As Hepatites Virais têm sido uma preocupação crescente para a saúde pública, afetando milhões de pessoas, em todo o mundo. São mais de 325 milhões de pessoas afetadas no planeta pela doença, com 1,4 mortes todos os anos.

Na Região das Américas, novos dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que há 10 mil novas infecções por hepatite B a cada ano, e 23 mil mortes.

Mais estimativas, também da OMS, revelam que para a hepatite C, a cada ano, há 67 mil novas infecções e 84 mil mortes; apenas cerca de 18% das pessoas que vivem com hepatite B foram diagnosticadas e dessas, 3% estão recebendo o tratamento; 22% das pessoas cronicamente infectadas por hepatite C foram diagnosticadas e 18% delas estão recebendo o tratamento.

Somente no Brasil, de acordo com dados do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais de 2022, do Ministério da Saúde, de 2000 a 2021, foram notificados 718.651 casos de hepatites virais no país. Destes, 168.175 (23,4%) são referentes aos casos de hepatite A, 264.640 (36,8%) aos de hepatite B, 279.872 (38,9%) aos de hepatite C e 4.259 (0,6%) aos de hepatite D.

Neste Julho Amarelo, mês de luta contra as Hepatites Virais, a sociedade se mobiliza para chamar a atenção e conscientizar sobre a questão. Mas, existe uma outra preocupação tão relevante quanto de ser abordada na data, que é a coinfecção HIV/Hepatite.

Basicamente, coinfecção HIV/Hepatite é quando alguém além de ser infectado pelo vírus da aids, também é infectado por alguma hepatite (geralmente Hepatite B ou C).

Segundo o infectologista Hilton Luís, de Pelotas, no Rio Grande do Sul, essa combinação de infecções pode ser especialmente desafiadora para a saúde do indivíduo, pois os vírus interagem entre si e podem afetar o tratamento e a progressão das doenças.

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Além disso, o tratamento para ambas as infecções pode se tornar mais complexo e requerer monitoramento cuidadoso.

“Com uma pessoa morrendo a cada 30 segundos de uma doença relacionada à hepatite, a coinfecção é uma preocupação importante na saúde pública, pois pode levar a complicações mais graves e dificultar o tratamento de ambas as infecções, pessoas coinfectadas têm risco até 3 vezes maior de evoluir com cirrose hepática”, explica.

O especialista reforça que os principais tipos de Hepatites Virais associadas à coinfecção com o HIV são: a Hepatite B e a Hepatite C. “Essas infecções podem ocorrer em pessoas que já vivem com algum desses vírus na forma crônica ou infecção simultânea. A Hepatite A, de transmissão fecal-oral, também pode gerar preocupações quando jovens e adultos susceptíveis ou não imunizados apresentam hepatite aguda, pois possuem risco maior de internação, necessidade de transplante de fígado e morte’’.

O médico pontua ainda que tanto o HIV quanto as hepatites B e C são transmitidas principalmente por via sexual, através de relações sexuais desprotegidas e compartilhamento de agulhas com sangue contaminado. Já a transmissão da pessoa gestante para a criança durante a gravidez, parto ou amamentação pode acontecer com o HIV e Hepatite B, caso não seja feito pré-natal adequado. “As hepatites virais B e C também podem ser transmitidas através do compartilhamento de utensílios perfurocortantes ou que entram em contato com sangue contaminado como canudos para inalação de drogas e alicates de unha.”

Em relação aos maiores desafios de um diagnóstico não realizado em tempo oportuno, de acordo com o doutor, o diagnóstico tardio da coinfecção HIV/hepatite tem potencial de dificultar o tratamento adequado e afetar negativamente o prognóstico dos pacientes, “pois o atraso no início do tratamento pode levar a danos irreversíveis no fígado (cirrose hepática e câncer hepatocelular) e comprometer o sistema imunológico levando à aids”, esclarece.

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No Brasil, as formas de tratamento das hepatites estão disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde) a todas as pessoas com coinfecção, mas o infectologista alerta que os tratamentos podem ser mais complexos.

“Dependendo do tipo de hepatite, condições de saúde pré-existentes e da resposta da pessoa, podem ser necessárias trocas da terapia antirretroviral (TARV) durante o tratamento específico para as hepatites. Por exemplo, a pessoa vivendo com HIV e hepatite B não está elegível à simplificação da TARV, pois o Tenofovir é a base do tratamento da hepatite B crônica; a coinfecção pode afetar o sistema imunológico do paciente, tornando-o mais vulnerável a outras infecções oportunistas; além disso, ela pode acelerar a progressão das doenças hepáticas, aumentando o risco de cirrose e câncer de fígado”, descreve o especialista. Ele garante que a prevenção combinada é fundamental na redução do número de casos de coinfecção. “As Hepatite A e B têm vacinas altamente eficazes disponíveis no SUS. Medidas como o uso de PrEP, testagem frequente, preservativos e gel lubrificante durante as relações sexuais, o não compartilhamento de agulhas e o acesso a programas de redução de danos são essenciais para prevenir a infecção pelo HIV.”

Existem indivíduos pertencentes a populações-chave, que detém maior vulnerabilidade à coinfecção, como usuários de drogas inaláveis e injetáveis, homens que fazem sexo com homens e pessoas em contextos de alta prevalência de HIV e hepatites virais, como os adeptos do chemSex (sexo químico). Segundo o médico Hilton, estes devem receber atenção especial para programas de prevenção, testagem e tratamento.

Dr. Hilton não deixou de pontuar que a conscientização sobre a coinfecção pode e deve ser ampliada através de campanhas de saúde pública focadas em prevenção combinada, redução de danos, programas de educação em escolas e universidades, bem como divulgação em mídias de massa e redes sociais para alcançar o maior número de pessoas possíveis.

A coinfecção é uma realidade que exige esforços conjuntos de profissionais de saúde, pesquisadores, pacientes e comunidade em geral. Com conscientização, informação e tratamentos adequados, é possível enfrentar esse desafio duplo e garantir uma melhor qualidade de vida para todos os afetados. Então, neste mês de luta contra as hepatites virais, Dr. Hilton Luís disponibiliza algumas mensagens que acredita serem as mais cruciais da população estar atenta: “É crucial enfatizar a necessidade de adotar medidas de prevenção, vacinas, buscar o diagnóstico precoce e aderir ao tratamento para melhorar a qualidade de vida. Democratizar o acesso a testagem rápida de HIV e Hepatites Virais B e C, assim como aos diagnósticos moleculares confirmatórios e de acompanhamento e sobretudo aos tratamentos altamente eficazes disponíveis é urgente. O compromisso de agir para eliminar as hepatites virais antes de 2030, ampliando o acesso aos testes diagnósticos, vacinas e tratamentos’’.

‘‘Faça o teste e atualize sua carteira de vacinação! Hepatite A tem vacina. Hepatite B tem vacina e tratamento. E Hepatite C tem tratamento e cura’’, finaliza.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

Dr. Hilton Luís

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