No Brasil desde 1990, a DKT, através dos seus produtos de planejamento familiar e do marketing social, transforma a vida de diversas famílias ao redor do mundo. A afirmação é do diretor da DKT do Brasil, Daniel Marun. Ele e parte de sua equipe participaram na noite desta terça-feira (6), da Live  “O que a equipe da DKT tem feito em tempos de pandemia”, da Agência Aids. Em bate-papo com a jornalista Roseli Tardelli, o executivo contou como a empresa se organizou em tempos de pandemia, defendeu a saúde sexual e o sexo seguro como importantes ferramentas na prevenção do HIV e outras ISTs, falou sobre o conservadorismo no Brasil e afirmou que mesmo com o novo coronavírus as pessoas continuam se relacionando sexualmente. “Quem quer transar sempre dá um jeito.”

Presente em mais de 50 países, a DKT é uma empresa social especializada na implantação de programas de planejamento familiar e prevenção de ISTs e HIV, contemplando a maior linha de camisinhas do mercado, além de outros produtos como DIUs, géis lubrificantes, estimuladores, coletor menstrual descartável e lenço umedecido. No Brasil, a empresa é detentora das marcas Prudence, Sutra e Andalan.

“Em março, quando começou a pandemia, não imaginávamos que iriamos ficar tanto tempo nesta situação, a gente falava de seis meses, cinco, quatro. Já são quase nove meses em casa. Todos passamos por altos e baixos, momento mais difíceis, mais tranquilos. Eu não acredito muito nesta história de que a pandemia vai fazer as pessoas melhores, quem era do bem continua do bem. Ninguém vai ressuscitar moralmente por conta da covid-19”, disse Daniel.

De acordo com Daniel, em março, logo no começo da pandemia, a empresa reorganizou todo o trabalho em36 horas. “Colocamos o escritório inteiro em home office. O pessoal de TI fez um trabalho sensacional e conseguimos continuar trabalhando normalmente. Estamos falando de 100 pessoas. Essa experiência está sendo bastante interessante e está nos trazendo grandes descobertas, aprendemos a fazer coisas diferentes. Eu, por exemplo, estou tendo a oportunidade de estar mais próximo da minha família, sou casado, tenho três filhas, e posso garantir que fizemos coisas juntos que há tempos não fazíamos. Agora estamos pensando como será essa questão do home office daqui para frente.”

Roseli quis saber da equipe como cada um chegou na DKT. Também aproveitou para relembrar que sua parceria com essa empresa existe desde os anos 1990. “Estamos tendo a oportunidade de nos reinventarmos individualmente. A DKT entrou na minha vida quando eu e a jornalista Jane de Castro fizemos alguns trabalhos de comunicação. Essa empresa é uma das responsáveis pela Agência Aids existir. Foram os nossos primeiros apoiadores.

A gerente de marketing e responsável pelo desenvolvimento das marcas DKT, Camila Galliera, contou que a DKT entrou em sua vida há 11 anos. “Essa empresa faz parte da minha trajetória profissional e pessoal. Quando eu cheguei na DKT tínhamos uma operação menor se comparado ao nosso trabalho hoje. É bonito de ver a transformação da empresa. Entrei já no marketing, agora estou atuando com todas as marcas. Posso garantir que é um grande presente em minha vida. É gostoso quando você trabalha em uma empresa que tem propósito, está no nosso DNA. A gente costuma falar para os fornecedores, parceiros, clientes e consumidores que somos baseados em uma causa. Não que vender não seja importante, mas lucro pelo lucro não é algo que vemos na DKT. Isso é muito gratificante. Executo o meu trabalho de marketing e consigo ajudar vidas ao mesmo tempo. A DKT tem esse trabalho de marketing social muito forte e isso nos traz uma base e conforto para tudo aquilo que a gente faz. Não só olhamos para o consumidor, mas para toda uma cadeia de distribuição e também para forma social. Temos responsabilidade com a sociedade.”

O diretor de vendas da DKT, Wilson Rodrigues, está na empresa há um pouco mais de tempo. “Cheguei na DKT há mais de 20 anos. Essa empresa entrou em minha vida antes de eu começar a trabalhar. Eu estava na editora abril e via aqueles anúncios de um preservativo ultramoderno, o problema é que eu não encontrava o insumo na farmácia. Quando eu participei do processo seletivo e acabei entrando na DKT descobri que a marca era detentora daquele preservativo, realizei meus desejos”, comemorou.

