Existem muitos tipos de ISTs e cada uma apresenta sintomas e tratamento específicos

Usada por muitos anos para definir diagnósticos como sífilis, a gonorreia, HPV e clamídia, a sigla DST, criada para designar o grupo de doenças sexualmente transmissíveis, caiu em desuso há alguns anos. O termo tem sido gradualmente substituído por IST, que significa infecção sexualmente transmissível.

A mudança foi feita para refletir uma abordagem mais abrangente e inclusiva para esse universo de moléstias. O termo “infecção” é usado em vez de “doença” porque algumas infecções podem ser assintomáticas ou ter sintomas leves, de modo que elas não são clinicamente diagnosticadas como uma doença.

A adoção da sigla IST também visa reduzir o estigma associado a essas enfermidades. O termo “infecção” é considerado menos estigmatizante do que “doença”, pois enfatiza que a transmissão não é necessariamente um indicativo de uma condição de saúde ruim ou uma falha pessoal.

Além disso, o termo IST inclui outras formas de transmissão, como infecções transmitidas por meio do compartilhamento de agulhas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez ou o parto.

A mudança na terminologia, no entanto, não altera a natureza das condições em si. Ela busca fornecer uma abordagem mais aberta, inclusiva e livre de estigma para discutir e tratar essas infecções.

A conscientização sobre as ISTs, seus métodos de prevenção e a importância de buscar testes e tratamento adequados continua sendo essencial para promover a saúde sexual e prevenir a disseminação dessas infecções.

Tipos de ISTs

Uma IST é qualquer quadro passível de transmissão de uma pessoa para outra por meio do contato sexual. Abaixo, alguns dos tipos de ISTs mais comuns:

Clamídia
Causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, a clamídia é uma das ISTs mais comuns e pode afetar qualquer pessoa. Muitas vezes, ela é assintomática. Quando os sintomas estão presentes, eles incluem dor ao urinar e durante as relações sexuais, corrimento amarelado ou claro, dor abdominal e sangramento espontâneo ou durante o sexo.

Herpes genital
O herpes genital é causado pelo vírus do herpes simplex (HSV), principalmente o HSV-2. Pode ser transmitido por meio do contato direto com a pele infectada. Os sintomas incluem lesões dolorosas na área genital, coceira, bolhas e ulcerações. O vírus pode permanecer latente no corpo e causar surtos recorrentes.

Gonorreia
Trata-se de uma IST causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae. Pode afetar a uretra, colo do útero, reto, garganta e olhos. O quadro pode ser assintomático ou provocar incômodos como dor ao urinar, corrimento espesso, inflamação, dor pélvica em mulheres e dor testicular em homens. Se não for tratada de maneira adequada, pode levar ao desenvolvimento de doença inflamatória pélvica e até mesmo infertilidade.

Sífilis
A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum. Os estágios iniciais podem apresentar uma ferida indolor (cancro) nos genitais ou boca. Se não tratada, pode progredir para uma erupção cutânea, febre, dores musculares e danos aos órgãos internos.

HIV/aids
O HIV (vírus da imunodeficiência humana) é transmitido por fluidos corporais, como sangue, sêmen, secreções vaginais e leite materno. O quadro afeta o sistema imunológico, não tem cura, e, se não tratado, pode progredir para a aids (síndrome da imunodeficiência adquirida). Para pacientes com tratamento adequado, no entanto, já é possível viver com boa qualidade de vida e, em alguns casos, tornar-se indetectável, o que significa que a pessoa não transmite mais o vírus.

Os sintomas iniciais do HIV podem ser semelhantes aos de uma gripe, mas, à medida que a doença progride, o sistema imunológico fica enfraquecido, tornando o corpo suscetível a infecções oportunistas e cânceres.

Além dessas, existem outras ISTs, como HPV (papilomavírus humano), hepatite B e C, tricomoníase. Cada uma delas tem características específicas em termos de transmissão, sintomas, diagnóstico e tratamento, e por isso é essencial buscar ajuda médica na presença de qualquer sinal – além de fazer testes regulares como forma de prevenção de agravamento de um possível caso de IST.

Diagnóstico e tratamentos de ISTs

De acordo com Caroline Goretti, ginecologista da Casa de Saúde São José, do Rio de Janeiro, o primeiro passo feito partir de uma história clínica (anamnese) na consulta médica, na qual o profissional identifica os fatores de risco e exposição ao risco, avalia sintomas e realiza um exame físico, que pode ou não apresentar alterações.

“As ISTs podem se manifestar por meio de feridas, corrimentos e verrugas anogenitais, entre outros possíveis sintomas, como dor pélvica, ardência ao urinar, lesões de pele e aumento de ínguas. Nem sempre exames complementares são necessários (biópsias , sangue ou urina) , porém podem nos ajudar a conduzir um diagnóstico.”

Existem diferentes testes disponíveis para o diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis. Alguns dos mais comuns incluem exames de sangue e urina, além de coleta de amostras de secreção genital.

O momento recomendado para realizar os testes varia, mas os exames devem ser regulares, especialmente se houver atividade sexual de risco ou exposição recente a uma IST. Além disso, é necessário buscar um diagnóstico em caso de sintomas sugestivos de uma infecção.

