Ao lado do oncologista Nelson Teich, indicado como novo ministro da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro agradeceu Luiz Henrique Mandetta por seu trabalho à frente da pasta e voltou a criticar medidas restritivas de governadores. O presidente anunciou oficialmente Teich como novo ministro e comparou a saída de Mandetta da pasta a um “divórcio consensual”.”Foi realmente um divórcio consensual. Acima de mim como presidente e dele [Mandetta] como ainda ministro está a saúde do povo nós está em primeiro lugar”, declarou Bolsonaro. A decisão brasileiro. A vida para todos do presidente não agradou ativistas que lutam pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Para a militante Carolina Iara, “trocar toda uma equipe técnica, orientação política no Ministério da Saúde em meio o maior desafio após a Segunda Guerra Mundial, por Nelson Teich (que não conhece nada sobre a máquina pública e não tem nenhum apoio político) é um erro grotesco que custará vidas.” O escrito Salvador Corrêa concorda: “A alternância de lideranças no âmbito da saúde em qualquer esfera de poder não deve ser adotada nesse momento. Quando se muda uma chefia de um setor, leva-se um grande tempo de adaptação da equipe, “conhecimento do terreno”, fluxos e procedimentos operacionais. O Brasil não tem esse tempo a perder!”

Confira todas as opiniões a seguir:

 

Carolina Iara Oliveira, travesti, intersexo, cientista social, integrante do Coletivo Loka de Efavirenz e da Rede de Jovens São Paulo Positivo: “Mandetta não representava o melhor dos mundos na condução do SUS, haja vista que como deputado foi fiador de várias ações anti-SUS como o teto dos gastos públicos e sua relação íntima com o setor privado de saúde e o lobby farmacêutico. No entanto, sua saída representa uma radicalização do presidente de enfrentar as diretrizes da OMS e o isolamento social responsável pela pandemia, mesmo após uma derrota no STF com relação à autonomia de estados e municípios de decretar quarentena. Trocar toda uma equipe técnica, orientação política no Ministério da Saúde em meio o maior desafio após a Segunda Guerra Mundial, por Nelson Teich (que não conhece nada sobre a máquina pública e não tem nenhum apoio político) é um erro grotesco que custará vidas. Fora que o novo ministro não aponta caminhos para testagem em massa que ele promete, e se coloca como capacho presidencial ao sinalizar flexibilização do isolamento. É temerário o que está acontecendo, ter afrouxamento do isolamento agora pode representar um genocídio da população mais vulnerável. Não podemos permitir.”

Beto de Jesus, ativistas pelos direitos humanos e diretor da AHF no Brasil: “Parto do princípio de que o problema entre Bolsonaro e Mandetta nunca foi sobre visões diferentes, se fosse Mandetta não teria aceito ser ministro desse (des)governo. Em relação ao Bolsonaro ele não tem qualquer tipo de conhecimento para ter qualquer opinião para o combate a Covid-19. O que ele fez foi politizar o enfrentamento ao coronavírus, sendo uma matraca do Trump e depois foi deixado a deriva, quando as coisas ficaram bem sérias nos Estados Unidos. É triste o sofrimento que o nosso povo está sendo submetido por um governo tão inescrupuloso. Precisamos estar conectados com conhecimento acumulado em relação as epidemias e seguir o que o mundo está dizendo. Temos exemplo para não seguir: Itália, França, Espanha, que não fecharam quando era necessário e veja os milhares de mortos, muitas mortes que poderiam ter sido evitadas. Infelizmente não chegamos ao fundo do poço ainda e vamos ver coisas muito tristes que poderiam ser evitadas. É irracional essas pessoas fazendo manifestações contra o lockdown, dentro de seus carros caros e obviamente de vidros fechados. Estamos vivendo a barbárie, necessitamos de um choque de civilidade, de percepção do outro, da alteridade e da solidariedade. Não venceremos a pandemia instigando o ódio. Seguimos torcendo pelo Brasil… que o novo ministro seja guiado pela ciência e não pela insanidade do presidente.”