Mais que uma empresa, uma causa

Roseli relembrou que um dos slogans da DKT diz que essa é mais que uma empresa, é uma causa. No entanto, Daniel explicou que eles optaram por mudar o slogan porque essa frase só faz sentido internamente. “Quem não conhece a DKT não sabe qual é a causa. Hoje a gente usa a seguinte frase: melhorando vidas através do marketing social. A nossa grande causa é melhorar a vida das pessoas.”

700 milhões de preservativos

Segundo Daniel, a DKT não foi criada e pensada por conta da epidemia de HIV/aids, ela nasceu de um sonho. O fundador DKT, Philip D. Harvey, é um americano que nos anos de 1960 foi distribuir o excedente de comida na Índia. Ele passou por uma experiência maravilhosa. Estava no processo de distribuição em uma região muito pobre, que tinha acabado de passar por enchentes. Uma mulher que estava com o filho saiu da fila, se ajoelhou e colocou a cabeça nos pés dele. Ele ficou chocado com aquilo e falou naquele momento que não poderia ter um desequilíbrio entre quem estava fazendo a caridade e quem ia receber. Ele voltou para os Estados Unidos e começou a estudou saúde reprodutiva. Então, a origem da DKT é anterior ao HIV/aids, era saúde familiar. A história tem diversas ramificações, mas o fato é que ele iniciou o trabalho de planejamento familiar e por uma eventualidade começou com o preservativo. Hoje, a DKT distribui mundialmente mais de 700 milhões de preservativos, mas não é uma empresa de preservativos e látex e tampouco somos uma farmacêutica. A gente tem pílulas anticoncepcional, DIU de cobre, DIU hormonal, é uma gama de produtos no mundo inteiro e eles são para planejamento familiar. As vezes pensamos muito em HIV/aids por razões obvias, mas a quantidade de ISTs é enorme. A gente entende que o que fazemos é salvar e melhorar a vida das pessoas.”

Roseli perguntou qual é o país que mais consome preservativos da DKT no mundo. “O Brasil é o segundo maior mercado de preservativos para a DKT. Fica atrás da Indonésia, mas eles têm uma parte desse mercado que é público. Do mercado privado, como marketing social efetivamente, é o Brasil.”

Divergências

Mas nem tudo são flores, como em muitas empresas existe arranca rabo na DKT. “Não é este amor o tempo inteiro, somos seres humanos e temos altos de baixos. A diferença é que a DKT é uma empresa madura, do mesmo jeito que acontece o arranca rabo, 20 minutos depois vamos tomar um café, almoçar todos juntos”, contou Wilson

Daniel completou que “o que move todos os colaboradores da DKT é realmente a causa. É claro que existe divergência de opinião, temos no quadro de funcionários da DKT diversas pessoas que saíram e quiseram voltar. Isso indica que alguma coisa certa estamos fazendo.”

Prudence Fest

Há dois anos a DKT lançou no Brasil o Prudence Fest, um grande festival de músicas para celebrar o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. O evento reúne grandes artistas brasileiros e no ano passado recebeu mais de 10 mil pessoas nos dois dias de evento. “De onde vem o dinheiro para pagar isso”, questionou Roseli. Camila explicou prontamente que o recurso vem de diversas formas. “Vendemos convites, tivemos apoios de outras empresas. Foi um grupo de pessoas e empresas com vontade de fazer acontecer. O dia primeiro é marcado e as pessoas já sabem da causa. Não fizemos o evento sozinhos, é uma parceria com muita gente.”

Daniel aproveitou para relembrar que a primeira edição do Prudence Fest foi desafiadora. “Deu uma dor de barriga. 30 dias antes do evento, o pessoal que tinha se comprometido com a produção abriu mão. Tivemos que fazer tudo internamente, foi um momento de muito aprendizado e comprometimento. Teve até chuva e o público curtiu.

Danilo Conrado, também do marketing da DKT, garantiu que a segunda edição também não foi fácil. “Tivemos um momento muito especial no ano passado com a participação da poetisa Marina Vergueiro, ela declamou um poema de sua autoria sobre como é viver com HIV.”

DKT na pandemia

Questionados sobre o trabalho que vem sendo realizado durante a pandemia, Wilson fez questão de destacar que a empresa já fez muita coisa. “Facilitamos o acesso de produtos em comunidades carentes. Doamos materiais para hospitais e outras entidades.”