“Hoje nós temos uma metodologia muito boa, que é a PCR em tempo real, para diagnosticar gonorreia e clamídia com bastante eficácia. O teste pode ser feito em mulheres tanto com secreção vaginal quanto com urina, e no homem também com urina. Ele é recomendado em caso de sintomas, para populações de risco e também como rotina, uma forma de diagnosticar os pacientes assintomáticos”, diz Valentini.

“Após essa primeira etapa seguimos com avaliação da indicação de medicamentos como antibióticos, antifúngicos e/ou antirretrovirais (em pomadas, comprimidos ou injeções, de acordo com o tipo e o micro-organismo causador da infecção) . Mesmo com a IST presente, sempre é orientado e estimulado o uso das vacinas, principalmente Hepatite B e HPV, tanto para mulheres quanto para homens”, complementa Goretti.

Como se proteger de ISTs

Uso de preservativos
Preservativos de látex ou poliuretano, conhecidos como camisinhas, funcionam como uma barreira física para evitar o contato com sêmen e outros fluidos corporais trocados durante a relação sexual.

A medida previne a maioria das infecções bacterianas, virais e parasitárias. É importante usar um preservativo novo a cada relação sexual e armazená-lo adequadamente para evitar danos.

No caso do HIV, há um leque de prevenção combinada, que inclui PEP, PrEP, redução de danos, entre outros.

Vacinação
Algumas vacinas, como aquela contra o HPV, pode ajudar a prevenir a infecção por cepas relacionadas a câncer cervical, vulvar, vaginal, anal, peniano e orofaríngeo. Além disso, o imunizante contra a hepatite B pode proteger contra a infecção pelo vírus da hepatite B, que pode ser transmitido sexualmente.

Testagem regular
É importante fazer exames regulares para verificar se há ISTs, mesmo na ausência de sintomas visíveis. Testes permitem a detecção precoce e o tratamento adequado, reduzindo o risco de complicações e a disseminação da infecção.

Comunicação
É essencial falar abertamente com seus parceiros(as) sobre histórico sexual, compartilhar resultados de testes e tomar decisões informadas pode ajudar a reduzir o risco de ISTs.

Se não tratada, ISTs podem progredir em gravidade

“Em mulheres, as ISTs podem levar a infecções do útero, do ovário e das trompas, que chamamos de DIP (doença inflamatória pélvica), que pode levar à infertilidade, à gravidez ectópica e ser transmitida inclusive para o bebê. A sífilis neonatal, por exemplo, é muito grave e pode infectar crianças causando danos irreversíveis”, alerta a médica do Hermes Pardini, Melissa Valentini.

Por que você deve consultar um médico

Um profissional de saúde especializado poderá indicar o tratamento adequado de acordo com cada IST, o que melhora a qualidade de vida e interrompe a cadeia de transmissão dessas infecções.

“A grande maioria das IST tem cura. Aquelas que não são curáveis , quando inicialmente identificadas, podem ter melhor resposta ao tratamento e menores danos à saúde do paciente. Além de ser indispensável uma boa orientação médica para que haja uma prevenção não somente ao paciente, como também aos parceiros envolvidos”, afirma Goretti.

Mitos sobre ISTs que você não deve acreditar

Existem vários mitos sobre ISTs que podem levar a informações errôneas e colocar sua saúde em risco. Confira alguns dos mais comuns e a explicação do por quê eles são incorretos:

“Se eu não apresentar sintomas, não tenho IST.”
Na verdade, muitas ISTs podem ser assintomáticas, o que significa que uma pessoa infectada apresenta sintomas. No entanto, mesmo na ausência de sintomas, algumas ISTs, como clamídia, gonorreia, sífilis e HIV, podem causar danos graves à saúde e serem transmitidas a outras pessoas se não forem diagnosticadas e tratadas precocemente.

“Usar dois preservativos oferece uma proteção extra.”
Outra informação falsa. O uso de dois preservativos simultaneamente não aumenta a proteção contra ISTs. Na verdade, o atrito entre os preservativos pode causar o rompimento ou o deslizamento de ambos, reduzindo a eficácia da barreira de proteção. A utilização adequada e correta de um único preservativo é suficiente para prevenir a transmissão de ISTs quando usado de acordo com as instruções.

“O uso de anticoncepcionais orais (pílula) protege contra ISTs.”
Anticoncepcionais orais, como a pílula anticoncepcional, são eficazes na prevenção da gravidez, mas não oferecem proteção contra ISTs. Os anticoncepcionais orais não formam uma barreira física contra a transmissão de infecções.

“As DSTs só podem ser transmitidas durante a relação sexual.”
Embora a transmissão sexual seja a forma mais comum de contágio de DSTs, algumas infecções podem ser transmitidas por outras vias, como contato com sangue infectado, compartilhamento de agulhas contaminadas, transmissão vertical (da mãe para o bebê durante a gravidez, parto ou amamentação) e contato íntimo com lesões ou feridas infectadas.

Fonte: Marie Claire