Viver com HIV está longe de ser uma sentença de morte, como já se acreditou no passado. Hoje, as mulheres que vivem com o vírus podem continuar perfeitamente sua profissão, estudos, relacionamentos afetivos e aquelas que desejam ser mães, podem optar pela gestação. No entanto, apesar de ser uma condição controlável e gerenciável, exige alguns cuidados para manter sempre a saúde e qualidade de vida.

Neste mês das mulheres, a Agência Aids publicou uma série de matérias homenageando as mulheres e meninas, que com toda a força e magia feminina transformam o mundo para melhor. O mês está quase se encerrando, mas a luta pela igualdade e pelos direitos das mulheres ainda continua. Inclusive, falando em direitos, toda mulher tem direito a viver bem e com saúde. Por isso, batemos um papo com a médica infectologista Larissa Tiberto, que atende no Hospital das Clínicas (FMUSP), para compartilhar dicas importantes para as mulheres que vivem com HIV/aids. Confira:

Não interromper o tratamento

De acordo com a especialista, não existe receita milagrosa, a base do tratamento é a tomada correta e contínua da medicação antirretroviral, mas adotar hábitos saudáveis diários que contribuam para o bem-estar físico, mental e emocional é algo que faz a diferença.

Geralmente, as mulheres lidam com múltiplas responsabilidades e muitas vezes enfrentam sobrecarga do trabalho, estresse, cuidados com a família, entre outros desafios. Isso pode dificultar a adesão ao tratamento, porém é possível encontrar estratégias e manter a saúde em dia. Mas então, como evitar a perda do esquema antirretroviral? A médica responde: “Eu oriento colocar o remédio sempre em um lugar de fácil acesso” e exemplifica: “se você sempre acorda e tem o costume de tomar um copo d’água, deixar os comprimidos de manhã ali perto do seu copo d’água é uma boa! Se acontecer alguma coisa, se por acaso você sair da rotina, ainda terá o dia inteiro para lembrar. Agora se você toma o comprimido à noite e esquecer, não vai ter jeito, só no outro dia mesmo. Então, eu dou essa dica de ouro sempre.”

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Alimentação balanceada

Dra Larissa orienta ainda uma alimentação balanceada. Segundo ela, é importante ter moderação no consumo de alimentos ricos em açúcar e glúten, pois são alimentos que podem causar inflamação no corpo, e isso não apenas para quem vive com HIV, mas para toda a população.

Existe uma relação entre o consumo excessivo de açúcar e o desenvolvimento de candidíase, especialmente em mulheres que usam roupas apertadas e abafadas com frequência. A candidíase é uma infecção causada pelo crescimento excessivo do fungo Candida, que é naturalmente encontrado no corpo, mas pode se tornar um problema quando há um desequilíbrio no organismo. O consumo excessivo de açúcar pode alimentar o crescimento do fungo, favorecendo o desenvolvimento da candidíase. Além disso, o uso de roupas apertadas e abafadas cria um ambiente úmido e quente, que também pode favorecer o crescimento do fungo. É importante então moderar o consumo de açúcar e evitar o uso de roupas que possam abafar a região genital, especialmente em casos de predisposição à candidíase.

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Por isso, a médica destaca a importância da moderação no consumo de açúcar, recomendando uma alimentação balanceada com alimentos naturais e aconselha evitar alimentos processados e industrializados. “Eu falo que pode comer de tudo, com tanto que seja com moderação, sem excesso de açúcar e de glúten, porque são extremamente inflamatórios. É muito comum algumas mulheres terem candidíase, principalmente se usam muito calça apertada, abafada o tempo todo […]. Claro que naqueles dias da TPM a gente acaba fechando os olhos e aí comemos um docinho ou outro, o que não tem problema, desde que prefira na rotina retirar o açúcar. Indico comer comida de verdade, arroz, feijão, uma carne, fruta, legumes…”

Atividade física regular

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Junto com a alimentação saudável e balanceada, a infectologista indica a prática de atividade física. “O exercício físico, na verdade, é uma dica multifatorial, porque ele vai ajudar na perda de peso ou a manter o peso, vai ajudar você a criar massa magra, e a gente precisa de musculatura para sustentar nosso esqueleto, também ajuda a diminuir a resistência histamina, é cardioprotetor, ou seja, protege nossos corações, artérias e veias, também tem efeito benéfico no nosso sistema nervoso central, porque libera endorfina e serotonina, gerando aumento do nosso bem-estar também.”

Em casos de mulheres com diagnóstico recente de HIV, quando a carga viral está alta e os níveis de CD4 estão baixos, indicando aids, e até mesmo pensando naquelas com possíveis debilitações, é recomendável iniciar com fisioterapia. A ideia da médica é ir adaptando gradualmente, conforme a melhora da paciente. 

Dra Larissa Tiberto, aproveita e destaca o impacto positivo dos exercícios na saúde mental e autoestima feminina, garantindo que estes sejam momentos de autocuidado e autoamor.

Para aquelas que não têm acesso a uma academia ou vivem em áreas perigosas, ela sugere adaptar os exercícios para fazer em casa. Um exemplo citado é a zumba, que pode ser feita seguindo vídeos online, através do celular. 

Terapia e rede de apoio

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Segundo a Dra. Larissa, muitas mulheres se culpam, começam a se auto-sabotar, achando que não merecem ser felizes, saudáveis ou ter relacionamentos saudáveis. Nesse sentido, uma rede de apoio sólida e confiável, somada a um acompanhamento com algum (a) profissional em saúde mental (psicólogo), é fundamental para virar essa chave, se perdoar e se valorizar, além de dividir o peso que, infelizmente, o estigma ainda carrega. 

“Conforme esta mulher se perdoa e perdoa o outro, ela consegue virar a chave e começar a fazer as coisas por ela mesma, a se valorizar… É fundamental ter uma rede de apoio, você ter com quem conversar, fazer terapia […]. Aqui no Hospital das Clínicas, a gente conta com a psicóloga, no meu consultório particular, eu também sempre recomendo fazer uma consulta com o psicólogo e ir acompanhando, porque o tratamento em si, hoje, é remédio. Você toma ou dois e pronto. Não são muitos comprimidos e não tem muitos efeitos colaterais. A doença é tranquilamente controlada, o vírus fica intransmissível. Então, o grande problema ainda é o estigma e o preconceito.”

Médico com desenhos animados do paciente | Vetor Premium

Em relação às comorbidades que podem aparecer com o envelhecimento natural do corpo das mulheres vivendo com HIV, a Dra. Larissa indica que, de forma geral, a população vivendo com HIV/aids costuma ir mais ao médico, o que facilita o monitoramento de problemas como pressão alta, doenças renais, cardiovasculares, entre outras doenças. Ela reforça a importância de fazer exames regulares, entretanto destaca que “o grande segredo para o HIV é igual para todas as doenças crônicas: comer bem, fazer atividade física e tomar o remédio.”

A médica infectologista está disponível para consultas presenciais, em São Paulo, e também oferece atendimento on-line para todo o Brasil. Clique aqui para agendar

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

dralarissatiberto@infectologista.com.br

@dralarissatiberto

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