O HIV na terceira idade é um tema cada vez mais relevante, já que os avanços na medicina têm possibilitado que pessoas vivendo com o vírus alcancem idades mais avançadas. Além disso, novos casos estão surgindo entre idosos, muitas vezes devido à falta de conscientização e prevenção direcionadas a essa faixa etária. Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e a saúde mental dessa população, o Instituto Vida Nova, ONG/aids que atua no extremo leste da Cidade de São Paulo, lançou o projeto “50+ Vida Posithiva.”

A iniciativa, apoiada pelo Fundo Positivo, oferecerá aos beneficiários atividades como dança terapia, rodas de conversa, promoção da atividade física e psicoterapia, entre outros. “Este projeto surgiu da necessidade de combater o envelhecimento precoce e promover a longevidade entre idosos vivendo com HIV/aids em situação de vulnerabilidade. Acreditamos no poder transformador das atividades físicas e no cuidado com a saúde mental. Nossa meta é não apenas cultivar o amor pela vida, mas também criar oportunidades para um futuro mais promissor e repleto de novas parcerias. Visualizamos um futuro onde cada idoso tenha acesso regular à promoção da saúde física e mental, por meio de mudanças de conduta e comportamento”, afirmou Américo Nunes Neto, presidente do Instituto Vida Nova e idealizador do projeto.

Segundo Américo, o projeto visa promover uma visão positiva do envelhecimento e da longevidade entre aqueles que vivem com HIV/aids, abordando diferentes aspectos da qualidade de vida. Para alcançar esses objetivos, serão realizadas duas ações principais: promoção da atividade física e sessões de psicoterapia individual.

Os beneficiários também terão a oportunidade de participar da dança terapia, uma forma de terapia expressiva que utiliza o movimento corporal para promover a integração física, emocional, cognitiva e social. Fundamentada na conexão entre corpo e mente, a prática visa liberar tensões, expressar emoções e desenvolver autoconfiança através do movimento. É uma abordagem eficaz para tratar condições como ansiedade, depressão, estresse e traumas.

“É crucial abordar questões específicas relacionadas à saúde na terceira idade, como o impacto do HIV. O envelhecimento e a importância do suporte emocional e social para essa população são questões urgentes”, disse Américo, destacando que no passado, o diagnóstico de aids era visto como uma sentença de morte, sem perspectivas de vida longa.

Aids na terceira idade

Entre 2011 e 2021, o Ministério da Saúde registrou no Brasil 12.686 diagnósticos positivos de HIV em pessoas com 60 anos ou mais. No mesmo período, foram contabilizados 24.809 casos de aids e 14.773 óbitos devido à doença nessa faixa etária. Esses dados mostram que, durante esse período, a única faixa etária com aumento percentual de mortes relacionadas ao HIV foi a dos maiores de 60 anos. Isso evidencia a necessidade de garantir um diagnóstico precoce e um tratamento contínuo e especializado para essa população.

“É crucial promover a adesão à terapia antirretroviral, assim como a prevenção e tratamento de infecções oportunistas, e assegurar o acompanhamento regular com profissionais de saúde especializados. Com o avanço das terapias combinadas com antirretrovirais, o envelhecimento das pessoas vivendo com HIV/aids tornou-se uma realidade. Vivemos um período histórico, mas ainda aspiramos à cura! O envelhecimento dessa população é um avanço positivo, com um aumento significativo na longevidade. No entanto, garantir qualidade de vida é essencial. Não é suficiente apenas tomar medicamentos; é necessário um olhar clínico e multidisciplinar devido às comorbidades associadas à terceira idade, ou ‘melhor idade’. É crucial implementar ações complementares como essa, que promovam mudanças de comportamentos e hábitos mais saudáveis, assegurando bem-estar físico e mental”, afirmou Américo.

Ainda de acordo com Américo, “estudos indicam um aumento significativo na velhice precoce entre pessoas com HIV/aids, e essa tendência deve se intensificar nas próximas décadas. Este projeto visa mitigar essa situação, impactar positivamente a vida das pessoas, e incentivá-las a refletir e tomar decisões assertivas para alcançar longevidade com qualidade de vida e inclusão social.”

O projeto tem como público prioritário mulheres e homens cisgêneros ou LGBTQIAPN+ com mais de 50 anos, vivendo com HIV/aids, e que se encontram desempregados, em situação de baixa ou nenhuma renda.

Saúde Mental

A psicóloga Vanessa Sodré, do Instituto Vida Nova, destacou que este não é o primeiro projeto da instituição voltado para a terceira idade. “Já trabalhamos com a população acima dos 50 anos há algum tempo e observamos, em nossos atendimentos, a necessidade de um olhar diferenciado para essa faixa etária, com suas fragilidades e particularidades. É crucial ter uma abordagem específica para pessoas vivendo com HIV, pois suas necessidades são diferentes. O envelhecimento traz desafios adicionais, como as comorbidades associadas ao uso de antirretrovirais, lipodistrofia, artrite, artrose, entre outras patologias. Além disso, questões como preconceito, estigmas, dinâmicas familiares e a vivência da sexualidade na terceira idade são particularmente complexas para quem vive com HIV.”

Ela considerou que “enfrentar esses desafios é uma tarefa ainda mais difícil para quem já lida com o HIV. Portanto, ao adotar um olhar diferenciado, buscamos encontrar soluções eficazes. O projeto 50+ visa exatamente isso: oferecer soluções que promovam uma qualidade de vida melhor para esses indivíduos. Nosso objetivo é proporcionar um acolhimento atento, ouvir suas demandas e trabalhar tanto a saúde mental quanto a saúde física, promovendo um bem-estar integral.”

Atividade Física

A educadora física Lilian Monteiro Espindola dos Santos destacou a importância da atividade física na terceira idade, afirmando que é essencial para a saúde e o bem-estar realizar exercícios físicos. “O projeto 50+ Vida Posithiva nasceu justamente para melhorar a qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV/aids. A atividade física ajuda a reduzir a lipodistrofia e beneficia diversos aspectos da saúde, incluindo o coração, os pulmões e o sistema digestivo. Além disso, a prática regular de exercícios contribui para uma melhor absorção dos alimentos e dos medicamentos.”

Lilian assegurou que as atividades propostas neste projeto são seguras e adaptadas às necessidades dos participantes, com supervisão. “Os exercícios são pensados para melhorar o bem-estar geral, trazendo mais disposição, melhor humor e sono. Os exercícios podem variar de leves a moderados, com sessões de 30 a 40 minutos para atividades leves e moderadas, e até 20 minutos para atividades mais intensas. O programa inclui uma combinação de exercícios realizados três vezes por semana, ajustados ao limite e à capacidade de cada pessoa, proporcionando assim benefícios significativos e sustentáveis para a qualidade de vida.”

Se você tem 50 anos ou mais, vive com HIV/aids e mora em São Paulo, e deseja melhorar sua qualidade de vida, entre em contato com o Instituto Vida Nova através do link para se inscrever gratuitamente. Os participantes receberão mensalmente cestas básicas para ajudar na alimentação e reduzir o impacto da insegurança alimentar na vida de quem vive com HIV.

Talita Martins (talita@agenciaaids.com.br)

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Instituto Vida Nova

Tel.: (11) 2297-1516