Camila reforçou que a empresa focou seus esforços também em cuidar da equipe. Além do home office e ter tirado nossa equipe de campo, apertamos o sinto, conseguimos manter todo nosso quadro de funcionários e continuamos a nossa parceria com as ONGs. Algumas ações foram até intensificadas. Buscamos outras ONGs e iniciativas para intensificar a doação de produtos, não só preservativos, doamos lenços umedecidos para complementar as cestas de higiene pessoal.

Parcerias de longa data

Quando se trata de marketing social do preservativo, o Instituto Cultural Barong traduzir muito bem na prática a importância dessa política. Quem já teve a oportunidade de estar com o Barong em campo sabe que um dos diferenciais das ações da instituição é disponibilizar gratuitamente preservativos prudence de diversos sabores. Roseli desafiou a presidente do Barong, Marta McBritton, a definir em uma palavra a relação da ONG com a DKT. “A primeira empresa que acreditou na ideia maluca do Barong foi a DKT do Brasil, eles foram o nosso primeiro apoiador. Chegamos para uma reunião com três folhas de papel nas mãos, contamos que queríamos colocar um trailer na rua, com uma camisinha de cinco metros e falar sobre saúde sexual e reprodutiva. Eles disseram ok. A palavra é gratidão.”

Instituto Barong sempre presente onde a vida acontece: nas ruas

Outra instituição que recebe apoio da DKT é a ONG Saúde da Criança. Eles atuam no Rio de Janeiro incentivando o planejamento familiar. “Trabalhamos com uma abordagem multidisciplinar da família. A gente olha para o núcleo familiar de pessoas em situação de vulnerabilidade e trata dessa família em cinco áreas: saúde, educação, moradia, cidadania e geração de renda. É um trabalho bem completo e a DKT tem apoiado de todas as formas, só temos a agradecer. Trabalhamos durante a pandemia em um esquema de tele atendimento, fizemos mutirões para entrega de insumos básicos para as famílias, como medicamentos, insumos, leites especiais. Me orgulho muito de ter uma equipe que conseguiu continuar trabalhando durante a pandemia. Permanecemos com o nosso atendimento integral”, contou Izabel de Oliveira.

A ONG Saúde da Criança atende famílias em situação de vulnerabilidade social no Rio de Janeiro. Foto: Arquivo da ONG

Marta acrescentou que o Barong também não parou. “As ONGs estão trabalhando muito mais, tivemos que aprender a lidar com algumas ferramentas, não distribuíamos cestas básicas antes de pandemia. O nosso time continua nas ruas. É muito bacana ter os produtos da DKT nas nossas ações. Além das cestas básicas, entregamos também o kit de saúde sexual e reprodutiva e isso é uma delícia.”

Onda conservadora

Roseli quis saber de Daniel se essa nova onda conservadora do país tem atrapalhado o trabalho da DKT. Ele respondeu que não. “O poder que o prazer e o orgasmo têm de unir as pessoas não vai separa-las por conta da pandemia. Quem queria se encontrar, se encontrou, deu um jeito. Vimos que no primeiro mês de pandemia foi um susto, deu uma barrigada. Depois ficou melhor. A gente não sentiu essa dificuldade. Outra preocupação era da cadeia de suprimentos. Tínhamos estoques de DIUs e de outros produtos que da nossa parte não teve nenhuma ruptura. Essa onda conservadora não resiste a três minutos dentro de quatro paredes. Acredito muito no poder da informação. Temos um trabalho com o Jairo Bouer. Hoje, mesmo com todos os dilemas das redes sociais e da internet, qualquer smartphone pode contribuir com o acesso a informação. O grande problema da onda conservadora é você querer esconder a informação por conta da moral e dos bons costumes. As redes sociais têm um papel importantíssimo da disseminação de informações. As ONGs e trabalhos como os realizados pela Agência Aids têm papel fundamental no acolhimento dos jovens. É claro que seria muito melhor se tivéssemos uma política pública adequada para isso. Existem retrocessos hoje.”

Conheça o depoimento de Phil Harvey , pioneiro em marketing social e fundador da DKT

O grande desafio desta live foi resumir a conversa em uma palavra. Roseli disse alegria, Camila e Wilson deixaram respeito. Isabel escolheu empatia, Marta, alteridade, Danilo deixou fé e Daniel finalizou com amor.

O bate-papo está disponível na íntegra na página oficial da Agência Aids no Facebook. Tem ainda uma versão editada na TV Agência Aids.

Talita Martins (talita@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

DKT do Brasil

Tel.: (11) 393-5220

Site: http://www.dkt.com.br/