Nascer mulher já impõe uma luta diária ao longo da vida, seja no assédio ao andar pelas ruas, na menor remuneração no ambiente profissional, na violência doméstica que tem o gênero feminino como principal alvo, seja entre outras dificuldades tão presentes em nossa cultura. Ainda assim, há aquelas que encontram uma força a mais para enfrentar não apenas batalhas individuais, mas também melhorar toda a sociedade em que vivem. Em homenagem ao mês da mulher, a Agência Aids está publicando uma série com histórias de mulheres inspiradoras que fazem a diferença na luta contra aids e a favor dos direitos humanos. Entre ativistas, médicas, gestoras e executivas, elas transformam vidas e são referências para quem luta por equidade e justiça social. Conheça a seguir a ativista Fabiana de Oliveira, a médica e pesquisadora Valdiléa Veloso e a advogada Marilia Casseb:
Ativismo, arte e resiliência
Fabiana de Oliveira, é paulista, mora em Catanduva, tem 53 anos, é formada em Ciências Sociais, solteira e sem filhos por opção.
Conhecida por falar pouco, é observadora, objetiva e criativa. Ama viajar, gosta de cores – em especial o verde, arte, história e um bom vinho. Ativista do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, ela também é conhecida por suas habilidades com o artesanato.
Desenvolveu uma maturidade responsável muito cedo. Com a separação do pais, passou a cuidar da casa e dos irmãos, aos 9 anos de idade, enquanto a mãe ia para a lavoura de laranja. Na escola, sentava na primeira fileira e era aquela que sempre ajudava a professora. Na adolescência, era a “careta da turma”. Deu seu primeiro beijo aos 18 anos, foi também nesta idade que começou a namorar. Fabiana acreditava em amor para a vida toda, chegou a noivar. Dois anos depois se separaram. Aos 26 anos, o casal se reencontrou e a chama do amor reacendeu: “namoramos, noivamos e, fiquei doente. Comecei a emagrecer, ter queda de cabelo, fui perdendo o vigor até que meu patrão, que era médico, resolveu me chamar a atenção para minha saúde visivelmente debilitada. Pediu alguns exames e entre eles o de HIV. Nessas alturas, já doente, fui internada e meu noivo viajou. Até hoje! Nunca mais o vi.”
Resultado positivo para o HIV/aids. “Enfrentei uma luta, perdi amigos de balada e festa, mas ganhei outros dentro do hospital. Chorei por algum tempo e sabia que precisava reagir a tudo aquilo. Cheguei a pesar 27 quilos, adoeci gravemente, enfrentei um citomegalovírus e uma bactéria terrível em meu ombro durante esse período. Contudo, lutei para recuperar a saúde porque havia decidido viver.
Na primeira oportunidade de sair daquele hospital fui direto para uma ONG/Aids, me ofereci como voluntária para ensinar artesanato às pessoas que viviam com HIV/Aids. Me tornei uma ativista por não aceitar as condições, as formas de tratamento das pessoas, o preconceito e a discriminação que via no cotidiano, a pobreza e a humilhação para receber uma simples cesta básica. Ouvi falar de um grupo de pessoas com HIV que estavam se articulando para formar uma rede e logo fui atrás de obter mais informações. Comecei a participar da RNP+. Aprendi muito com companheiros que já se foram. ”
Atualmente, seu ativismo é pela vida das mulheres, por acesso, por direitos, contra o machismo e a violência, por políticas públicas que atendam às necessidades das pessoas que vivem com HIV/Aids. É representante estadual do Movimento Nacional das Cidadãs Positivas, núcleo São Paulo e regional Sudeste. Também atua na secretaria de comunicação do movimento. “O ativismo me inspira, me fortalece, me encoraja a seguir em frente. De vez em quando digo que sou meio que workaholic por trabalho, sou dedicada e quero fazer sempre muito bem feito o que me proponho. Tenho poucas amigas, mas essas são de verdade e confiáveis. Essa sou eu!”
Ela sempre acreditou na ciência
Dra. Valdiléa Veloso é graduada em Medicina pela UERJ, é Mestre em DIP (UFRJ) e Doutora em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz). É Pesquisadora Titular da Fiocruz e integra a equipe do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI).
É Diretora do INI/FIOCRUZ e lidera o INI na resposta à pandemia da Covid-19. É docente permanente do curso de Pós-Graduação Stricto sensu do INI/Fiocruz. É pesquisadora das redes de pesquisa do NIAID/NIH: ACTG, HPV e HVTN. É a pesquisadora principal do projeto de implementação de PrEP na América Latina – Improp., um consórcio de instituições no Brasil, México e Peru.
No período de 1997 a 2000, chefiou a Unidade de Assistência do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde, com importante participação na implementação do programa de acesso universal ao tratamento antirretroviral. Foi Gerente do Programa de DST e Aids da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, no período de 2000 a 2003.
Foi Pesquisadora Visitante Sênior da Fundação de Amparo à Pesquisa da Amazônia na Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado em Manaus, AM, no período de 2014 a 2016. Desenvolve atividades de educação comunitária e difusão do conhecimento científico para a sociedade (popularização da ciência).
Carreira foca em Responsabilidade Social e Advocacy
Marilia Casseb é advogada formada pela Faculdade de Direitos da USP, com pós-graduação em Violência Física, Sexual e Psicológica contra crianças e adolescentes pelo Laboratório da Estudos da Crianças da USP, especialização em Responsabilidade Social e Terceiros Setor pela FIA/USP e especialização em Advocacy e Políticas de Saúde pela FGV.
Sua carreira profissional contempla atuação no Governo Estadual de São Paulo; Terceiro Setor e Indústria Farmacêutica, sempre defendendo causas ligadas à defesa dos direitos humanos.
Atualmente é Diretora Associada de Relações Externas da Gilead Sciences Brasil, atuando â frente da Comunicação Corporativa, Patient Advocacy e Responsabilidade Social. Está fortemente vinculada à prática e implantação de projetos e programas corporativos de inclusão e diversidade que somem ao esforço de melhorar a qualidade do capital humano e de gerar oportunidades reais de participação e protagonismo dos vários públicos que compõem a nossa sociedade.
Redação da Agência de Notícias da Aids
Dica de entrevista
Fabiana de Oliveira
E-mail: fabirnpcat69@gmail.com
Ascom Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI)
Tel.: (21) 3865-9144
E-mail: comunicacao@ini.fiocruz.br
Marilia Casseb
E-mail: marilia.casseb@gilead.com