Para marcar a passagem do Dia Mundial de Combate à Tuberculose, 24/03, a Agência Aids preparou uma série de reportagens sobre o tema. A data foi criada em 1982 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em homenagem aos 100 anos do anúncio do descobrimento do bacilo causador da tuberculose, ocorrida em 24 de março de 1882, pelo médico Robert Koch.

Dulce Barana, moradora da cidade de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, tem uma história de superação em relação ao diagnóstico. Ela vive com HIV há 35 anos e descobriu no final dos anos 1990 a tuberculose. Hoje, membro do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, ela usa sua história para conscientizar as pessoas sobre a importância da prevenção, diagnóstico e tratamento dessas doenças.

Dulce tem 73 anos, é mãe da Vitória, de 42 anos, e da Júlia, de 41, e avó de Rafaela, de 19 anos. Ela descobriu o diagnóstico de HIV em um momento da epidemia onde o estigma era grande. “Ser HIV+ naquela época era uma sentença de morte. Quando eu saí do Instituto Emílio Ribas não sabia se eu ia para casa ou se me jogava embaixo do ônibus”, contou, relembrando o momento de desespero ao receber o diagnóstico, em 1988.

A ativista descobriu a tuberculose anos depois, quando fez vários exames que eram exigidos para pessoas com HIV. “Fiz uma bateria de exames no Hospital Emílio Ribas, onde fazia o tratamento na época, entre os exames, fiz o de TB e descobri a doença. Tive tuberculose pulmonar, em 1998, e alguns anos depois descobri a hepatite C”, contou Dulce.

Dulce contou que o receber o diagnóstico de TB foi mais tranquilo do que o de HIV. “Meu tratamento contra TB durou 6 meses, não tive efeito colateral nenhum, tomei a medicação, e conclui o processo. Depois de seis meses eu fiz o exame e já estava curada, e estou até hoje”, celebrou.

Professora de educação física, com especialização em yoga, Dulce sempre apostou na atividade física para manter a qualidade de vida. Hoje, ela se diverte cuidando de seus dos pets. “Maia e Alice são as minhas gatas e tenho o Jack e a Dutra que são os cachorros, eu considero muito importante ter um animalzinho de estimação, eles são os meus filhos de quatro patas.”

A professora aprendeu no yoga um lema que leva para a vida: “viver o aqui e agora. Gosto de levar a vida com muita energia e entusiasmo”, expressou.

Amante de lasanha e de filmes de romance, comédia, desenho animado e suspense, encontrou nos gêneros de filme uma identificação com tudo que já viveu.  Para se divertir, ela vai à praia, faz meditação e dá aulas de yoga. “Tenho alunos que estão comigo há 30 anos”, comemorou.

Ativismo

Sua história no ativismo começou um pouco depois de receber o diagnóstico de HIV. “Fiquei estressada e isso me causou herpes zoster na perna. Na época, minha médica me passou o contato de um psiquiatra e esse profissional falou que existia um grupo de apoio às pessoas vivendo com HIV/aids, não pensei duas vezes e fui conhecer. Entrei para o Grupo de Incentivo à Vida, o GIV, em 1995”, lembrou.

A organização estava começando e fui uma das pessoas que ajudou na fundação, aprendi muitas coisas lá. Me tornei secretária do José Roberto Peruzzo, o fundador do GIV. Fiquei no GIV por 4 anos”, relatou.

Hoje, Dulce faz parte do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP). “Conheci o grupo através de uma integrante. Sempre acompanho as lives e estou por dentro das ações, ainda não consegui ter um encontro presencial com elas por conta da minha rotina, mas creio que em breve nos encontraremos”, mencionou.

A vida no litoral

Sobre a vida em Ubatuba, Dulce afirmou que tem sito incrível. “Depois que deixei o GIV decidi morar no litoral, estava em busca de qualidade de vida. Foi uma ótima escolha, vim para cá para morrer, mas foi aqui que descobri a vida. Na cidade, o meu CD4 estava muito baixo, chegou a 100, e a herpes zoster muito avançada, tanto que tenho marcas na perna até hoje, mas em Ubatuba consegui seguir em frente”, pontuou.

Políticas públicas

Na avaliação da ativista, é possível afirmar que existe alguns avanços na luta contra a tuberculose, mas é preciso avançar muito mais. “As políticas públicas de combate à TB não chegam na população mais vulnerabilizada, a tuberculose é uma doença silenciosa e que ainda é deixada de lado. A prevenção e o diagnóstico precoce são importantes no combate à doença. Muitas ações e atividades ainda são negligenciadas e não acontecem da forma como é relatado nos papéis. Sou grata por ter feito todo o meu tratamento de tuberculose no Emílio Ribas, que é centro de referência, e eu não tive nenhum contratempo” explicou.

Ela continua: “O que me ajudou foi a adesão ao tratamento e a médica que eu tive, que me passou todas as orientações. Seguir em frente é preciso, façam tratamento porque vai dar certo. As pessoas se aprofundam muito na doença, e eu repito o que aprendi no yoga, temos que viver o aqui e agora”, finalizou Dulce.

Dica de entrevista

Dulce Barana

E-mail: dulcebarana@yahoo.com.br

Gisele Souza (gisele@agenciaids.com.br)

 

Leia Também:

Pessoas que vivem com HIV têm 28 vezes mais chances de contrair tuberculose; Infectologista Maria Felipe dá dicas de prevenção

Conheça a história de luta e resiliência de Carlos Duarte, que vive com HIV e venceu a tuberculose duas vezes

Ministério da Saúde registra aumento de 11% nas mortes por tuberculose no país; Pessoas em situação de rua, vivendo com HIV, imigrantes e indígenas são os mais atingidos