Rafaela Queiroz, membro do Movimento das Cidadãs Posithivas: “A população já está muito confusa com a posição do presidente quanto ao enfrentamento da Covid-19, a saída do Mandetta só trará mais insegurança, não houve qualquer motivo que configurasse uma demissão pensando na população, esta ação só demostra que há uma infantilização no comportamento do presidente, “se não concorda com ele sai do parquinho”! Temos visto os inúmeros casos que estão sobrecarregando hospitais e o número de mortes alarmante por falta de isolamento social em outros países. No Brasil, estaria acontecendo o mesmo se não fosse as medidas aconselhadas por Mandetta e sua equipe. Eu enquanto cidadã tenho receio do que a demissão do ministro poderá refletir nesta pandemia para todos. É muito fácil alguém com total acesso à saúde privada e equipada querer que acabe o isolamento social ou que tratemos uma pandemia como uma “gripezinha”. Só espero que quem for assumir não haja com irresponsabilidade social perante este importante enfrentamento a Covid-19 no Brasil.”

Fabiana de Oliveira, representante Estadual do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas São Paulo: “Eu só tenho a lamentar esse jogo político. Estamos vivendo, em todo o Brasil e no mundo, um momento crítico, tenso, que tem afetado, não só economicamente, mas social e emocionalmente muitas famílias. Mandetta estava fazendo um trabalho muito bom no enfrentamento do coronavírus, baseado em técnica e evidências científicas. Não dá para enfrentar uma pandemia com achismo e olhando apenas para seu “umbigo”, minimizando um problema de saúde grave que tem levado muitas pessoas a óbito e pode levar muito mais, uma vez que nosso sistema de saúde está sucateado, sem recursos e profissionais para atender a demanda. Espero, sinceramente, que o novo ministro, Nelson Teich, tenha compromisso com o SUS e, paute suas decisões em critérios que prevaleça a saúde, o bem-estar e a vida do povo brasileiro e não em detrimento dela.  Enquanto movimento social, o MNCP segue em apoio a revogação da EC 95, colaborando com nossas companheiras, mulheres que vivem com HIV/aids que estão enfrentando muitos problemas e situações difíceis com o isolamento social e, defendendo o melhor plano de saúde – o SUS. #FicaEmCasa”

Rodrigo Pinheiro, presidente do Foaesp (Fórum de ONGs/Aids do Estado de São Paulo): “A minha expectativa era de que não houvessem mudanças diante da maior crise da saúde pública que estamos vivenciando. Já que aconteceu, por questões políticas do presidente e por ele não conseguir trabalhar o ego, a expectativa com o novo ministro – que não tem nenhuma experiência com políticas públicas de saúde ou gestão pública de saúde e é ligado a iniciativa privada – é que pelo menos ele reestabeleça o que está prescrito, o que a ciência tem demonstrado e o que o restante do mundo tem feito na resposta da pandemia da Covid-19. Vários países tiveram o entendimento de que essa pandemia não era grave e voltaram atrás. O Brasil, por parte do nosso presidente, continua dizendo que não é uma situação grave de saúde pública. Esperamos que o novo ministro tenha consciência de respeitar a ciência e o que tem sido feito por outros países que estão a frente no enfrentamento desta pandemia.”

