. Mas ainda há muito a ser feito e conquistado, ainda vamos avançar muito nas políticas relacionadas à questão de gênero”, ressaltou.

Inclusão

Maria Felipe de Medeiros, a Mafe, também do CRT, aproveitou a live para falar sobre os desafios enfrentados por mulheres trans e travesti. “Fico contente em fazer parte deste dia, reconheço que infelizmente sou uma exceção dentro da realidade de diversas mulheres trans e travestis do nosso país. Pelo quinto ano seguido, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo e que mais violenta pessoas trans e travestis no geral. Eu sou uma exceção porque consegui ter acesso à educação, ao trabalho formal, tenho fonte de renda fixa, e essa não é a realidade das minhas manas e dos meus manos trans”, relatou a médica.

Prevenção

No que diz respeito à prevenção, Mafe disse que “precisamos entender para quais mulheres estamos falando antes de passar qual tecnologia de prevenção elas devem usar. São mulheres cisgênero, são mulheres transexuais, travestis, quais são as realidades de cada uma e para quem precisamos olhar agora. Óbvio que devemos olhar para todas, pois falamos de equidade, mas existem alguns públicos mais vulneráveis”, pontuou.

Deborah Malheiros, gestora em políticas públicas para LGBTI, também esteve entre as convidadas da live em homenagem às mulheres. “Até hoje a pauta das mulheres lésbicas continua sendo muito invisibilizada, bem como as políticas públicas.”

“Hoje eu sou uma travesti, com 63 anos, filha de pai militar. Eu vivi tudo o que vocês comentaram aqui hoje, sobre as histórias, a violência e a agressão que a nossa sociedade sofreu. Como a nossa colega Mafe citou, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis, e a hipocrisia é tanta, que o Brasil é o país que mais consome esse sexo, ele consome e mata, isso é horroroso demais”, desabafou Kika Medina, presidenta da Associação LGBTQIA.

“Nós, mulheres travestis e transexuais temos no nosso DNA a resistência, o enfrentamento e a luta. Ao sair na rua, estamos dando a nossa cara a tapa. Temos uma luta muito grande, ainda quero ver esse país sendo digno, respeitoso e igualitário”, concluiu a ativista.

O bate-papo terminou com uma reflexão. “Hoje trouxemos um pouco da luta e da história de cada uma, abordamos a questão do HIV, das gerações, mostramos as diversas faces de nós mulheres, mostramos a importância da nossa luta, de conhecer os nossos direitos e de lutar por eles sempre”, finalizou a gerente de prevenção, Ivone de Paula.

Em breve, o CRT São Paulo vai disponibilizar o bate-papo na íntegra.

 

Dica de entrevista

CRT Santa Cruz

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Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)