Dia das mães: Relembre histórias de mulheres que conciliaram a luta contra o HIV com a maternidade – Agência AIDS

Alguns dizem que ser mãe é ter o coração fora do corpo, outros garantem que é uma aventura triunfante, mas cheia de altos e baixos. Não é tudo um conto de fadas, mesmo com tanto amor. As dores, os medos e as mudanças são inevitáveis. A verdade é que toda mãe tem uma definição sobre a maternidade, porque ser mãe é superar todas as expectativas, ultrapassar barreiras e viver de uma maneira absurdamente diferente. É como se a vida de uma mulher reiniciasse quando ela descobre que gera uma vida em seu ventre, ou quando o coração floresce, e ela acolhe uma vida que não foi por ela gestada, mas será muito amada.

Neste Dia das Mães, comemorado no domingo (14), estamos homenageando mulheres que vivem com HIV e ressignificaram suas vidas a partir da chegada dos filhos. Convidamos você a conhecer as histórias de Rosa Garcia e Maira Fernanda, de superação, amor incondicional e luta pela vida.

Rosa tem 37 anos, vive com HIV desde o nascimento e é mãe do Elohim Garcia Diaz, de 1 ano. Formada em gastronomia, ela trabalha como terapeuta holística, é ativista e guardiã das medicinas da floresta.

Já a servidora pública federal, Maira Fernanda, de 35 anos, é mãe do Yago Magalhães, hoje com 4 anos. Ela descobriu o diagnóstico positivo para HIV aos 16 anos. O que as duas têm em comum? Filhos livres do HIV.

A gestação

Maira Fernanda garante que a chegada do filho é até hoje o maior presente de sua vida. “Eu estava indetectável há um tempo e em um relacionamento estável há 8 anos, então, em 2018, descobri a grata surpresa da minha gravidez, não tinha planejado, mas meu filho já era muito desejado.”

Rosa Garcia descobriu que seria mãe em fevereiro de 2021, depois de uma gira de umbanda. “Não planejava me tornar mãe naquele momento, embora tivesse vontade, passei por problemas de saúde e achava que o meu corpo não suportaria uma gestação. A entidade me falou que trouxe boas novas. Disse que eu teria um menino. O tempo passou, e eu esqueci da profecia. Ainda em 2021, no mês de junho, tomei a vacina da covid e fiquei mal. Os sintomas da reação da vacina não melhoravam, falei com a minha médica e ela disse que não era normal, pediu para eu passar no ambulatório para uma consulta, expliquei para a médica os sintomas e ela pediu o exame de gravidez. Fiquei tranquila, pois minha menstruação estava normal. Realizei o exame e no dia seguinte à minha médica me parabenizou, o resultado foi positivo, eu estava grávida. Na primavera, eu fiz a ultrassom para descobrir o sexo do bebê, e era um menino, exatamente como me foi revelado”, disse Rosa emocionada.

Pré-natal

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A adequada condução do pré-natal, parto e puerpério de mulheres vivendo com HIV tem levado a transmissão vertical à níveis próximos de zero, além de impactar positivamente a qualidade de vida das mulheres que vivem com HIV.

Desde 2010, o teste de HIV é obrigatório durante o acompanhamento pré-natal pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Todas as grávidas devem fazer o exame logo na primeira consulta e, depois, de novo no último trimestre.

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que 36,6% das gestantes com HIV só descobrem que vivem com o vírus depois de fazerem os exames no pré-natal. Ou seja, se não fosse o acompanhamento durante a gravidez, talvez elas demorassem ainda mais para ter essa informação. Mesmo que muitas recebam o diagnóstico só depois de grávidas, essa não é a realidade da maioria. Desde 2016, o Brasil vive um cenário em que a maior parte das mães com HIV já sabe sobre o vírus antes mesmo de engravidar.

Os números do Ministério da Saúde mostram que pelo menos 149.591 mulheres com HIV engravidaram no Brasil, entre 2000 e junho de 2022. Por mais que o teste positivo para o vírus exija alguns cuidados especiais, ele não é uma sentença de uma gravidez difícil.

Fazer um acompanhamento periódico deveria ser rotina para todas as mulheres sexualmente ativas, mas esse rastreio se torna ainda mais importante na gravidez.

Rosa e Maira fizeram todo o acompanhamento da gestação no SUS e disseram que não tiveram nenhuma complicação durante o pré-natal, parto e puerpério. “Foi tudo tranquilo, a médica disse que não era necessário mudar o meu tratamento, então continuei tomando os remédios para tratar o HIV, já estava indetectável. Passei a tomar algumas vitaminas, como sulfato ferroso, ácido fólico, para ajudar o meu bebê”, relatou Rosa.

”Fiz o pré-natal desde o início no SUS e fui muito bem assistida e orientada”, completou Maira.

Mesmo com os avanços tecnológicos, Maira disse que sentiu medo do filho contrair o HIV. “Mentiria se dissesse que o medo não fez parte da minha gestação, mas saber que eu estava indetectável para o HIV me confortou. ”

Rosa foi mais tranquila neste quesito, sabia que tinha tudo para gerar uma criança livre do HIV. “Fiquei receosa depois que ele nasceu, porque precisa ser feito três exames com resultados negativos para ele ser considerado uma pessoa HIV negativo. Durante esse processo fiquei preocupada, mas sempre confiante e meu filho não tem HIV”, comemorou.

A maternidade real

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Rosa assegurou que a chegada do filho representou mudanças em sua vida pessoal, profissional e financeira. “Conseguimos comprar um carro, mudamos de casa, a mudança foi completa”, celebrou a ativista.

Em relação ao futuro, ela disse que entre suas preces, ela sempre pede “saúde para ver meu filho crescer e espero desfrutar de uma amizade, quero lhe fornecer apoio quando ele precisar, quero que ele continue crescendo com saúde e que eu tenha sabedoria para educá-lo.”

Na mesma linha, Maira disse que a maternidade é o maior desafio de sua vida. “Me dedico para exercer essa missão com respeito à infância do meu filho. Meu maior sonho é vê-lo trilhar seu caminho e ser feliz. Que mãe não quer? Espero viver a plenitude que essa relação merece, e deixar uma pessoa de caráter, valente e tolerante. Quero vê-lo desbravar o mundo”, afirmou Maira.

O Dia das Mães

Esse é a segunda vez que Rosa comemora a data, ela vai passar o dia na casa de um casal de amigos que considera como da família, enquanto Maira vai completar a quarta comemoração, em um almoço reunindo 4 gerações.

Neste Dia das Mães, o recado de Rosa e Maira vai para as mulheres vivendo com HIV/aids que desejam ser mães. “Não deixem que o fato de viver com HIV seja um empecilho para realizar seu sonho de se tornar mãe, façam contatos e amizades com mães positivas e não pare a vida por causa do vírus”, orientou Rosa.

“Acredite na ciência e enfrente cada etapa com coragem, mantendo-se indetectável. Existem questões, como a não-amamentação, mas isso não nos torna menos mãe. De resto, esteja pronta para conhecer o maior amor da sua vida”, finalizou Maira.

Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista:

Rosa Garcia

Instagram: @rosasterapias7

Maira Fernanda

Instagram: @mah_luka