Durante o mês de março, em celebração ao Dia Internacional da Mulher, a Agência Aids está publicando uma série de histórias de mulheres que têm sua trajetória de vida vinculada à luta pelo acesso à saúde das mulheres e equidade de gênero.

Nesta reportagem, é possível conferir a história de mulheres que geram impacto diariamente na aids e na luta por direitos de outras mulheres.

Confira a trajetória da co-deputada Carolina Iara, da Bancada Feminista do PSOL, e da ativista e professora Jeniffer Besse:

Carolina Iara, primeira deputada intersexo do Brasil

A história de Carolina Iara é marcada por muitas vitórias, quebra de paradigmas e pioneirismo. Ela é uma mulher negra, intersexo, travesti vivendo com HIV, que cresceu em Sapopemba, periferia da Zona Leste de São Paulo. Se tornou a primeira co-deputada intersexo do país, sendo eleita pela bancada feminista do PSOL, com mais de 250 mil votos.

Em 2020, foi eleita co-vereadora também pela Bancada Feminista do PSOL, tendo sido a primeira travesti a ocupar uma cadeira na casa legislativa da cidade de São Paulo.

A parlamentar também é a única pessoa trans em todo o programa de pós-graduação da UFABC (Universidade Federal do ABC), instituição onde cursa seu mestrado em Ciências Humanas e Sociais.

No ano passado, Carolina sofreu um atentado contra a sua vida, que acredita ter acontecido por motivações políticas e em virtude de sua militância transexual. Falar sobre HIV não é tabu para si, muito pelo contrário, ela fala abertamente sobre sua sorologia positiva, além de ser uma ferrenha defensora dos direitos das pessoas vivendo com HIV e aids.

Seu ativismo também perpassa a luta por uma política mais representativa, pois acredita que a presença ativa de líderes de grupos sociais vulnerabilizados neste campo é um potente catalisador capaz de transformar o perfil e dinâmica das casas de lei do Brasil.

Sua infância foi marcada pela mutilação genital, tendo já sido submetida a duas cirurgias genitais para esconder sua genitália atípica, que foram feitas sem uma orientação médica adequada a sua família.

Sua realidade era de preconceito e estigma por todos os lados e sentimento de não pertencimento, mas, em contrapartida, sempre pode contar com o amor incondicional de sua mãe e de sua avó.

A descoberta do HIV veio no ano de 2014, após realizar diversos exames no hospital na qual trabalhou como assistente de políticas públicas. Quando veio o resultado positivo, com um diagnóstico tardio, a desinformação fez Carolina ter medo de morrer. Melhor recuperada, decidiu procurar por ONGs que trabalham prestando acolhimento a pessoas que vivem com HIV/aids, foi quando encontrou o Grupo de Incentivo à Vida (GIV). A partir daí, passou a se envolver também com o movimento social de luta contra a aids, o que foi fundamental no seu processo de auto aceitação, engajamento em prol dos direitos humanos, pela saúde pública de qualidade, bem como na sua construção político-social num todo, apesar de já ter tido contato com outros movimentos sociais, como os movimentos de moradia, coletivos artísticos e LGBTQIA+, em meio a sua adolescência e fase da juventude.

Jeniffer Besse, conhecida por semear conhecimento e quebrar paradigmas

Jeniffer Besse nasceu em 1989, é uma mulher vivendo com HIV desde o nascimento, professora de língua francesa, ativista pelos direitos das pessoas vivendo com HIV/aids, agente de prevenção e redutora de danos. Ela foi diagnosticada com o vírus aos 6 anos, e cresceu sob influência de uma sociedade que ainda era muito desinformada e preconceituosa em relação à pauta.

Muito nova para compreender todas as questões que o viver com HIV lhe apresentava, Jeniffer viveu uma infância difícil. A menina cresceu acreditando que HIV era sinônimo de morte e que não havia perspectiva de sobrevivência.

Mais tarde, na juventude, aos 19 anos, decidiu ir morar com sua avó paterna, em Orsières, uma pequena cidade localizada na Suíça.

Besse precisou adiantar seu retorno ao Brasil após um atrito com sua avó que dizia temer que os vizinhos descobrissem a sorologia da neta. Pouco tempo depois sua avó veio a falecer. Diante do ocorrido que muito lhe abalou, Jeniffer se afundou em drogas ilícitas e chegou até mesmo a perder a vontade de viver.

Em 2014, recebeu um telefonema de seu médico a informando sobre um novo medicamento antirretroviral que estava em fase de pesquisa na América Latina. Ela foi aceita para participar do estudo junto com outras 103 pessoas, e em um ano e três meses já tinha zerado sua carga viral.

Hoje, aos 34 anos, Jeniffer continua com a carga viral indetectável, desfruta de um relacionamento sorodiferente há quase uma década e fala abertamente sobre os desafios de viver com HIV desde a infância. A ativista também vem se dedicando a estudar o uso de cannabis na adesão ao tratamento antirretroviral.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

 

Dica de entrevista

Jeniffer Besse

Instagram: @bessejj

E-mail: besse.j@hotmail.com

Carolina Iara

Instagram: @acarolinaiara