O cuidado integral para com a saúde das mulheres vivendo com HIV é possível? Classe social, raça, etnia, identidade de gênero, orientação sexual, práticas sexuais, dentre outros fatores, interferem no autocuidado, são estruturantes e determinantes na promoção de um viver pleno e saudável? Todas estas questões foram esclarecidas na live que aconteceu na noite dessa quinta-feira (9), idealizada pelo MNCP (Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas).

A responsável por discorrer sobre os temas propostos foi Claudia Santamarina, psicóloga, mestre em psicologia social, doutora em psicossociologia, doutoranda em saúde da mulher com foco no campo do HIV/aids.

A especialista convidada já iniciou sua fala afirmando que é possível sim garantir o direito a saúde integral de mulheres cis e trans que vivem com HIV, todavia diversas questões, sobretudo o contexto social, devem ser considerados.

“O lugar onde a gente nasce e é criado, a possibilidade de se ter uma vida um pouco mais saudável no seu ambiente e em seu entorno, saneamento básico, acesso à água potável, segurança pública… são coisas que são básicas, mas que interferem na promoção de saúde’, explicou, destacando que para quem está inserido em contextos de maior vulnerabilidade e inseguridade social num todo os desafios são ainda maiores”, frisou.

“A maior parte da população brasileira vive nessas condições precárias. Vivemos em um país de extrema desigualdade, há pouca gente rica e muita gente pobre, e normalmente são essas pessoas (as mais pobres) que fazem uso do SUS (Sistema Único de Saúde).”

Outro fator citado pela pesquisadora, foi as condições de trabalho insalubres que muitas cidadãs enfrentam diariamente.

Em seguida, se atentou a alertar que raça, gênero e orientação sexual fazem parte do debate. De acordo com ela, ambos carregam consigo expectativas sociais, cercadas de moralismo, que só atrasam a resposta efetiva a epidemia de HIV/aids.

“O mundo é muito opressor com mulheres cisgêneros e transsexuais, mas muito mais com as mulheres trans e travestis, quando elas são negras, pior ainda. A gente precisa olhar para a cor de quem morre”, completou.

Mortes civis só poderão ser freadas com uma política de saúde que tenha como ponto de partida o princípio da integralidade e interseccionalidade, no contrário, Claudia acredita que enquanto sociedade continuaremos falhando na garantia do direito fundamental à saúde das mais diversas mulheres brasileiras.

Serviços de saúde e seus profissionais devem estar devidamente capacitados, em todos os âmbitos para, de fato, acolher e cuidar dessas vidas.

Para além, autoconhecimento, educação e informação de qualidade também são peças-chaves para quebra de paradigmas emergentes, já que “saúde não é só a ausência de doença. Muita mulher não tem emprego, e quando tem, se remunera muito mal.”

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com)

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