Salvador Campos Corrêa, escritor, sanitarista e membro da RNP+ (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids): “A alternância de lideranças no âmbito da saúde em qualquer esfera de poder não deve ser adotada nesse momento. Quando se muda uma chefia de um setor, leva-se um grande tempo de adaptação da equipe, “conhecimento do terreno”, fluxos e procedimentos operacionais. O Brasil não tem esse tempo a perder! São falaciosas e vazias as palavras do presidente  ao dizer que “a vida está em primeiro lugar” quando toma uma atitude como essa de demissão do ministro. Mandetta está sendo demitido pelos acertos e por seguir as recomendações dos organismos sanitários internacionais e nacionais; exatamente por tentar colocar a vida em primeiro lugar. O anúncio sinalizado por Bolsonaro sobre flexibilização do isolamento social é de uma irresponsabilidade tamanha. Espero que o governo federal “fique sozinho” nesse absurdo que contraria todas as recomendações sanitárias vigentes. Nunca os interesses capitais deveriam estar na frente da vida. Essa é a hora do governo fortalecer como nunca na história os projetos sociais, ambientais e que enfrentam as vulnerabilidades para manter as pessoas em casa, excetuando-se apenas os serviços essenciais. Temos empresas dispostas a apoiar com mobilização histórica de recursos, sociedade civil em total mobilização solidária, mas há falta de comando inteligente por parte do governo federal, doutrinado por forças ideológicas que visam  atacar grupos vulnerabilizados, exploração da força de trabalho e sucateamento dos serviços públicos. Devemos repudiar toda e qualquer ação que dificulte a assistência à saúde como suspensão de consultas, dificuldades no acesso à testagem para o Covid-19. É também importante a manutenção dos serviços de HIV. Precisamos somar coro ao movimento social de aids que clama por ampliação da testagem do Covid-19 baseado nos direitos humanos e sociais. Por fim, precisamos cada vez mais focar nas ações solidárias do movimento aids e outros movimentos sociais. Vamos andar juntes com mais solidariedade e afeto, doando nosso melhor. A epidemia de aids nos mostrou que esse caminho quando traçado pela sociedade civil, empresas e governos podem mudar positivamente a história. Se o governo não está fazendo a parte dele, que façamos a nossa parte com toda força que pudermos e que possamos mobilizar toda sociedade sobre a importância de defendermos que os critérios sanitários e acadêmicos com base nos direitos humanos e sociais possam nortear a resposta ao Covid-19.”

Silvia Almeida, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Vejo um grupo de governantes que não sabem na verdade o que é melhor para todos. Penso que ao invés de trocar ocupantes de cadeiras todos deveriam serenar os ânimos, sentar e buscar um caminho coerente, justo e pensando nas pessoas. Para que existem os fundos de emergência? Dêem de comer a quem precisa e recuperem as empresas depois… Nós e o Brasil nunca passamos por algo parecido com essa pandemia. O que esperar de governantes que usam uma pandemia desta grandeza para pensar apenas nas próximas eleições? Como muitos tem feito… Mandetta estava fazendo um bom trabalho, mas incomodava quem não sabe ou não quer sentar e dialogar. Quem poderá nos salvar? Não sei…o mundo não sabe… Bora isolar e rezar.”

Vando de Oliveira, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV no Ceará: “Trocar um ministro da Saúde que vem trabalhando de acordo com as recomendações da OMS e das autoridades de saúde do mundo em plena pandemia e no estado que se encontra no Brasil não é só arriscado, mas no mínimo irresponsável! Não se pode neste momento priorizar o trabalho antes da vida. O Presidente da República apenas demonstra a cada dia o que ele é de fato, uma pessoa anormal. Para ele, a vida dos brasileiros não é importante, está abaixo do lucro do mercado e do emprego.”

Américo Nunes Neto, coordenador do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra Aids): “Na atual conjuntura da pandemia da Covid-19, fica a expectativa que ele considere as recomendações da Organização Mundial da Saúde e profira a manutenção da quarenta até que seja necessária. Que tenha o discurso alinhado com as diretrizes do SUS e considerando a empatia e humanização e valorização dos direitos Humanos; assim como não fomente o SUS para instituições privadas de saúde.”

 

Rafael Sann, da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids: “Bolsonaro mantém um discurso sem nenhum embasamento científico contra a Covid-19, e foi por discordar desse discurso que o Mandetta foi demitido. O oncologista Nelson Teich escolhido para substituir Mandetta tem publicado em suas redes artigos a favor do isolamento social, porém acredito que para ser nomeado ao cargo o presidente exigiu que ele se alinhasse com o seu discurso e é exatamente neste ponto que me preocupo e minhas expectativas são as piores. Paralelo a tudo isso ontem o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que prefeitos e governadores podem determinar medidas como isolamento, quarentena e abertura ou não de serviços essenciais para combater o avanço do novo coronavírus. Isso significa que movimentos sócias e órgãos de controle social do SUS, precisará fortalecer sua militância e advocacy junto a prefeitos e governadores. E precisamos nos unir para ter força de articulação neste momento tão difícil da nossa civilização.”

Redação da Agência de Notícias da Aids