Passadas as comemorações pelo Dia Nacional da Visibilidade Trans, o Instituto Cultural Barong se queixa da falta de testes para detecção do SARS-Cov-2 na população de mulheres trans e cisgênero trabalhadoras com o entretenimento adulto em São Paulo. O descaso que o Barong aponta está em vídeo de pouco menos de 5 minutos que a ONG acaba de veicular em seu canal do YouTube e nas demais redes sociais.

“Nestes quase 2 anos, houve momentos que o Ministério da Saúde inutilizou milhares de testes de covid por perda de validade. O imposto pago pelo contribuinte foi jogado no lixo”, afirma Fernanda Guidolin, diretora financeira da ONG.

“Quando a pandemia começou, o Barong não ficou nem uma semana em home-office; quem ia sofrer com a pandemia de covid seriam as profissionais do sexo cis e trans. Ao mesmo tempo que é muito glamorosa, a vida noturna da cidade ficou invisível durante a pandemia”, analisa Marta McBritton, presidente da ONG.

“Eu acho muito lindo o trabalho de vocês, de se importarem com a gente, olharem pra gente… Será que as meninas fizeram exame de covid, exame de DST? Vamos lá dar uma força pra elas. Não tem isso aqui; ninguém faz isso pela gente”, afirma Maria Eduarda, trabalhadora trans numa área em que o Barong oferece testes de HIV, sífilis, hepatites e, em algumas ocasiões, testes para a covid-19. Uma destas, foi uma iniciativa com o Centro de Políticas LGBTI em parceria com a Unicamp.

“Fizemos cinco ações descentralizadas, no escopo de um projeto de pesquisa da Unicamp. Em outra parceria, com a startup Germsure e o Programa USP Diversidade, foram mais 15 ações em locais de sociabilidade da população trans, de altíssima vulnerabilidade de infecção pelo HIV”, elenca a vice-presidente da ONG, Margarete Fernandes.

Num momento anterior, o Barong estabeleceu parcerias com equipamentos de saúde, especializados no tratamento do HIV e em hormonização. Durante a pandemia, e até hoje, a ONG retira nos serviços e entrega – ou envia pelos correios – hormônios para pessoas trans e medicamentos antirretrovirais para pessoas vivendo com HIV. Também forneceu milhares de cestas básicas com kits de limpeza e higiene pessoal e vale gás para as que se encontravam em maior vulnerabilidade social.

“Essa cesta vai me ajudar bastante porque eu tenho 3 filhos pequenos que moram com a minha mãe. Graças a Deus!”, diz uma trabalhadora cisgênero, beneficiada pelas ações do Barong nestes locais. “O que tá fazendo mais falta é alimento, né? E o movimento tá péssimo! Então, o principal é o alimento dentro de casa, tanto é que tô indo levar pro meu filho agora.”

“Esta seria uma população preferencial, no caso de limitação dos testes, como é hoje. As situações em que o teste está indicado têm de ser bem restritas porque não há testes disponíveis e essa população, em algumas situações, poderia estar incluída nesta priorização”, afirma o pesquisador Luís Fernando de Macedo Brígido, investigador principal do grupo de pesquisa para caracterização de retrovírus humanos e diretor do Núcleo de Doenças de vinculação Sanguíneas e Sexuais do Instituto Adolfo Lutz.

Para ele, esta é, “sem dúvida, uma população especialmente importante para testar, porque a chance de transmissão no contato íntimo é muito grande”, justifica. “As situações em que o teste está indicado têm de ser bem restritas porque não há testes disponíveis e essa população, em algumas situações, poderia estar incluída nesta priorização.”

“A gente não consegue entender como testar HIV, sífilis e hepatites, hoje, sem ofertar teste para covid”, diz a artista plástica Adriana Bertini, diretora de projetos do Barong.

“Conversamos com programa estadual de aids, mas não há testes”, afirma Marta. “Procuramos as secretarias municipal e estadual da Saúde.” O Barong foi parabenizado pela iniciativa, obteve algumas respostas evasivas, mas nada de testes. “Adaptamos nossa unidade móvel para testar covid-19; durante as ações distribuímos álcool-gel, máscaras e outros insumos como uma estratégia de redução de danos”, argumenta a presidente da ONG. “A saúde é direito de todes, todas e de todos os cidadãos brasileiros; este direito está sendo violado”, finaliza.

Dica de entrevista

Instituto Cultural Barong

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Fonte: Instituto Cultural Barong